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13 dezembro 2024

A primeira exibição do primeiro "Sexta-feira 13" na TV brasileira

Se o clássico do terror Halloween (1978) levou quase 20 anos para chegar à TV brasileira, seu "irmão mais novo", o não menos clássico Sexta-feira 13 (Friday The 13th, 1980), levou quase dez. Bem menos, é verdade, mas ainda assim a espera foi longa.

Anos atrás – mais especificamente em 2012, quando as pessoas ainda liam blogs – fiz um post sobre o filme Sexta-feira 13. Hoje volto ao tema para lembrar sua primeira exibição na TV brasileira.

"Prepare-se: o perigo espera por você! Sexta-feira 13, finalmente liberado para a TV! O longa-metragem que deu origem à mais famosa série de filmes de terror. Sexta-feira 13, próxima segunda, em Tela Quente”, dizia a chamada da Globo.



Foi na segunda-feira, 12 de junho de 1989, às 21h30. Apesar de ser o Dia dos Namorados, na época a data não tinha o apelo tão forte e insistente que tem hoje. De qualquer forma, o dia previsto para a estreia do filme na Globo havia sido, originalmente, 5 de junho (a segunda anterior), como atestou a sinopse do filme na Folha de S. Paulo de 12 de junho de 1989: 

Também no dia da exibição, o jornal O Globo trouxe uma crítica (“Sangue na telinha”) na seção Hoje na TV, escrita por Eduardo Magalhães, na qual ele menciona:

"Apesar de um subproduto medíocre, pode se considerar como um marco da indústria cinematográfica moderna, pois após esse longa os filmes de horror nunca mais foram os mesmos, ou melhor, deixaram de ser apenas um filme para se tornarem seriados intermináveis, dependendo do retorno financeiro alcançado." – O Globo, 12 de junho de 1989


De fato, para o bem ou para o mal, a franquia Sexta-feira 13 tornou-se parte da cultura de massa da década de 1980. Inicialmente era um “fenômeno” norte-americano, mas rapidamente se alastrou pelo mundo.


Vale lembrar que os filmes da série Sexta-feira 13 eram bastante populares e chamativos nas videolocadoras. Curiosamente, o primeiro filme era o mais difícil de achar. Sim, a fita com o começo da saga não era tão popular nas videolocadoras quanto as continuações. Mais um motivo de grande expectativa para aquela primeira exibição na TV brasileira, em 1989. Muita gente aqui no Brasil, apesar de já ter assistido às partes 2, 3, 4, 5, 6 e 7 (disponíveis em VHS no Brasil até então) nunca tinha visto o primeiro filme.

"Sexta-feira 13 foi o primeiro da safra de 1980 a se multiplicar”, explica Magalhães. “Apesar de execrado pela crítica, o filme rendeu tanto dinheiro que sete continuações foram realizadas em oito anos, além de ser transformado em seriado de televisão."

Como acontecia na década de 1980, os filmes que estreavam em nossa TV, ainda mais no chamado horário nobre, eram sempre muito aguardados e atraíam um grande número de telespectadores. 


Àquela altura, meados de 1989, Sexta-feira 13 já era uma franquia consolidado nos quatro cantos do planeta. Aqui no Brasil não era diferente. No entanto, quando o filme estreou em nossos cinemas – primeiro em São Paulo, em dezembro de 1980, e depois no Rio, em março de 1981 – ninguém poderia imaginar que aquele obscuro filmeco de terror viraria o padrão da década.

A crítica na coluna As Estreias da Semana - Cinema, do jornal O Globo de 1º de março de 1981, dizia: “Na linha do terror que volta em cheio ao cinema americano, Sexta-feira 13 promete arrepios e unhas roídas com uma história sinistra passada em colônia de férias reativada depois de 20 anos e que fora palco de acontecimentos sangrentos.”

É curioso ver como os críticos da época descreviam o filme ("conta a história de uma série de assassinatos que acontecem na Colônia de Férias Lago Cristal") como mais uma fita de terror que logo cairia no esquecimento, apesar de alguns méritos:

"O argumento não parece conter grandes novidades. No entanto, ao que tudo indica, são os efeitos especiais que recheiam o lado terrorífico, assim como a música. Deste modo, embora a história seja convencional, seu tratamento de imagem pode não o ser. Os monstros e faces deformadas ficaram a cargo de um especialista, Tom Savini. A direção é de Sean S. Cunningham e o roteiro de Victor Miller. A fotografia é de Barry Abrahams e a montagem de Bill Freda. (...)" – O Globo, 1º de março de 1981

Sexta-feira 13 foi reprisado na Globo em 13 de janeiro de 1995 – que caiu, adivinha? numa sexta-feira 13 – e novamente ganhou destaque nas colunas de filmes na TV dos jornais daquela data.

Filmes na TV - Jornal O Globo (13 de janeiro de 1995)

Revista Programa, Jornal do Brasil (13 de janeiro de 1995)


Para quem é fã do filme, recomendo o livro Sexta-Feira 13: Arquivos de Crystal Lake, de David Grove (DarkSide, 2015), no qual o autor disseca todos os processos de criação, produção e filmagem do primeiro Sexta-feira 13.

11 outubro 2024

1ª vez na TV brasileira: 5 grandes sucessos do cinema apresentados no Supercine

Nas décadas de 1980 e 1990, o Supercine, exibido aos sábados pela Globo, após a novela das 8, era uma das sessões de filmes na TV mais prestigiadas.

Grandes produções do cinema norte-americano chegaram à nossa TV pelo Supercine, que estreou em 1º de janeiro de 1982 já exibindo o arrasa-quarteirão O Destino do Poseidon.

Infelizmente, desde que o streaming se popularizou, ao longo da última década, o Supercine tornou-se mais uma sessão apagada de filmes na TV, sem produções de interesse e sem relevância para o público atual.  

Durante as décadas em que esteve no auge, entretanto, o Supercine era sempre muito aguardado. A partir dos anos 1990, a sessão passou a exibir muitos telefilmes de suspense da TV americana.

Mas o foco desta postagem não são os filmes feitos para a TV e sim produções de sucesso do cinema daquela época. Selecionei cinco — só uma pequena amostra — desses sucessos que balançaram a TV brasileira no Supercine, nos décadas de 1980 e 1990. 



Poltergeist - O Fenômeno (Poltergeist, 1982)

Supercine 4 de janeiro de 1986


Poltergeist foi sucesso comercial, além de ter sido bem recebido pela crítica. Foi também o filme de terror com maior bilheteria de 1982 e um dos melhores do anos 1980 em seu gênero.

Escrito e produzido por Steven Spielberg e dirigido por Tobe Hooper, o longa foi lançado nos EUA em 4 de junho de 1982. Levando-se em conta que naquela época os filmes demoravam a chegar à TV brasileira, Poltergeist chegou relativamente rápido, três anos e meio depois de seu lançamento no cinema.



Grease - Nos Tempos da Brilhantina (Grease, 1978)

Supercine 28 de fevereiro de 1987


Estreia do diretor Randal Kleiser no cinema, com roteiro adaptado do musical homônimo da Broadway. Lançado nos EUA em de junho de 1978. Sucesso de crítica e de bilheteria, foi o musical de maior bilheteria da época, recorde que durou vários anos.

A trilha sonora encerrou 1978 como o segundo álbum mais vendido do ano nos Estados Unidos, atrás apenas da trilha de Saturday Night Fever, do ano anterior.  Quando estreou na TV brasileira, no Supercine, o filme já tinha quase dez anos, mas continuava popular e irresistível.



Taxi Driver – Motorista de Táxi (Taxi Driver, 1976)

Supercine 28 de março de 1987


Estreou nos cinemas em fevereiro de 1976, mas demorou mais de dez anos para chegar à TV brasileira. Dirigido por Martin Scorsese e estrelado por Robert de Niro e Jodie Foster, tornou-se um dos maiores clássicos da década de 1970 e do cinema. 

Teve quatro indicações ao Oscar. Bernard Herrmann assinou a trilha sonora, que acabou sendo a última antes de sua morte, no final de 1975.



Flashdance – Em ritmo de embalo (Flashdance, 1983)

Supercine 22 de agosto de 1987


Um dos filmes que definiram os anos 1980, Flashdance fez parte do novo estilo de musicais que estava em voga naquela década. Em vez de os personagens “cantarem” a história, a música era usada como elemento do filme, pontuando cenas e momentos, numa linguagem que se aproximava dos videoclipes (também em ascensão na época).

A trilha sonora, de enorme sucesso, vendeu feito água. Após sua estreia no Supercine, o filme foi exaustivamente reprisado pela Globo ao longo das décadas seguintes.



O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991)

Supercine 18 de dezembro de 1993


Dirigido por Jonathan Demme e estrelado por Jodie Foster e Anthony Hopkins, tornou-se o quinto filme com maior bilheteria de 1991 em todo o mundo. Mistura de suspense, drama e terror, estreou nos cinemas americanos em fevereiro de 1991 e levou uma penca de Oscars. 

Fez parte do pacote de grandes filmes que a Globo reservava para a programação especial de fim de ano. Para os padrões da época, chegou rápido à nossa TV (em menos de três anos).

05 março 2024

As trilhas “não oficiais” de Anjo Mau e Locomotivas

Ao longo dos anos, já fiz várias postagens sobre “trilhas sonoras não oficiais” de algumas novelas da Globo. (No final deste texto, deixarei os links recapitulando todas).

Na verdade, o que chamo de “trilha não oficial” é basicamente um apanhado de canções que apareceram em novelas, mas que não faziam parte da trilha nacional e nem da internacional.

Entretanto, o que mais chama a atenção é o punhado de músicas instrumentais (as chamadas trilhas incidentais), muito usadas nas novelas das décadas de 1970 e de 1980 (e, em proporção menor, nos anos 1990). Em sua maioria, faixas instrumentais provenientes de filmes estrangeiros.

Quem assiste a novelas antigas percebe isso muito facilmente: o uso, em grande parte das cenas, de música incidental – também conhecida como “música de cena” ou “música de fundo” – pontuando a ação (seja em momentos de tensão, suspense, drama, humor ou romance). 

Esses temas costumavam ser pinçados de trilhas sonoras de filmes estrangeiros. De tão martelados nas novelas, nós aqui os associamos à nossa teledramaturgia e seus respectivos personagens e situações. Na maioria dos casos, o público brasileiro nem desconfiava que aquelas músicas haviam sido “emprestadas” de filmes norte-americanos ou europeus.

Alguns desses filmes tornaram-se conhecidos, outros caíram na obscuridade total. O fato é que naquelas décadas (de 1970 e 1980), a execução de temas de filmes gringos em novelas brasileiras era algo mais ou menos na linha do “terra de ninguém”. Provavelmente a Globo não pagava direitos autorais ou, no máximo, talvez tenha pagado uma ninharia. Naquele tempo as coisas eram, digamos, mais... flexíveis.

Vale lembrar que essas músicas instrumentais apareciam em um filme, por exemplo, mas logo eram esquecidas. Tirando temas clássicos que se tornaram marcantes e inconfundíveis, como os do Super-Homem e do Indiana Jones, por exemplo, a maioria dessas músicas instrumentais vinha de filmes não muito conhecidos ou produções de pouco destaque nos cinemas brasileiros. Dificilmente alguém conheceria aqueles temas ou sequer se lembraria de já tê-los (possivelmente) escutado antes em algum filme.

Mas nossas novelas não usavam só trilhas sonoras de filmes estrangeiros. Em alguns casos, também pegavam temas instrumentais de seriados americanos e de artistas estrangeiros – geralmente de álbuns que não eram muito populares aqui – pouco conhecidos do grande público que via novelas.


Detalhes técnicos: se os personagens ouvem, a trilha tem um nome. Se o público ouve, tem outro nome.


Há uma diferença, no entanto, entre a música utilizada como elemento narrativo na novela (aquela que só o público ouve, a trilha incidental) e a música que está tocando ao fundo, dentro da história, durante uma cena (e os personagens ouvem). Como quando os personagens estão em casa ouvindo o rádio, por exemplo, ou estão em um restaurante, bar ou festa e há música tocando ao fundo naquele ambiente. Essa é a chamada trilha diegética.

Como explica Henrique Castro no site do Instituto de Cinema de São Paulo, em seu artigo O som do cinema: trilhas diegéticas e extra diegéticas: “A música diegética, portanto, é quando a fonte sonora está na cena, não é uma trilha para a audiência, mas uma música, um som, um ruído, ou silêncio, que todos ouvem. Ela aproxima a plateia da ação em tela.”

Nas novelas Dancin’ Days (1978) e Água Viva (1980), por exemplo, a música diegética incluía diversas canções (bem mais que em outras novelas) que não faziam parte das respectivas trilhas sonoras, mas que tocavam em ambientes e festas dentro dessas novelas. Várias músicas que tocavam nas discotecas de Dancin' Days, por exemplo, não faziam parte da trilha sonora oficial da novela.

Sobre trilhas incidentais, temos dois bons exemplos em duas novelas de Cassiano Gabus Mendes da década de 1970: Anjo Mau (1976) e Locomotivas (1977), ambas exibidas pela Rede Globo.


ANJO MAU (1976)

Em Anjo Mau, houve a utilização quase integral da trilha sonora instrumental do thriller político Os Três Dias do Condor (Three Days of the Condor, 1975), de Sydney Pollack. Estrelado por Robert Redford e Faye Dunaway, o longa teve a trilha composta por Dave Grusin (responsável por inúmeras trilhas memoráveis do cinema americano).

O curioso é que a elogiada trilha de Os Três Dias do Condor tornou-se clássica entre apreciadores de cinema nos EUA e recebeu até indicação ao Grammy. A novela Anjo Mau usou e abusou de sua execução na trama — no que foi extremamente bem-sucedida, pois as músicas se mesclaram muito bem aos dramas e maquinações da novela.

Condor! era muito usada nas tramoias de Nice (Susana Vieira) e nas cenas em geral. Yellow Panic estava presente em cenas de tensão ou suspense. Flight Of The Condor e We'll Bring You Home (variação de Condor!) também eram bastante usadas em cenas gerais. Já os momentos românticos de Nice e Rodrigo (José Wilker) eram pontuados por  Goodbye For Kathy (Love Theme From 3 Days Of The Condor). Sua variação, Spies Of A Feather, Flocking Together (Love Theme From 3 Days Of The Condor) também era usada em cenas românticas.

Os Três Dias do Condor estreou nos Estados Unidos em setembro de 1975 e no Brasil em março de 1976. Ou seja: na exibição original da primeira versão de Anjo Mau, o filme estava no auge.

Na novela, uma outra música instrumental também foi bastante utilizada: Defense De Stationner, do italiano Ennio Morricone, o “papa” dos compositores do cinema, autor de incontáveis trilhas de filmes de várias nacionalidades, dos mais baratos e obscuros aos mais famosos e elogiados.

Defense De Stationner foi pescada da trilha sonora de Medo Sobre a Cidade (Peur sur la ville / The Night Caller, 1975), longa francês de Henri Verneuil, estrelado por Jean-Paul Belmondo, na época o galã mais cotado do cinema francês.

Na novela, a música era suave e pontuava cenas cotidianas e amenas. Mas o filme é um thriller repleto de ação, assassinatos e situações rocambolescas. Estreou na França em abril de 1975 e no Brasil em outubro do mesmo ano.


Quanto à trilha diegética de Anjo Mau, Philadelphia Freedom, hit recente de Elton John na época, tocou algumas vezes no rádio de alguns personagens da novela. E algumas outras canções que não faziam parte da trilha oficial apareceram nas cenas que se passavam na boate 706, com participação do então iniciante Djavan.


LOCOMOTIVAS (1977)

Em Locomotivas, três grupos de músicas instrumentais dominaram a trama: o álbum Salongo (1976), do compositor e pianista Ramsey Lewis, mestre americano do jazz; o álbum Futures (1977), do icônico e premiadíssimo compositor americano Burt Bacharach; e a trilha sonora do filme A Última Loucura de Mel Brooks (Silent Movie, 1976), dirigido e estrelado por Mel Brooks.

De Salongo, três faixas eram bastante utilizadas: Rubato, em cenas de emoção; Nicole, muito usada ao longo de toda a novela, principalmente para Fernanda (Lucélia Santos); e Seventh Fold, que pontuava os embates de Fernanda e também cenas de tensão ou discussões.

Da trilha de A Última Loucura de Mel Brooks, um tema utilizado em Locomotivas foi também reaproveitado em Guerra dos Sexos (1983): Burt Reynolds' House, muito usado nas duas novelas. Além disso, outras faixas desse filme foram reutilizadas nos anos 1980, nas novelas Guerra dos Sexos (1983) e Cambalacho (1986), ambas de Silvio de Abreu.

Tanto Burt Reynolds' House quanto suas variações – Sneak Preview e Liza Minnelli and Knights in Armor – eram usadas para o salão da personagem Kiki Blanche (Eva Todor) e cenas leves ou bem-humoradas em geral. Como música de fundo em cenas de bar ou restaurante, Anne Bancroft Entrance & Rio Bomba Bossa foi bastante executada na novela.

A Última Loucura de Mel Brooks estreou nos EUA em junho de 1976. Em dezembro daquele ano, chegou aos cinemas brasileiros e permaneceu até o começo de 1977. Ou seja: quando Locomotivas estreou na nossa TV, o filme de Mel Brooks era bem recente. Com isso, dá pra deduzir  que a Globo praticamente tirava essas faixas ainda quentinhas, "direto do forno", e as utilizava nas novelas. 

Do álbum Futures, três músicas marcavam presença na novela: a faixa-título Futures, em cenas gerais; Another Spring Will Rise, também para cenas gerais; e Time And Tenderness, em cenas gerais ou românticas.

Uma música instrumental bastante presente na novela foi Coeur d’artichaut, do compositor e maestro romeno Vladimir Cosma, que se notabilizou na França e nos Estados Unidos compondo trilhas para vários filmes. A faixa, bastante usada principalmente nas cenas de Netinho (Dennis Carvalho) e dona Margarida (Miriam Pires), foi retirada da trilha sonora do filme francês A Asa ou a Coxa (L'aile ou la cuisse, 1976), de Claude Zidi.

Outro álbum também teve uma faixa bem presente em Locomotivas: Breezin’ (1976), de George Benson. A introdução da faixa-título pontuou várias cenas, enquanto o resto da canção foi usado em cenas variadas, como música de fundo em festas. Lançado em março de 1976, Breezin' não só ficou no topo das paradas na categoria jazz, como também alcançou o primeiro lugar nas paradas pop e R&B e tornou-se um dos álbuns de jazz mais vendidos de todos os tempos. Faixas do mesmo álbum foram usadas depois em Baila Comigo (1981).

Quanto às músicas diegéticas, Locomotivas foi uma verdadeira salada de sucessos: só nas cenas da festa de aniversário de Patrícia (Elizângela) desfilaram vários hits que faziam a cabeça da rapaziada na época: I Wanna Funk With You Tonight, do álbum Knights in White Satin (1976), de Giorgio Moroder; Midnite Lady, do álbum Love in C Minor (1976), de Cerrone; All Night Long, Whisper Softly e Little Children, do álbum Open Sesame (1976), do Kool & The Gang; Everybody's Talking 'Bout Love, do álbum Madhouse (1976), do Silver Convention; Hold Back The Water, do álbum Bachman-Turner Overdrive (1973), de Bachman-Turner Overdrive; Let's Get It Together, do álbum Let's Get It Together (1976), do El Coco; Love Me, do álbum Do It Your Way (1976), do Crown Heights Affair; e Isn't She Lovely, do álbum Songs in the Key of Life (1976), de Stevie Wonder.

A faixa-título do LP Love in C Minor, do Cerrone, também tocou na festa de Patrícia. Mas, neste caso, a canção fazia parte da trilha internacional da novela (embora, no LP da novela, aparecesse drasticamente editada por questões de espaço, coisa muito comum em coletâneas da época).

As irmãs Fernanda (Lucélia Santos) e Renata (Thais de Andrade) costumavam ouvir “discos jovens” na vitrola da sala. Em determinado capítulo, Renata coloca para tocar Nice And Slow, lançada originalmente por Jesse Green no álbum Nice And Slow (1976). A faixa fazia parte da trilha de outra novela daquela época, Duas Vidas (1976-1977), mas em versão de John Blackinsell.

Para finalizar, a trilha diegética de Locomotivas teve algumas canções nacionais utilizadas como música de fundo no bar de Vitor (Isaac Bardavid). Quatro delas faziam parte da trilha nacional da novela Duas Vidas: Menina de Cabelos Longo, de Agepê; Sorte Tem Quem Acredita Nela, de Fernando Mendes; Choro Chorão, de Martinho da Vila; e Cuide-se Bem, de Guilherme Arantes. 

A velha guarda também deu as caras na novela: Última Estrofe Nada Além, cantadas por Orlando Silva, eram canções que Kiki Blanche (Eva Todor) escutava na vitrola de sua sala para recordar seu passado.



O FIM DAS TRILHAS INCIDENTAIS “EMPRESTADAS” DE FILMES GRINGOS


No final dos anos 1980, o bem-desenvolvido padrão de produção das telenovelas da Globo já estava mais que estabelecido. Além das trilhas sonoras das novelas, lançadas pela Som Livre, a empresa criava também suas próprias trilhas incidentais para cada novela, com um time de compositores, maestros e músicos contratados para aquela função: Cesar Camargo Mariano, Leo Gandelman, André Sperling, Ary Sperling, Roger Henri, grupos Nova Era, A Caverna e vários outros (alguns creditados apenas como "Instrumental"). 

Some-se a isso o fato de que, a partir dos anos 1990, questões de direitos de uso e licenciamento já eram monitoradas com maior rigor. Os meios de comunicação haviam evoluído consideravelmente e as  telenovelas da Globo já rodavam o mundo. Não dava mais para usar "impunemente" trilhas de filmes gringos.


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👍 Agradeço a contribuição dos queridos Sebastião Uellington Pereira (@Ti4oNoveleiro) e Daniel Ferreira (@D4N1EL77) na listagem das músicas "não oficiais" usadas nas novelas deste post.

👉 Para informações detalhadas sobre as novelas, acesse o Teledramaturgia, do Nilson Xavier.


📌Para quem quiser ler minhas outras postagens sobre "trilhas não oficiais" de novelas, deixo os links abaixo:

A trilha sonora "não oficial" de Água Viva

Orquestra Água Viva

A trilha sonora não oficial de Dancin' Days

A trilha sonora não oficial de Vale Tudo

Além da trilha oficial de Selva de Pedra (1972)

A trilha não oficial de A Gata Comeu e outras novelas


📌Sobre trilhas sonoras de novelas: 

Novelas pouco memoráveis, trilhas internacionais marcantes

A trilha internacional de Baila Comigo, faixa a faixa