02 abril 2020

O Rapaz da Bolha de Plástico (The Boy in the Plastic Bubble, 1976)


Telefilmesquecidos #14

Apesar desta coluna ser sobre "telefilmes esquecidos", O Rapaz da Bolha de Plástico é uma exceção aqui. Não é exatamente esquecido. Pelo contrário, é um dos telefilmes dos anos 1970 mais lembrados, e um dos favoritos daquela geração. 


Estrelado por John Travolta, em um de seus primeiros papéis importantes, o filme foi livremente baseado nas histórias reais dos meninos David Vetter e Ted DeVita, que nasceram sem o funcionamento do sistema imunológico, razão pela qual precisavam viver permanentemente confinados em tendas estéreis de isolamento. As experiências da vida dos dois garotos foram suprimidas em um único personagem, Tod Lubitch, vivido por John Travolta.

O filme começa com o nascimento de Tod. Seus pais (interpretados por Robert Reed e Diana Hyland), que já haviam perdido um filho, ficam arrasados ​​ao saber que Tod nasceu "sem imunidade alguma". Na prática, se alguém espirrasse perto do garoto, por exemplo, ele poderia cair morto. Por isso não podia, de maneira alguma, ser exposto a germes ou vírus de qualquer espécie. 

Robert Reed e Diana Hyland
Embora Tod passe os primeiros quatro anos de sua vida no hospital, seus pais tomam a decisão de tentar cuidar dele em casa, com o devido isolamento do garoto na "bolha de plástico" montada em seu quarto. Tod se torna uma espécie de celebridade mirim local, atraindo todo tipo de curiosidade.

Doze anos se passam, Tod agora é um adolescente de 17 anos (embora seus pais não pareçam ter envelhecido um dia sequer) e vive totalmente adaptado à sua realidade. Mesmo bonito e de aparência saudável,  o rapaz sonha em, um dia, sair da "bolha" (seu quarto, totalmente adaptado, funciona como uma espécie de incubadora, de forma que o rapaz esteja sempre isolado e jamais tenha contato físico ou toque qualquer pessoa ou objeto externo).



Tudo corria como de costume até Tod descobrir-se apaixonado por sua vizinha Gina (Glynnis O'Connor). No começo a garota não o leva muito a sério, mas aos poucos começa a entrar no mundo do rapaz e a se interessar por ele. Tod, por sua vez, passa a se questionar e a querer viver em sociedade, enquanto espera que a ciência encontre a cura para seu problema. Frustra-se, revolta-se mas não consegue negar o desejo de viver seu amor com Gina. O que fazer? Seguir seu coração e enfrentar a morte prematura (que é quase certa)? Ou continuar em sua bolha protetora para sempre?

Gina (Glynnis O'Connor)

Os dois meninos das histórias reais, nas quais o filme se inspirou, tiveram uma vida curta. David Vetter morreu aos 12 anos de idade. Ted DeVita chegou à adolescência, morrendo aos 18 anos. Por se tratar de uma obra de ficção, O Rapaz da Bolha de Plástico se exime da "obrigação" de definir o destino do personagem, deixando em aberto qualquer resolução real. A ideia é atender aos propósitos dramáticos do filme, e aí se inclui uma generosa dose de açúcar e romance. Além disso, o fator kitsch dos anos 1970 é um bônus. Como resistir ao cabelo meticulosamente escovado de Travolta, mesmo dentro de sua bolha?



Aliás, grande parte do carisma do filme pode ser atribuída ao carisma do próprio Travolta, que já era um jovem galã da TV graças ao seriado Welcome Back, Kotter, que havia estreado no ano anterior e era extremamente popular nos EUA. A carreira de Travolta mostrava-se cada vez mais promissora. 

À esquerda, em Welcome Back, Kotter (1975); à direita em Carrie, a Estranha (1976)
Nos bastidores, um burburinho aguçou o set de filmagens. Travolta e Diana Hyland apaixonaram-se quase que instantaneamente durante as filmagens. O fato de representarem mãe e filho no filme não impediu que os dois oficializassem o namoro. Ele tinha 22 anos e ela 40. No entanto, o relacionamento, apesar de intenso, não foi longe. Diana faleceu no ano seguinte, em decorrência de um câncer de mama, deixando Travolta arrasado. A atriz ganhou um Emmy póstumo por sua atuação no filme. 

Diana Hyland e John Travolta
O Rapaz da Bolha de Plástico foi um enorme sucesso de audiência na TV e recebeu ótimas críticas. Além da série Welcome Back, Kotter, Travolta havia lançado um LP que já aparecia nas paradas e — mais importante — estava estreando um filme no cinema, Carrie, a Estranha, de Brian De Palma, sucesso imediato de bilheteria.

O LP intitulado John Travolta (1976)
Randal Kleiser, que dirigiu O Rapaz da Bolha de Plástico, faria outra parceria com Travolta dois anos depois, ao dirigir Grease - Nos Tempos da Brilhantina, musical que entrou para a história do cinema. Kleiser havia iniciado sua distinta carreira como diretor de televisão. Sua inclinação por histórias "sociais" levou-o a dirigir, também em 1976, o telefilme Retrato de Uma Adolescente Fugitiva (Dawn: Portrait of a Teenage Runaway), que foi ao ar dois meses antes de O Rapaz da Bolha… 


Travolta recebeu aproximadamente 750 mil dólares pelo filme, um valor inimaginável para um ator jovem e em fase inicial, ainda mais em um telefilme. Mas os produtores estavam certos. Apenas um ano após a transmissão de O Rapaz da Bolha de Plástico na TV, Travolta saltaria para o estrelato nas telonas com Os Embalos de Sábado à Noite (Saturday Night Fever) e ganharia o mundo.


A edição brasileira do DVD (com o título rebatizado para O Menino da Bolha de Plástico) é paupérrima, dessas vendidas em bancas, que mais parecem pirataria barata. Mas tem uma compensação: traz a dublagem clássica (para os aficionados).



O filme estreou no canal americano ABC, em 12 de novembro de 1976. Aqui no Brasil, a estreia foi na Globo, na noite de 28 de janeiro de 1978, na extinta sessão Primeira Exibição, logo depois da novela O Astro. O crítico da parte de filmes na TV do Jornal do Brasil escreveu, em tom desdenhoso: "O inédito O Rapaz da Bolha de Plástico talvez interesse aos sentimentais". Na mesma edição do jornal, ainda disse sobre o filme: "Dificilmente será grande coisa, mas pode ser visto." A Folha de S. Paulo foi mais positiva: "Bom argumento em produção despretensiosa, atraente pelo tema."