Telefilmesquecidos #48
Após perder os pais em um acidente, a jovem Julia (Lee Purcell), vinda de outro estado, é acolhida pelos tios Tom (Jeremy Slate) e Leslie Bryant (Carol Lawrence). Sua prima Rachel (Linda Blair), mais ou menos da sua idade, também a recebe de braços abertos.
As duas têm tudo para se tornarem amigas. Mas, embora pareça tímida e recatada no início, Julia gradualmente passa a se apoderar do espaço de Rachel e a seduzir os que a cercam. Rachel, por sua vez, começa a encontrar evidências de que a prima não é aquela figura tão angelical e indefesa como aparenta. Pior: Julia pode ser uma bruxa. Será que alguém vai acreditar em Rachel?
É divertido ver Linda Blair interpretando a "certinha" da história, para variar. A atriz assumiu o papel depois de passar por uma série de problemas pessoais. Com este filme, ela provou suas habilidades de atuação mais uma vez. Interessante notar como a maioria dos melhores trabalhos de Linda pós-Exorcista foi em telefilmes.
A história de Verão do Medo foi tirada do livro Summer of Fear, da escritora norte-americana Lois Duncan, publicado em 1976. Tornou-se best-seller entre o público juvenil na época. Duncan era uma prolífica autora de livros para adolescentes. Vários de seus romances de mistério foram adaptados para a TV e o cinema, como Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado (I Know What You Did Last Summer), publicado originalmente em 1973 e transformado em filme em 1997. No mesmo ano, seu livro Vamos Matar o Professor? (Killing Mr. Griffin, de 1978) virou telefilme, com o título brasileiro O Terror Ronda a Escola.
Explorando o universo da insegurança adolescente, mesclado a um instigante suspense, Duncan lançou as bases para autores como John Saul, autor de sucessos como Suffer the Children (não publicado no Brasil) e Chorai Pelos Estranhos (Cry for the Strangers), este segundo adaptado para telefilme.
O roteiro de Glenn M. Benest e do produtor executivo Max A. Keller foi fiel ao original de Lois Duncan, tanto que a maior parte dos diálogos do filme foi extraída literalmente do livro.
O telefilme recebeu o nome de Stranger in Our House. Ao ser exibido nos cinemas da Europa (como acontecia com alguns telefilmes), o título original do livro, Summer of Fear, foi resgatado. Teve boa bilheteria internacional.
Verão do Medo é curioso por ser uma das raras vezes em que seu diretor, Wes Craven, abre mão do banho de sangue típico do gênero, e uma de suas marcas registradas. Nem seria possível, por se tratar de um filme feito para a TV. Depois de dirigir dois filmes que ganharam notoriedade, Aniversário Macabro (The Last House On the Left, 1972) e Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, 1977), Craven aproveitou a chance de fazer um filme mais mainstream com Verão do Medo, seu primeiro telefilme.
O longa combina três ótimos elementos: uma boa história, Wes Craven e Linda Blair. É a prova de que (apesar de algumas falhas) nem todos os filmes de suspense feitos para TV são ruins. Com uma história que prende a atenção e uma equipe comprometida, o filme é um ótimo entretenimento, apesar de algumas soluções juvenis e ingênuas para os padrões de hoje.
Estreia de Fran Drescher — a inesquecível babá do seriado The Nanny — na TV. Sua primeira aparição no cinema tinha sido no ano anterior, em Os Embalos de Sábado à Noite (Saturday Night Fever, 1977). Em Verão do Medo, ela faz o papel de Carolyn, melhor amiga da personagem de Linda Blair.
A primeira exibição de Verão do Medo na TV americana foi pela NBC, na noite de Halloween, 31 de outubro de 1978. O sucesso de audiência foi tão grande que a rede o reprisou seis meses depois. A CBS então comprou os direitos e o transmitiu mais duas vezes em menos de dois anos.
Na mesma noite, a CBS também apresentou sua estreia para a noite de Halloween, com Cão do Diabo (Devil Dog: The Hound of Hell, 1978). Ambos se tornaram clássicos telefilmes de suspense/terror.
Guia da TV com os anúncio dos dois telefilmes que estreariam naquela noite (31 de outubro de 1978) |
Aqui no Brasil, a estreia na TV demorou 15 anos. A Globo o exibiu pela primeira vez à 1 hora da madrugada de 18 de maio de 1993, no Corujão. A resenha na coluna Filmes da TV, publicada naquele dia pela Folha de S. Paulo, alfinetou: "O filme é feito para a TV e inédito. Se fosse tão bom assim, a Globo não o estrearia numa quinta-feira, neste horário."
Quatro meses depois, a Globo o reprisou, às 4 horas da madrugada, também no Corujão. O jornal O Globo não foi menos desdenhoso na resenha da reprise: "Telefilme de terror diet dirigido pelo especialista Wes Craven antes de seu sucesso A Hora do Pesadelo (1984). Não é lá grande coisa." (O Globo, 11 de setembro de 1993).
Foi relançado em blu-ray em 2017 pela Doppelganger Releasing.
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