16 agosto 2021

Elvis Não Morreu (Elvis, 1979)

Telefilmesquecidos #40

Um dos mais marcantes ícones da cultura pop do século 20, Elvis Presley, também conhecido como o Rei do Rock ou, simplesmente, "O Rei", dispensa apresentações. Este telefilme biográfico mostra Elvis como um grande homem, batalhador e obstinado, mas que lutava contra seus próprios demônios. Dentro do artista extremamente talentoso, havia o Elvis atormentado pela insegurança, o Elvis assombrado pela memória de irmão gêmeo, morto ao nascer, o Elvis empenhado em fazer sempre o melhor para sua mãe, a quem amava incondicionalmente. 

O filme começa em 1969, com Elvis (brilhantemente interpretado por Kurt Russell) esperando para subir ao palco, em seu famoso show no International Hotel, em Las Vegas. Muito nervoso por estar fora dos holofotes há algum tempo, o cantor se pergunta como se sairá na apresentação. Começa, então, a pensar em sua vida, e a narrativa nos conduz, em flashback, à jornada que mostra como um jovem garoto de Tupelo, Mississippi, acabou se tornando o rei do rock 'n' roll no mundo.

Kurt Russel no papel de Elvis


Um filme de TV baseado na vida de Elvis pode até soar redundante, se pensarmos que seus fãs já devem saber absolutamente tudo sobre ele. A vida do cantor foi dissecada de todas as formas possíveis desde sua morte prematura em 1977, aos 42 anos. Mas este filme foi lançado em 1979, quando sua morte ainda era um acontecimento relativamente recente. Os detalhes da vida de Elvis Presley, o artista, podem ter sido conhecidos por muitos, mas ainda havia um certo elemento de mistério em relação ao homem Elvis, a figura humana.

O roteirista e produtor Anthony Lawrence faz um ótimo trabalho na escolha dos momentos para focalizar a carreira do artista, enquanto esboça o quadro geral da vida de Elvis. O bom elenco também ajuda muito, além da seleção de canções de Elvis usadas ao longo do filme. Priscilla Presley, viúva de Elvis, foi paga para verificar a precisão do roteiro antes do início das filmagens.

Kurt Russell e Season Hubley

Kurt Russell está impecável no papel principal, assim como Shelley Winters, que interpreta a mãe do cantor (uma das maiores influências de sua vida). Season Hubley se sai muito bem como a jovem Priscilla, esposa de Elvis. (Russell e Season Hubley casaram-se na vida real, em 1979, pouco depois do filme, e ficaram juntos até 1983). Bing Russell, pai de Kurt na vida real, interpreta o pai de Elvis no filme. O elenco de apoio caprichado ainda inclui Ed Begley Jr. e Joe Mantegna, entre outros.

Shelley Winters e Kurt Russell

O longa é importante principalmente por ter sido o primeiro filme a juntar Kurt Russell com o diretor John Carpenter. Os dois repetiriam a parceria de sucesso nos filmes Fuga de Nova York (Escape from New York, 1981), O Enigma de Outro Mundo (The Thing, 1982), Os Aventureiros do Bairro Proibido (Big Trouble in Little China, 1986) e Fuga de Los Angeles (Escape from L.A, 1996).

John Carpenter e Kurt Russell em 2013

Embora Elvis Não Morreu seja um dos mais notáveis filmes biográficos feito para a TV, não chega a acrescentar nada de novo no que diz respeito ao que já é sabido sobre Elvis. Mas Kurt Russell faz o filme valer a pena, mesmo para quem não é fã do rei do rock. Sua atuação é muito convincente, tanto pelos maneirismos e pela voz como pela performance ao dublar as canções icônicas (cantadas, na verdade, pelo cantor country Ronnie McDowell). 

Foi o penúltimo papel de Russell em um telefilme. O último foi Trigais Dourados (Amber Waves, 1980), de Joseph Sargent. Depois, sua carreira no cinema deslanchou e Kurt tornou-se um dos atores mais populares da década de 1980.


Primeira cinebiografia dedicada a Elvis após sua morte, o filme ganhou indicações ao Globo de Ouro de Melhor Filme Feito para a Televisão e a três Primetime Emmy Awards, incluindo Melhor Ator Principal em Minissérie ou Filme para Russell.

Estreou na TV americana em 11 de fevereiro de 1979, pelo canal ABC. A disputa pela audiência foi acirrada. Na mesma noite em que Elvis Não Morreu foi ao ar pela ABC, a CBS exibiu E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) e a NBC colocou no ar Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, 1975). Apesar disso, Elvis superou ambos no ranking dos mais assistidos e foi classificado como o sexto programa mais visto da semana.

Após o sucesso na televisão americana, uma versão reeditada e mais curta de Elvis Não Morreu foi lançada nos cinemas em vários países. (O filme original para a TV tem quase três horas de duração). Foi exibido nos cinemas brasileiros em 1981. Mas o diretor John Carpenter  — que, na época, ainda colhia os louros pelo sucesso de Halloween (1978) — se frustrou com Elvis Não Morreu, acusando os produtores de terem deturpado seu trabalho na montagem.

Aqui no Brasil, foi exibido pela primeira vez na TV em 19 de agosto de 1982, pelo SBT. Aliás, ao longo da década de 1980, Silvio Santos reprisou o filme à exaustão. Na época, o título em português caiu no uso popular  e se tornou uma espécie de bordão ("Elvis não morreu") no Brasil.

08 agosto 2021

Um Debilóide Sem Máscara

Quem viu a carreira de Jim Carrey explodir em meados dos anos 1990 nem imagina que seu primeiro papel foi o de um comediante sem talento. Carrey entrou para a lista dos queridinhos de Hollywood com o enorme sucesso de comédias como Ace Ventura - Um Detetive Diferente (Ace Ventura, 1994), O Máskara (The Mask, 1994) e Débi & Lóide - Dois Idiotas em Apuros (Dumb & Dumber, 1994). 

Mas a estreia do ator e comediante — aos 19 anos — foi em um filme para a TV canadense, Introducing... Janet (“apresentando Janet”), no comecinho dos anos 1980. Com roteiro de Michael Glassbourg e história de Nada Harcourt, o filme, de apenas 48 minutos, foi dirigido por Glen Salzman e Rebecca Yates.

Janet (Adah Glassbourg)

O filme conta a história de Janet Taylor (Adah Glassbourg), uma estudante do ensino médio, em busca de aceitação. Apesar de ótima aluna, ela não se encaixa nos “padrões estéticos” e acha que, para ser aceita, precisa ser a "palhaça" da turma. Esconde-se por trás das piadas que faz sobre seu próprio peso e conquista o riso dos colegas. Somente por meio de sua escrita ela revela seus verdadeiros sentimentos. Janet teme que as pessoas não gostem dela como ela é de verdade. 


Até que, para um trabalho escolar sobre "Por que as pessoas riem", Janet visita um bar onde comediantes de stand-up se apresentam. Lá, conhece o aspirante a humorista Tony Moroni (Jim Carrey). A apresentação de Tony é um fracasso, mas ele quer participar do próximo concurso de comediantes de qualquer jeito. À medida em que o filme avança, os dois vão construindo uma amizade sincera e descobrem muito um sobre o outro, além de conhecerem melhor a si mesmos.

Tony (Jim Carrey) e Janet (Adah Glassbourg)


Janet escreve um novo material para Tony e o orienta para sua apresentação. Tony, por sua vez, tenta ajudar Janet a superar sua falta de autoconfiança. Ele a estimula a ser ela mesma, em vez de fingir para tentar se encaixar em um padrão. Na noite do concurso, Tony simula uma laringite e convence Janet a subir no palco. Após um começo instável, Janet acaba superando seus medos e conquistando o público.

Michael Glassbourg escreveu o roteiro e a personagem Janet para sua irmã Adah Glassbourg. Tanto que o título original do filme é Introducing… Janet. Feito para a emissora de TV canadense CBC (Canadian Broadcasting Corporation),  a produção foi ao ar em setembro de 1981 e obteve alta audiência na época. Mas depois caiu no esquecimento, até que ganhou destaque novamente na década de 1990, quando os filmes de Jim Carrey começaram a fazer sucesso.


Mais de uma década depois, após o término do período de reprises de Introducing… Janet na CBC, o filme foi lançado em vídeo, aproveitando o reconhecimento que Carrey começava a ganhar na época. O título original foi, então, alterado para Rubberface (“Cara de Borracha”, apelido pelo qual Carrey ficou conhecido nos EUA). E o ator, que não é o principal do filme, ganhou total destaque na capa da fita de VHS. 


Aqui no Brasil o filme também foi lançado em VHS, na segunda metade da década de 1990, com o infame título de Um Debilóide Sem Máscara, tentando tirar vantagem do sucesso de O Máskara e Débi & Lóide, protagonizados por Carrey. O ator já havia interpretado pequenos papéis em filmes anteriores, ao longo dos anos 1980, mas ainda não havia caído nas graças (perdão pelo trocadilho) do público antes da estreia de O Máskara

Apesar de não se tratar de uma comédia e nem ter Carrey no papel principal, Um Debilóide Sem Máscara foi empurrado para o mercado brasileiro de vídeo como comédia. A descrição, na contracapa do VHS brasileiro, exagerava descaradamente não só em relação ao filme, mas também sobre Jim Carrey: "Suas caretas e as situações por ele criadas levam os espectadores a momentos simplesmente hilariantes (...) que com certeza irá agradar toda a família". Deve ter enganado muitos incautos.

Detalhe: o filme ganhou lançamento até em DVD, em 2007, nos Estados Unidos.