Telefilmesquecidos #54
O jovem advogado Arthur Kidd (Adrian Rawlins) é designado por seu chefe a viajar até Crythin Grifford, remoto vilarejo da costa inglesa. Lá ele deve cuidar dos trâmites legais para a venda da casa de Alice Drablow, misteriosa e reclusa viúva que faleceu sem deixar herdeiros.
Kidd decide passar alguns dias na casa da viúva recém-falecida, uma mansão isolada conhecida como Eel Marsh. Começa a ser atormentado por barulhos e visões assustadoras. Aos poucos, vai descobrindo que o local esconde segredos sobre uma mulher que assombra a aparentemente pacata cidadezinha.
O roteiro para a TV, de Nigel Kneale, foi adaptado do livro homônimo de Susan Hill, romance sobrenatural publicado originalmente em 1983. Kneale tinha em seu currículo o roteiro de A Face do Demônio (The Witches, 1966), clássico da Hammer com Joan Fontaine. A direção, sólida, é do experiente Herbert Wise, que dirigiu muitas séries e médias-metragens.
Embora a história pareça familiar – o jovem de mente racional, empurrado para situações assustadoras de natureza paranormal, em um lugar onde é tratado como forasteiro – as performances são convincentes. O filme é eficiente em criar uma atmosfera intencionalmente lenta, que se revela pouco a pouco.
O desempenho impecável de Adrian Rawlins (mais conhecido por interpretar o pai de Harry Potter nos filmes da franquia Harry Potter) sustenta a espinha dorsal por trás de A Mulher de Preto. O elenco é todo muito bom, com destaque também para Bernard Hepton no papel de Sam Toovey, um fazendeiro local que se surpreende ao saber que Kidd passará um tempo na mansão da falecida Sra. Drablow.
Feito para a TV britânica (produzido pela Central Television para a rede ITV), o filme foi lançado pela BBC na véspera do Natal de 1989. Foi um sucesso inesperado na TV, embora a autora Susan Hill tenha discordado de algumas pequenas mudanças do roteirista Nigel Kneale. Outra versão, cinematográfica, foi lançada em 2012, com Daniel Radcliffe no papel principal.
Uma disputa pelos direitos de distribuição no Reino Unido entre a Central Television e membros da equipe de produção original do filme (que possuíam uma parte dos direitos) impediram que A Mulher de Preto fosse exibido novamente na televisão após 1994 ou relançado em mídia doméstica após 1991. Os direitos de distribuição tornaram-se ainda mais complicados quando a versão para o cinema, de 2012, entrou em produção.
Foi lançado em VHS no Reino Unido em 1990, pela Futuristic Entertainment. No ano seguinte, foi relançado em VHS pela Video Collection International como exclusivo das lojas WHSmith. Em 2000, houve também um lançamento norte-americano em DVD, pela BFS Entertainment.
No Reino Unido, a Network Distributing conseguiu garantir os direitos de relançar o filme em Blu-Ray e DVD em 2020, para o qual foi restaurado e remasterizado em alta definição.
O remake de 2012 não teve a aclamação esperada, mas a badalação em torno de seu lançamento serviu para que o livro homônimo de Susan Hill — até então inédito no Brasil — fosse lançado aqui, com quase 30 anos de atraso, pela editora Record.
O crítico Rodolfo Lucena confirma em sua coluna, publicada em 24 de fevereiro de 2012 na Folha de S. Paulo: “Tristeza e dor, mais do que medo e assombrações, povoam A Mulher de Preto, romance da britânica Susan Hill que deve ganhar mais visibilidade com a estreia do filme homônimo.”
Crítica de lançamento do livro no Brasil (Folha de S. Paulo, 24/02/2012) |
Curiosamente, Machado de Assis tem um conto também chamado A Mulher de Preto, sem qualquer relação com o filme. Faz parte do primeiro livro de contos de Machado, Histórias Fluminenses, publicado em 1870.
Em 2022, a Obras-Primas do Cinema lançou o filme em DVD no Brasil, pela primeira vez.
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