Lendo a matéria de Thayz Guimarães na Veja Rio desta semana, sobre o fim das locadoras de vídeo, fui confrontado com o fim de uma era. Não que ainda não soubesse, claro, mas no fundo me recusava a aceitar. A extinção das locadoras é algo que bota uma pedra sobre um hábito que marcou demais minha pré-adolescência até a vida adulta.
Por mais que o VHS tenha dado lugar ao DVD e que este, por sua vez, já seja considerado ultrapassado (o Blu-Ray nem teve tempo de se popularizar por aqui!), tenho dificuldade em desapegar-me da sensação única que era entrar numa videolocadora. Havia a expectativa de encontrar o filme desejado ali. Será que ainda está alugado? Já foi devolvido? Será que já foi lançado?
Em 2008 — quando o VHS já havia sido sepultado, mas o DVD ainda tinha força aqui no Brasil — o filme Rebobine, Por Favor (Be Kind Rewind) prestou uma singela homenagem não só aos cinéfilos como também aos amantes das fitas de vídeo e locadoras.
Uma das coisas que mais me fascinava, ainda criança, era ver aquele monte de possibilidades de "pequenas viagens" à minha disposição. Eu sabia que podia escolher as mais variadas rotas. Passear pelos corredores de uma videolocadora e percorrer as prateleiras com os diferentes gêneros era como visitar vários mundos em um só lugar. Do drama à comédia, do suspense ao terror, do musical ou documentário. Tudo era uma aventura e sempre havia uma descoberta.
Ler as sinopses na contracapa das fitas, se impressionar pelas fotos, ouvir a opinião de um atendente que dava um palpite. Ansiar pela hora de chegar em casa e poder mergulhar naquela história, bem ali na sua frente, na televisão da sala, e ainda poder reviver a sensação boa quando o filme nos conquistava. Era só rebobinar a fita. Ou, no caso do DVD, voltar ao menu e iniciar novamente.
Algumas vezes reencontrávamos clássicos há muito esquecidos, assistidos na televisão em alguma madrugada solitária. Outras vezes íamos atrás de alguma indicação de amigo ou vizinho e nos deparávamos com filmes extremamente divertidos, ou que marcavam uma época de nossa vida. OK, muitas vezes nos deixávamos levar pela capa e quando assistíamos, o filme nem era lá essas coisas.
As facilidades do mundo moderno deixam pouco — ou nenhum — espaço para sonhos ou contemplações. As pessoas não querem mais 'perder tempo' indo até uma locadora de filmes. Elas têm tudo ao alcance do controle remoto, nos pacotes especiais de TV a cabo e na internet. Até mesmo quando se fala 'baixar um filme' hoje, já soa ultrapassado. Não se pode perder tempo nem para baixar filme! O negócio é assistir online, on demand, e depois esquecer. E que venha o próximo. E depois outro.
Podem me chamar de saudosista. Ou de nostálgico. Mas ninguém me tira da cabeça que o prazer tornou-se menos palpável. Os consumidores mais apressados. A tecnologia mais rápida. E a memória que temos dos filmes, cada vez mais curta.
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