Um ano e meio atrás, fiz aqui um post sobre cinco clássicos que demoraram a chegar na TV brasileira. Retomo a temática, desta vez com outros cinco filmes famosos que também levaram um certo tempo para aparecerem na nossa tevê. A espera variou entre seis e dez anos aproximadamente (tempo que nem era tão longo assim, se comparado a outros filmes que levaram décadas para estrearem na tevê do Brasil).
Na minha infância e adolescência (décadas de 1980 e 1990), a programação especial das emissoras de televisão abertas (principalmente Globo e SBT) era sempre aguardada com grande ansiedade. Normalmente os filmes mais badalados eram exibidos no fim do ano ou no começo, naquele período festivo de férias. Mas não chegava a ser uma regra.
Obviamente isso não existe mais hoje em dia, em que os filmes entram nas plataformas de streaming simultaneamente no mundo todo. Mas lá nas décadas de 1980 e 1990, tínhamos que esperar alguns anos antes de assisti-los na TV. Foi o caso de ET - O extraterrestre, que estreou na tevê brasileira em 31 de dezembro de 1990, oito anos após seu lançamento mundial no cinema. Vamos à listinha:
1) A Fantástica Fábrica de Chocolate (Willy Wonka & the Chocolate Factory)
Lançamento: 30 de junho de 1971
Lançamento nos cinemas brasileiros: 25 de dezembro de 1972
Estreia na tevê brasileira: 26 de agosto de 1978 (Globo)
O musical foi dirigido por Mel Stuart e estrelado por Gene Wilder, no papel de Willy Wonka, e baseado no livro Charlie and the Chocolate Factory, do britânico Roald Dahl, publicado em 1964. É a história de como o menino Charlie Bucket encontra um "Bilhete Dourado" e visita a Fábrica de Chocolates Wonka com outras quatro crianças. O filme tornou-se cult, principalmente devido às sucessivas reprises na televisão. Em 1972, o filme foi indicado ao Oscar de Melhor Trilha Sonora Original e Wilder foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia ou Musical. Um clássico que marcou várias gerações. Em 2005, ganhou um remake, dirigido por Tim Burton e estrelado por Johnny Depp, sem o encanto do original. Exibido em nossas tevês na sessão Primeira Exibição, às 21h15, logo após o capítulo de Dancin’ Days daquela noite.
2) Carrie, a Estranha (Carrie)
Lançamento: 16 de novembro de 1976
Lançamento nos cinemas brasileiros: 8 de agosto 1977
Estreia na tevê brasileira: 25 de julho de 1985 (Bandeirantes)
Clássico absoluto dos filmes de terror, uma das melhores adaptações da obra de Stephen King e um dos filmes mais famosos do diretor Brian De Palma. Revelou Sissy Spacek e foi também a estreia de John Travolta no cinema, em um papel pequeno, porém marcante. A Bandeirantes acertou em cheio ao exibir o filme na tevê brasileira. Talvez a Globo considerasse a violência em Carrie gráfica demais para seus padrões. Como explicou Ângela Regina Cunha na coluna Os filmes de hoje, do Jornal do Brasil de 25 de julho de 1985: "Em 1976, estavam em moda os filmes de terror — O Exorcista tinha apavorado as plateias três anos antes — e De Palma não poupou sangue, sustos, jatos de fogo, gritos e expressão de medo e pavor."
3) Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall)
Lançamento: 20 de abril de 1977
Lançamento nos cinemas brasileiros: 19 de março de 1978
Estreia na tevê brasileira: 3 de maio de 1986 (Globo)
O filme que celebrizou a prolífica carreira do diretor Woody Allen estreou em nossa tevê no Supercine, às 21h25, logo após o capítulo de Selva de Pedra daquela noite. "É o sexto longa na carreira de Allen, e provavelmente o mais autobiográfico de seus filmes. Misturando gags muito engraçadas à crítica mordaz da vida moderna, Allen constrói um filme sofisticado, inteligente e cheio de humor (...)”, explicou Paulo A. Fortes na coluna Filmes da TV, no Jornal do Brasil de 3 de maio de 1986. “Annie Hall ganhou quatro Oscars em 1977: melhor filme, diretor, roteiro e melhor atriz (Diane Keanton).” Foi também uma das maiores bilheterias de Woody Allen, do tempo em que seus filmes faziam enorme sucesso e eram aguardados com grande expectativa.
4) Os Embalos de Sábado à Noite (Saturday Night Fever)
Lançamento: 16 de dezembro de 1977
Lançamento nos cinemas brasileiros: 3 de julho de 1978
Estreia na tevê brasileira: 28 de junho de 1986 (Globo)
Quando o filme estreou em nossa tevê, a moda das discotecas já estava morta e enterrada. Mas isso não afetou em nada o entusiasmo dos telespectadores. Tanto que a primeira exibição do filme na tevê brasileira, às 21h20 no Supercine, ganhou destaque nos cadernos de TV de todos os grandes jornais do país. Vale lembrar que, nos anos 1980, a disco music era fortemente repudiada e renegada. Isso fica patente neste trecho da coluna Filmes da TV, de Paulo A. Fortes, para o Jornal do Brasil de 28 de junho de 1986: "Sobre o filme quase tudo já foi dito. Não é bom, nem ruim. Bem dirigido por John Badham, tem uma história deste tamanhinho, apenas para justificar os números de danças. John Travolta tem inegável carisma, é um bom dançarino e se sai bem no papel do jovem filho de imigrantes. Se você aguenta (ainda) a execrável música dos irmãos Gibb, sempre cantando em falsete, pode vir a se divertir com este filme, muito mais importante do que de boa qualidade: com Os Embalos de Sábado à Noite, criou-se um novo padrão de comportamento jovem que, até os nossos dias, tem muitos adeptos."
5) E.T. O Extraterrestre (E.T. The Extra-Terrestrial)
Lançamento: 10 de junho de 1982
Lançamento nos cinemas brasileiros: 25 de dezembro de 1982
Estreia na tevê brasileira: 31 de dezembro de 1990 (Globo)
"Aos oito anos, E.T. dispensa apresentações". Assim o crítico de cinema Inácio Araújo abriu a coluna Televisão, em matéria na Folha de S. Paulo de 31 de dezembro de 1990. "De seu lançamento, em 1982, para cá, o filme passou com facilidade a barreira dos 300 milhões de espectadores e sua arrecadação chegou a mais de US$ 350 milhões, a maior da história do cinema (sem contar direitos para vídeo e TV)." Araújo continua: "Talvez por isso E.T. tenha um interesse jornalístico relativo ao ser apresentado em televisão; apesar do ineditismo, o pequeno alienígena com ar de monstro e coração enorme tornou-se um personagem familiar, do qual cada um se sente um pouco íntimo." Um presentão que a Globo exibiu na sessão Cinema Especial, logo após o capítulo de Meu Bem, Meu Mal, na noite de réveillon de 1990. A chamada ainda brincava com o nome do filme, anunciando "Um verão ETanto".
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