16 julho 2024

Doce Refém (Sweet Hostage, 1975)

Telefilmesquecidos #73

Leonard Hatch (Martin Sheen) foge de uma instituição para doentes mentais e sequestra Doris Withers (Linda Blair), adolescente que mora em um rancho do interior com seus pais. 


Mas Leonard é um louco atípico ou, digamos, bastante excêntrico. E acaba exercendo sobre Doris uma influência mais positiva, por assim dizer, do que a própria família da garota, respeitando seus limites (para os padrões da década de 1970, claro). Os dois passam a viver em uma cabana isolada no meio do mato.



Ele ensina à jovem uma série de coisas sobre arte, literatura, sentimentos e outras questões existenciais. Aos poucos, ela vai se afeiçoando a ele e os dois desenvolvem uma relação de cumplicidade. Ela não precisa mais ficar presa nem amarrada.


A intenção de Leonard, no entanto, não tem nada a ver (diretamente) com relações sexuais. O que ele pretende é colocar em prática seu desejo de viver em um mundo de fantasia com uma garota que o compreenda e que queira fazer parte desse seu mundo singular. De qualquer forma, um filme sobre um homem de trinta e poucos anos que sequestra uma adolescente seria inconcebível hoje. Ainda mais com a menina tendo uma espécie de síndrome de Estocolmo. Mas o fato é que a história convence.



Os dois acabam apaixonados e vivem em um mundo fantasioso, no qual só existem eles dois, isolados na cabana e vivendo de modo rústico e poético. Mas a cidadezinha está se mexendo para descobrir o paradeiro de Doris. Será que pegarão o casal? Os pais de Doris e os policiais vão deixá-los viver aquele idílio? 


Este drama peculiar feito para a TV marcou época e mistura diálogos e referências rebuscadas com uma dose de sensacionalismo. O elenco é encabeçado pela improvável (mas convincente) dupla Martin Sheen, então com 35 anos, e Linda Blair, com 16 anos e na transição da adolescência para a idade adulta.



A personagem de Linda Blair é uma menina simples do campo, pouco instruída, mas muito esperta e ansiosa para aprender mais sobre o mundo. Não por acaso, é cativada pelo personagem de Martin Sheen e passa a observá-lo com um misto de fascínio e dúvida. Ele, por sua vez, instrui sua “doce refém” com regras gramaticais, leituras de poesia e elogios românticos.

Sheen era ótimo em papéis de caras loucos ou fora da lei e Linda Blair tinha aquela mistura de vulnerabilidade e rebeldia que funcionava bem. Sheen havia feito recentemente o ótimo Terra de Ninguém (Badlands, 1973) e faria depois A Menina do Outro Lado da Rua (Little Girl Who Lives Down the Lane, 1976). Linda havia acabado de estrelar dois telefilmes de grande repercussão: Inocência Ultrajada (Born Innocent, 1974) e Drama de Uma Adolescente (Sarah T. - Portrait of a Teenage Alcoholic, 1975).


Baseado em um romance de Nathaniel Benchley, Welcome to Xanadu, o filme se alterna entre um thriller padrão e uma história de amor (?) pouco convencional. Curiosidade: Nathaniel era pai de Peter Benchley, que na época estreava também como escritor com Tubarão (Jaws), fenômeno literário transposto com sucesso para as telas do cinema, em 1975, por Steven Spielberg.

A direção do veterano Lee Phillips é vibrante, embora a produção não tenha muito como fugir de sua natureza modesta de filme para a TV. Phillips — de Maldição Fatal (The Spell, 1977) — dirigiu vários telefilmes e seriados clássicos da TV americana entre os anos 1960 e 1980.

O filme sofreu algumas críticas por “romantizar” a síndrome de Estocolmo e o sequestro de uma adolescente. Outros argumentaram que o "sequestro" foi uma “salvação” para a personagem de Linda Blair. Doris estaria melhor com o personagem de Martin Sheen do que com seus pais. Apesar de tê-la sequestrado, Leonard fez um esforço para educá-la, orientá-la e ouvi-la, ao contrário de seus pais abrutalhados e amargos, que a sobrecarregavam com o trabalho do rancho.

Estreou na TV americana em 10 de outubro de 1975, na ABC. Posteriormente, foi exibido também nos cinemas em alguns países, inclusive aqui no Brasil, onde estreou em 1979 com o nome de Doce Sequestro.

Mas demorou a chegar à TV brasileira: só em 21 de maio de 1989, quando foi exibido pela primeira vez na Bandeirantes.

No dia da estreia, a coluna de filmes na TV do Jornal do Brasil incluiu em sua sinopse: “Linda Blair — que esta semana já foi vista possuída pelo demo e envolvida com uma bruxa — se vê às voltas com mais uma encrenca. O filme é falado demais, mas a interpretação do subestimado Martin Sheen vale uma olhada.”

O Exorcista havia sido exibido poucos dias antes, em 17 de maio, no SBT, assim como Verão do Medo também havia sido exibido, em 18 de maio, na Globo. Uma coincidência (?) notável: três filmes estrelados por Linda Blair e inéditos na TV brasileira, todos exibidos pela primeira vez naquela semana.

Em 1999, Linda Blair disse à revista Femme Fatales que este era seu filme favorito.

Em 2011 o filme ganhou edição em DVD nos EUA, da Warner Home Video.

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