11 outubro 2023

Exortação (Black Noon, 1971)

Telefilmesquecidos #62

No século XIX, o pastor John Keyes (Roy Thinnes) e sua esposa Lorna (Lynn Loring) se perdem no deserto. Quase à beira da morte, são socorridos por um trio de moradores de uma cidadezinha próxima: o prefeito Caleb Hobbs (Ray Milland), sua filha Deliverance (Yvette Mimieux), uma garota muda e gentil, e o agregado Joseph (Hank Worden). 

A tal cidadezinha, no entanto, parece ter sido atingida por uma onda de azar. O pastor anterior morreu quando a igreja pegou fogo, a mina de carvão que era a fonte de sustento da cidade foi esvaziada e, para piorar, os moradores são explorados e aterrorizados por um pistoleiro cruel e misterioso (Henry Silva).

Embora o pastor Keyes já tivesse se comprometido a viajar para outra comunidade, acaba sendo persuadido a permanecer na cidade pelo tempo suficiente para fazer o sermão na nova igreja que está sendo construída.


Um dia, durante o sermão, o pastor cura milagrosamente um garoto aleijado e descobre que sua presença trouxe uma maré de sorte para a cidade. Keyes e a esposa Lorna continuam na casa do simpático prefeito Caleb. Lorna, de cama e ainda enfraquecida pelos dias no deserto, tenta se recuperar.


Keyes passa a ter pesadelos horríveis, nos quais é perseguido por um homem coberto de queimaduras e cai nos braços de Deliverance. Lorna também é atormentada por pesadelos, mas não consegue se recuperar o suficiente nem para sair da cama. 

Por que a esposa do pastor continua misteriosamente doente? Quem é o homem estranho que ele vê em seus pesadelos? E o que a enigmática e muda filha do prefeito tem a ver com tudo isso?



À medida que os estranhos pressentimentos passam a se acumular, o pastor começa a desconfiar que a cidade não é o que ele pensava. Ele e a esposa precisam dar o fora dali.

Raríssima incursão de um telefilme na seara do faroeste (ainda que aqui o “velho oeste” sirva apenas de cenário). O gênero, tão popular na década de 1960, não encontrou terreno fértil nas produções para a TV dos anos 1970.



No início daquela década, com a popularização da psicodelia na cultura de massa, os telefilmes traziam histórias com temáticas espirituais, sobrenaturais e esotéricas, muitas delas lidando com efeitos profundos sobre o consciente, alucinações, bruxaria e coisas afins. O faroeste já parecia algo datado.

Roy Thinnes está decente como protagonista, mas Ray Milland não tem muito com o que trabalhar neste telefilme megaobscuro e esquecido (mas bem interessante e com bom elenco).

Thinnes era popular na TV americana e trabalhou em inúmeros seriados e telefilmes dos anos 1960 até os 2000. Só em 1973, esteve em quatro filmes para a TV:  A Prova (The Norliss Tapes, 1973), Escola de Meninas (Satan's School for Girls, 1973), Horror nas Alturas (The Horror at 37,000 Feet, 1973) e Corrida da Morte (Death Race, 1973).

Ray Milland

O veterano Milland, prolífico protagonista de filmes das décadas de 1930 e 1940 — levou o Oscar por Farrapo Humano (The Lost Weekend) em 1945 — tinha acabado de aparecer no grande sucesso Love Story (1970) quando Exortação estreou na TV americana. A partir dos anos 1970, passou a equilibrar papéis ocasionais no cinema com vários trabalhos na TV.

Yvette Mimieux

Yvette Mimieux já era um rostinho bonito nos anos 1960, ainda mocinha, e participou de vários filmes. A partir da década de 1970, encontrou nos telefilmes um formato no qual se deu bem, participando de vários.

Assim como Ray Milland, Gloria Grahame também fez parte da era de ouro de Hollywood e participou de clássicos como A Felicidade Não Se Compra (It's a Wonderful Life, 1946) e Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful, 1952, que lhe rendeu um Oscar). 

Gloria Grahame e Roy Thinnes

Leif Garrett

O elenco também inclui Leif Garrett ainda criança. Poucos anos depois ele se tornaria cantor e ídolo teen dos anos 1970.

O traquejado diretor de TV Bernard L. Kowalski consegue fazer o roteiro — ao estilo do seriado Além da Imaginação (Twilight Zone) — funcionar, apesar do orçamento quase inexistente deste telefilme. Aliás, Kowalski dirigiu toneladas de episódios de diversos seriados de TV ao longo das décadas de 1960, 1970 e 1980. Era experiente no gênero horror, tendo em seu currículo Night of the Blood Beast (1958), O Ataque dos Sanguessugas Gigantes (Attack of the Giant Leeches, 1959) e O Homem-Cobra (Sssssss, 1973), só para citar alguns. 

Lynn Loring

O público impaciente de hoje pode achar o filme um pouco lento, mas o objetivo foi criar uma atmosfera implícita de terror iminente com um orçamento mínimo.

O título em português não poderia ter sido mais infeliz. Exortação (que significa  advertência, aviso, conselho) é uma palavra raramente usada e pouco (ou nada) conhecida do grande público. Logo, o nome em português perdeu completamente o apelo do original Black Noon (“meio-dia preto”). 

Curiosamente, sites como Filmow e imdb (versão em português) listam o filme com o título "Meio-dia Preto", mas ele não foi exibido em nossas tevês com esse nome.

A estreia na TV americana foi em 5 de novembro de 1971, na CBS. No Brasil, foi exibido pela primeira vez em 15 de dezembro de 1972, na TV Tupi. Depois chegou a ser exibido na TV Guanabara e, no começo dos anos 1980, reprisado algumas vezes na Bandeirantes.

O filme está listado no guia Os Filmes de Hoje na TV (1975), de Rubens Ewald Filho. Uma das únicas e raras referências em português ao filme.

Quarenta e cinco anos depois, Andrew Fenady transformou seu roteiro de Black Noon em um romance, lançado em 2016 nos EUA, pela editora Thorndike Press.



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