04 janeiro 2021

Qualquer semelhança é mera coincidência

Em um post sobre o telefilme Amizades, Segredos e Mentiras (Friendships, Secrets and Lies, 1979), que fiz há quase cinco anos, achei curiosas algumas semelhanças com a telenovela Elas por Elas (1982), de Cassiano Gabus Mendes. (Para entender melhor, leia o post sobre o telefilme).

Cheguei a me questionar se Cassiano havia assistido ao filme na época e, assim, se inspirado em algumas das ideias do longa. Mas, pesquisando novamente sobre o telefilme em questão, cheguei à conclusão de que essa hipótese está fora de cogitação. 


Elas por Elas (1982)

Aqui no Brasil, Amizades, Segredos e Mentiras foi exibido pela primeira vez em 12 de julho de 1982, na Sessão de Gala, da TV Globo. Mas a novela Elas por Elas já havia estreado, no mesmo canal, em 10 de maio do mesmo ano (ou seja, dois meses antes). Cronologicamente, não teria sido possível que Cassiano tivesse se inspirado no filme. Além disso, como explica o site Teledramaturgia:

O autor revelou em entrevista (ao jornal O Globo, publicada em 30/05/1982, TV Pesquisa PUC-Rio) que a ideia para a novela surgiu na casa de Marilena Arambasic, então sogra de seu filho Tato Gabus Mendes: “Estávamos jantando quando ela contou que havia conseguido reunir treze antigas amigas de colégio. Na mesma hora, soube que tinha encontrado o que eu procurava e comecei a amadurecer a ideia.”

Rever Amizades, Segredos e Mentiras é algo que faço com certa frequência. Por isso resolvi voltar ao assunto. Na época de sua primeira exibição na tevê americana, o filme foi fortemente promovido pela NBC como o primeiro telefilme inteiramente interpretado, escrito, produzido e dirigido só por mulheres.



As intenções foram sinceras, talvez como uma tentativa de abertura de mercado, ou forma de permitir às mulheres mais oportunidades no cinema e na televisão (especialmente em telefilmes nos quais pudessem desempenhar papéis mais substanciais, tanto na frente quanto atrás das câmeras).



O filme, além de manter o mistério até o final, tem uma premissa provocativa e interessante e questiona um tema ainda hoje polêmico: o direito ao aborto ou sua condenação. No elenco de atrizes experientes, comprometidas e talentosas, as atuações acabaram, de certa forma, enfraquecidas pela falta de foco na direção confusa, na qual as cineastas novatas — Ann Zane Shanks e Marlena Laird — parecem meio perdidas.

Em uma entrevista, muito tempo depois da estreia do filme, Stella Stevens, que interpretou a personagem Edith, explicou que a razão pela qual duas diretoras são creditadas no filme é porque uma não deu certo e as atrizes acabaram dirigindo as performances umas das outras. Quando a diretora substituta entrou, as atrizes resolveram ignorá-la e continuar dirigindo umas às outras. Sem uma diretora forte no comando, Amizades, Segredos e Mentiras estava destinado ao fracasso. Mesmo assim, alcançou alto índice de audiência na televisão americana (21.6 pontos), na época. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário