29 maio 2020

O Segredo de Kate (Kate’s Secret, 1986)


Telefilmesquecidos #19

"Ela vivia num mundo de sonhos, numa fantasia perigosa. O Segredo de Kate, um mistério que poucos conheciam." Assim anunciava a (deliciosamente) apelativa chamada do SBT para este telefilme que marcou época no Brasil. 


Kate (Meredith Baxter Birney) é uma dona de casa de classe média que leva uma vida aparentemente "normal". Esposa dedicada e mãe competente, o tal segredo ao qual o título se refere é que Kate sofre secretamente de bulimia nervosa (transtorno caracterizado pelo desejo incontrolável de ingerir uma quantidade excessiva de alimentos e provocar o vômito logo em seguida, para não ganhar peso).

Mesmo bonita, com uma família saudável e vida conjugal estável, Kate esconde muitas inseguranças. Sempre acha que pode emagrecer um pouco mais (mesmo já sendo esbelta, magra e linda) e sente-se ameaçada por outras mulheres, pois acha que o marido vai preferi-las.


Ao longo da história, vemos como a fachada de vida saudável da personagem esconde uma compulsão que pode ser fatal. Kate — como acontece com as pessoas que sofrem de bulimia — possui uma visão distorcida da sua aparência física e se preocupa excessivamente com seu peso corporal, o que afeta diretamente sua autoestima e suas relações familiares.

Dirigido por Arthur Allan Seidelman, o filme foi uma tentativa de retratar de forma realista a bulimia. Na época, o tema, ainda nebuloso, não era corriqueiro em telefilmes. Meredith Baxter Birney, experiente em televisão, está muito bem como Kate, assim como Ben Masters, também eficaz como o marido "perfeito", bonito e bem-sucedido, mas alheio à doença de sua esposa.





Mais de três décadas depois, pouca coisa mudou, de fato. Os mesmos velhos ideais que levam esses personagens à compulsão só pioraram, com a profusão de pílulas, remédios e produtos de dieta disponíveis hoje em dia e anunciados a todo momento na mídia e nas redes sociais.


O Segredo De Kate estreou na tevê americana em 17 de novembro de 1986, pela NBC. Aqui no Brasil, foi exibido no SBT "pela primeira vez na televisão" (como anunciavam as chamadas de filmes da emissora) em 26 de julho de 1989. Fazia parte do pacote de inéditos daquele ano, adquirido pela emissora de Silvio Santos.



24 maio 2020

A Iniciação de Sarah (The Initiation of Sarah, 1978)

Telefilmesquecidos #18

Há exatos 40 anos este telefilme clássico estreou na tevê brasileira. Exibido pela Rede Globo em 24 de maio de 1980, um sábado, na extinta sessão Primeira Exibição, logo depois da novela das 8 (Água Viva, na época). A Iniciação de Sarah tornou-se um daqueles campeões de reprise na tevê. Quem acompanha este blog sabe que menciono esse telefilme com certa frequência. Tanto que o nome do blog foi tirado de uma icônica fala do filme. O post de hoje é inteiramente dedicado a ele.



Impossível falar de A Iniciação de Sarah sem tocar em Carrie, a Estranha (Carrie), de Brian De Palma. Carrie descortinou um verdadeiro filão desde que estreou no cinema, em 1976. A partir de então, muitos filmes de terror valeram-se do mesmo mote da telecinesia (a habilidade de mover objetos por força paranormal, sem contato físico direto). Só em 1978 foram quatro longas: Jennifer (Jennifer), A Fúria (The Fury), Patrick (Patrick) e O Toque da Medusa (The Medusa Touch). E após o sucesso de Carrie no cinema, a televisão — sempre inclusiva no que diz respeito aos modismos — estava pronta para a combinação explosiva de telecinesia, angústia adolescente e vingança. Naquele mesmo ano de 1978, em 6 de fevereiro, o canal norte-americano ABC apresentou A Iniciação de Sarah.  


O diretor Robert Day, tarimbado na televisão, já tinha em sua lista diversos telefilmes, entre ele House on Greenapple Road (1970), Sortilégio (Ritual of Evil, 1970) e Caçada Mortal (Death Stalk, 1975), além de vários episódios de séries muito populares da época. Apesar de sua inspiração óbvia em Carrie, A Iniciação de Sarah, longe de ser uma cópia desleixada, é dirigido de forma admirável por Day. O roteiro adotou uma tática um pouco diferente do filme de De Palma e situou a personagem-título na faculdade, o que acabou fornecendo uma forte dose de 'empoderamento feminino', termo que ainda não existia naquela época. E Sarah, ao contrário de Carrie, é uma jovem madura, inteligente e consciente do mundo ao seu redor.

Boca Raton News, 6 de fevereiro de 1978

O filme garante o entretenimento do começo ao fim, principalmente devido ao ótimo elenco. Kay Lenz é a tímida Sarah, que vive na sombra da extrovertida irmã Patty (Morgan Brittany). Sarah é adotada e, embora ela e Patty sejam muito amigas e íntimas, ela se sente deslocada, acanhada. Entrar em Alpha Nu Sigma (ANS), a irmandade mais chique e bem conceituada do campus, significaria que as irmãs poderiam ficar juntas. Mas as esnobes e fúteis garotas da ANS, lideradas pela cruel Jenniffer Lawrence (Morgan Fairchild) olham para Sarah com desdém e sarcasmo. Patty, por outro lado, é recebida com entusiasmo por elas.



Sarah se candidata também à Phi Epsilon Delta (PED), a irmandade onde as descoladas, as "esquisitas", as nerds e as fora do circuito moram. O casarão da PED, triste e meio soturno, nem de longe tem o glamour da ANS. Como já era de se esperar, Patty é aceita em três irmandades, incluindo Alpha Nu Sigma. A única que aceitou de Sarah foi Phi Epsilon Delta.

Como caloura de Alpha Nu Sigma, Patty tem que passar por um teste de merecimento. Uma brincadeira cruel, espécie de trote. Jenniffer exige que Patty declare à Sarah, na frente de todos, no meio do campus, sua lealdade à ANS: "Manterei os altos padrões de Alpha Nu Sigma. Não comerei caminhando em público. Não vou me associar com PED — Porcos, Elefantes e Doninhas — em nenhum lugar."



Em inglês é pigs, elephants and dogs (porcos, elefantes e cachorros). Mas, para a dublagem em português na TV, precisavam encontrar um nome de animal começando com a letra d, que justificasse as iniciais PED. A solução foi substituir cachorros por doninhas. Daí a famosa frase "porcos, elefantes e doninhas", em uma das cenas mais memoráveis do filme. 

As garotas da PED são lideradas pela excêntrica Sra. Hunter (Shelly Winters, sempre ótima), que demonstra interesse imediato em Sarah. A Sra. Hunter também é conhecida por se interessar por bruxaria. Aos poucos, tenta atrair Sarah para esse universo, ao perceber que a garota possui habilidades sensoriais ocultas. A velha usa esses poderes para retomar a velha rixa existente entre PED e ANS, e Sarah se torna um joguete na disputa, que envolve vingança e bruxaria.



O filme tem muito a seu favor e, em grande parte, funciona porque os personagens oprimidos são carismáticos e empáticos. Tisa Farrow (irmã caçula de Mia Farrow) interpreta Mouse, uma jovem tão doce, recatada e melancólica que dá vontade de levá-la para casa. E ela faz jus ao apelido: parece mesmo um ratinho assustado. Em uma das melhores cenas, Sarah defende a amiga Mouse da crueldade sádica de Jenniffer Lawrence: "Assim que eu cheguei aqui, conheci você [Jenniffer] e achei bonita. Mas eu estava enganada. Sua única preocupação é ser popular. Todo mundo dá tudo a você! Não faz esforço para nada! Nem para fazer amizade. Não liga para o sentimento das pessoas, nao liga a mínima para nada a não ser sua aparência. Vou te dizer uma coisa, Jenniffer: um dia, talvez, essas garotas estúpidas que riem da sua crueldade vão enxergar você feia como é! E vão odiar você, virar as costas pra você. E não lhe restará nenhuma amiga!"


Atriz de fibra, Kay Lenz foi uma feliz escolha para o papel de Sarah. Embora tenha demonstrado seu talento nas telonas em Interlúdio de Amor (Breezy, 1973) — dirigido por Clint Eastwood — Moving Violation (1976) e A Casa do Espanto (House, 1986), Kay trabalhou principalmente na televisão. Ganhou dois Emmy Awards e várias outras indicações por papéis na TV. Mesmo atraente ela conseguiu, de fato, encarnar o “patinho feio”, o jeito tímido e retraído que muitas jovens têm enquanto tentam se encontrar no ambiente da faculdade. É ela quem consegue, sem planejar, reunir as meninas do PED de uma maneira que ninguém havia sido capaz antes. A personagem possui, de fato, uma força oculta que não depende de telecinesia ou de poderes paranormais. Sua incapacidade de manter seus poderes afastados é o que torna trágico o desenrolar e o consequente desfecho da história.



As duas Morgans do filme (Fairchild e Brittany) estavam igualmente ótimas. E ainda tem a grande Shelley Winters, que sabia, como poucas, interpretar senhoras cruéis e manipuladoras por trás da aparência insuspeita e até dócil. Robert Hays, o impagável piloto atrapalhado de Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu! (Airplane!, 1980), ganhou em A Iniciação de Sarah seu primeiro papel de (certo) destaque, como o namorado de Jennifer Lawrence. (Para informações adicionais sobre Morgan Fairchild, ver o post sobre o telefilme Baseado Numa História Irreal).



No roteiro original, as garotas da irmandade eram transformadas em quadrúpedes. Mas os executivos da ABC relutaram diante da ideia e apontaram que essa e outras sequências envolvendo mais efeitos especiais estavam além dos custos da produção e das limitações de filmagem disponíveis na época.

Não é de se surpreender que o filme ainda tenha boa repercussão hoje — não apenas entre os telespectadores que tiveram a sorte de vê-lo pela primeira vez em sua exibição original, mas também entre os novos iniciados, que continuam a descobri-lo mais de quatro décadas depois. Eu o descobri em 1996, quando o gravei da Sessão Livre, exibida pela Bandeirantes, no começo da tarde. Foi "amor à primeira vista".


A Iniciação de Sarah chegou a ser lançado em vídeo em alguns países, inclusive aqui no Brasil, no final da década de 1980, pela Video Ban. Nos Estados Unidos, é um dos telefilmes mais cultuados dos anos 1970. E há uma razão para isso: a história é atemporal e as atuações ótimas. No geral, dá até para dizer que o filme envelheceu de forma mais do que digna. É claro que o visual pode parecer datado hoje, mas a mensagem de aceitação e a emoção da vingança não envelhecem.


Anúncio da Video Ban: A Iniciação de Sarah estava entre os destaques (revista Set)

Ganhou um remake homônimo em 2006, também para a TV, exibido em 22 de outubro daquele ano pela rede ABC. Apesar da participação de Morgan Fairchild, trata-se de um remake meio fajuto, pois aproveitou apenas pontos do telefilme original, mudando completamente a personalidade dos personagens e a história.

Jornal O Globo, 24 de maio de 1980

Jornal do Brasi, 24 de maio de 1980

Jornal Folha de S. Paulo, 24 de maio de 1980


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A Iniciação de Sarah em outras postagens:



7 anos do blog (05/06/2015)



20 maio 2020

Mensagem para Minha Filha (Message to my Daughter, 1973)

Telefilmesquecidos #17

Miranda Thatcher (Kitty Winn) está passando por uma fase conturbada no fim de sua adolescência. Para piorar, o relacionamento com seu pai John (Martin Sheen) anda tenso. Após Miranda quase morrer em um acidente de carro, o pai decide finalmente entregar à filha uma caixa que sua falecida mãe, Janet (Bonnie Bedelia), pediu que ele lhe desse na hora certa. 


A caixa contém uma série de fitas que a mãe de Miranda fizera aos 21 anos, quando soube que iria morrer antes do crescimento da garota. No intuito de poder dar à filha a proximidade que elas não teriam devido à sua morte prematura, Janet legou as fitas ao marido, para que Miranda tomasse conhecimento depois de crescida.

Confusa, Miranda sai de casa e passa a viajar sem rumo pelos Estados Unidos, enquanto ouve as gravações de sua mãe, que a levam a uma jornada emocional de descobertas, felicidades e tristezas. Ao longo da narrativa, acompanhamos a jovem enquanto ela escuta as fitas e vamos, assim, vendo a verdadeira história da gravidez de Janet em flashback. 




Com reações de surpresa, revolta e, por vezes, comoção, Miranda toma conhecimento da vida de seus pais quando jovens, enquanto eles lidavam com o diagnóstico da doença de Janet e coma necessidade da mãe de deixar algum registro para a filha. Outras revelações importantes também são feitas ao longo do caminho.

Durante da jornada, a sabedoria transmitida pelas fitas ajuda a acalmar as angústias e dificuldades de Miranda e a faz encarar sua vida e sua relação com o pai de forma menos ressentida e mais madura.



Pode-se dizer que Mensagem para Minha Filha é um telefilme à frente de seu tempo, já que, naquela época, esse tipo de história — do pai ou mãe que morreu e deixou um legado gravado ou filmado para o(s) filho(s) — era novidade.

Martin Sheen

Bonnie Bedelia

Kitty Winn

O trio de protagonistas funciona muito bem. Martin Sheen teve uma prolífica carreira na TV nas décadas de 1960 e 1970. Participou de dezenas de seriados e telefilmes antes de se consagrar como um dos mais requisitados atores de Hollywood. Mesmo depois do reconhecimento, continuou sua carreira paralela na TV. Bonnie Bedelia também era figura frequente na TV americana. Kitty Winn, apesar de ter se dedicado muito mais ao teatro do que ao cinema e à TV, era um rosto familiar nos anos 1970. Seu filme mais conhecido é O Exorcista (The Exorcist), no qual atuou ao lado de Ellen Burstyn e Linda Blair. Curiosamente, Mensagem para Minha Filha estreou na TV americana em 12 de dezembro de 1973, pela CBS. Exatamente duas semanas depois, O Exorcista estreou nos cinemas dos EUA, tornando-se fenômeno mundial em pouco tempo.

Dirigido por Robert Michael Lewis, Mensagem para Minha Filha foi muito bem recebido pelos telespectadores americanos. Tanto que a história do telefilme foi vertida para livro, lançado pela Pyramid Books em março de 1975. Aqui no Brasil, o filme foi exibido pela primeira vez em  26 de setembro de 1976, na Globo, tendo ganhado as usuais reprises ao longo das madrugadas da década de 1970.


15 maio 2020

Grito de Morte (Death Scream, 1975)

Telefilmesquecidos #16

Teledrama livremente inspirado em uma história verídica: o estupro e assassinato da jovem Kitty Genovese, ocorrido em 1964, em Nova York. O crime foi testemunhado por quinze de seus vizinhos, que ouviram tudo e nada fizeram para ajudar,  recusando-se a cooperar com a polícia. Todos fecharam suas janelas e portas e fingiram não ouvir nem ver nada, enquanto a jovem era esfaqueada e gritava por socorro.


À frente do caso está o detetive Nick Rodriguez (Raul Julia, ótimo no papel), que faz de tudo para descobrir o assassino. O filme trata justamente das investigações policiais do caso, apesar da relutância das testemunhas, que se omitem para não serem envolvidas.




Na época, o assunto ganhou interesse quando ficou notório que em Nova York, por exemplo, ocorreram muitos casos semelhantes. Aliás, no mundo todo, esse tipo de história, marcada pela apatia pública, acontece até hoje e mexe com o inconsciente coletivo. O enredo de Grito de Morte toma algumas liberdades com os fatos, mas a história ainda choca, mesmo tantas décadas depois.


Além do protagonista Raul Julia, um elenco de figurinhas carimbadas de telefilmes compõem este thriller, em papéis pequenos: Tina Louise, Art Carney, Cloris Leachman e Kate Jackson (a Sabrina de As Panteras), entre outros.  





Estreou nos Estados Unidos pelo canal ABC, em 26 de setembro de 1975. Aqui no Brasil, foi exibido pela primeira vez na Globo, em 5 de dezembro de 1976 (um tempo relativamente curto para a época, ppis os telefilmes americanos demoravam, no mínimo, dois anos para chegarem às tevês brasileiras).

Filmado como Homicide, foi reprisado na TV americana com o título The Woman Who Cried Murder e lançado em VHS nos EUA como Streetkill.



13 maio 2020

Castelos de Areia (Sandcastles, 1972)

Telefilmesquecidos #15

Um dos telefilmes mais peculiares e estranhamente fascinantes. Não há muitos no gênero como Castelos de Areia — o que considero uma coisa boa. O enredo é tão artificial e exagerado que, por alguma razão "telefilmística", acaba funcionando e nos fazendo embarcar na improvável narrativa. 


A história gira em torno de um restaurante de beira de estrada, o Papa Bear. Seu simpático proprietário, Alexis (Herschel Bernardi), torna-se o melhor amigo de Michael (Jan-Michael Vincent), um jovem de aparência angelical, artista, sonhador e sem destino. Alexis o coloca para trabalhar em seu estabelecimento, apesar dos problemas financeiros do empreendimento. 



Michael é encarregado de levar os cheques do restaurante ao banco e retornar com o dinheiro sacado, que pagaria as dívidas do Papa Bear. No entanto, sem nenhum motivo especial, Michael troca o cheque administrativo por dinheiro e foge. Depois, pensa bem, percebe a insensatez de seu ato, arrepende-se e decide voltar para o Papa Bear e devolver o dinheiro, pegando uma carona com um desconhecido. 


Para infelicidade de Michael, o tal sujeito que deu a carona, Frank (Gary Crosby),  sofre um acidente com um carro dirigido por uma jovem e inocente musicista, Jenna (Bonnie Bedelia). Michael é jogado para fora do carro, desacordado, e Frank foge do local. Enquanto Jenna conforta Michael, que agoniza, os dois experimentam o amor à primeira vista. Jenna tem a aparência da garota que sempre surgia nos devaneios românticos de Michael.



Alexis chega ao local logo após o corpo de Michael ser removido pelas autoridades e encontra Jenna perturbada. Sem saber da conexão da jovem com Michael, Alexis a leva para o restaurante, para que a moça se acalme e se recomponha. As circunstâncias deixam Alexis com a impressão de que Michael fugiu com os 20 mil dólares. Mais rocambolesco, impossível. 

Jenna passa a vagar pela praia nas redondezas do Papa Bear, onde conhece Michael — a quem ela não reconhece pelo acidente — e eles passam a ter encontros românticos, quase platônicos. O rapaz costuma ficar ali, fazendo esculturas de areia. Entre elas, grandes castelos e até a mulher de seus sonhos. Michael, então, lentamente se dá conta de que "ressuscitou" temporariamente para consertar as coisas no Papa Bear e reparar seu erro momentâneo.



Ou seja: trata-se de uma história de amor sobrenatural sobre um fantasma que retorna dos mortos para concluir negócios inacabados, por assim dizer. Bonnie Bedelia e Jan-Michael Vincent estão convincentes como o casal que vive um amor verdadeiro, porém impossível, talvez por causa da inocência doce e quase pueril com que desempenham seus papéis (que seriam difíceis de engolir, mas a gente engole porque é um telefilme). Ambos eram rostos jovens e já promissores na TV americana, e emendavam um trabalho no outro. Vincent faleceu ano passado. Bedelia continua na ativa. A atriz tornou-se conhecida nos anos 1980 por interpretar a mulher de Bruce Willis no filme Duro de Matar (Die Hard, 1988) e suas sequências.

Dificilmente teríamos hoje um telefilme tão excessivamente açucarado e sentimental feito Castelos de Areia. Como admirador confesso desse tipo de produção, reconheço que havia uma espécie de autoconsciência escalafobética nesses filmes. Sabemos que são melosos, alguns até canhestros. Mas a ideia é simplesmente aceitar que eles podem nos entreter muito. E aquela seriedade afetada conferia um clima ainda mais divertido. Isso é o que os torna especiais, na minha opinião. 



Dirigido por Ted Post (que dirigiu os ótimos O Bebê e Magnum 44 no ano seguinte), Castelos de Areia caiu na obscuridade, mas ficou marcado por sua técnica de filmagem. Foi o primeiro filme para a TV gravado com o método de videotape de câmera única, processo raramente usado em filmes.

Estreou na TV americana pelo canal CBS, em 17 de outubro de 1972. No Brasil, apareceu na Globo em 6 de novembro de 1975.