Telefilmesquecidos #61
Marlene Chambers (Patty Duke), uma adolescente pouco instruída, foge de casa depois que seu implacável pai descobre que ela está grávida. A jovem chega a uma pequena cidade na costa do Golfo do Texas e, andando a esmo, encontra uma casa de férias vazia, na qual passa a viver.
Marlene não sabe ao certo o que fazer, vivendo mecanicamente e se refugiando na ideia de que ela pode, de alguma forma, eliminar o problema de sua gravidez se escondendo do mundo.
Certa noite, outro indivíduo, Charlie Roberts (Al Freeman Jr.), invade a mesma casa. Para horror de Marlene, ele é negro. No entanto, Charlie tem uma maturidade infinitamente maior que Marlene. Ele é um jovem advogado de Nova York que viajou para o Sul para participar de um protesto pelos direitos civis dos negros. Mas acabou perseguido pela polícia após esbarrar em uma situação trágica, quando uma briga com fanáticos brancos fugiu do controle.
Patty Duke |
Al Freeman Jr. |
Assim como Marlene, Charlie não tem muitas opções a não ser se esconder até a poeira baixar. Após a tensão dos primeiros dias, a sagacidade e o refinamento intelectual de Charlie acabam vencendo a resistência e o desprezo de Marlene. Os dois reconhecem, na prática, que podem se beneficiar da ajuda um do outro. E desenvolvem uma improvável relação.
A história lida com a noção de que negros e brancos podem superar suas diferenças se abraçarem suas semelhanças. O filme trata de polaridades sociais e raciais, por meio das figuras dos dois protagonistas, uma futura mãe solteira branca e pouco instruída e um trabalhador negro, intelectualmente refinado e engajado na luta pelos direitos civis.
Uma triste verdade sobre as relações raciais americanas ressalta toda a história. Sabemos que tanto Marlene quanto Charlie infringiram os códigos sociais. Mas não é muito difícil prever que Marlene não seria repreendida pelas autoridades com a mesma dureza que aplicariam a Charlie.
Patty Duke, que ganhou um dos três Emmys deste filme por sua atuação, explora as mesmas profundezas de personagens marginalizados que lhe renderam um Oscar por O Milagre de Anne Sullivan (The Miracle Worker, 1963). Al Freeman Jr. (indicado ao Emmy), por sua vez, matiza sua atuação com uma mistura complexa de diversão, amargura, orgulho e melancolia.
Dirigidos pelo impecável Lamont Johnson, Patty Duke e Al Freeman Jr. pintam um quadro delicado da conexão humana. Nem a gravidez de Marlene nem a situação de Charlie são simplificadas demais, como seria de se esperar de um telefilme.
O diretor Johnson, com extensa carreira na TV e no cinema, ficou conhecido por telefilmes de grande prestígio e sucesso como Um Certo Verão (That Certain Summer, 1972) e A Execução do Soldado Slovik (The Execution of Private Slovik, 1974).
Além de ter batido todos os recordes de audiência na televisão americana na época, é um dos telefilmes mais elogiados pela crítica. Baseou-se na peça homônima de David Westheimer, de grande êxito na Broadway, em 1966. Meu Doce Charlie é o retrato de uma época que parece muito distante, mas que ainda encontra ecos bem presentes no mundo atual.
Meu Doce Charlie estreou na tevê americana em 20 de janeiro de 1970, na NBC. No Brasil, a estreia foi em 28 de abril de 1973, na Globo.
O Globo, 28 de abril de 1973 |
Menos de um mês após sua primeira exibição na TV americana, Meu Doce Charlie teve um breve lançamento nos cinemas dos EUA pela Universal, estreando em Nova York em 11 de fevereiro de 1970. Também foi lançado no cinema em outros países.
A Globo reprisou o filme duas vezes em 1975: em 6 de maio e em 19 de dezembro. Depois o filme desapareceu da TV brasileira e caiu no esquecimento por aqui, embora sempre tenha mantido sua notoriedade nos EUA.
Sinopse da reprise de 19 de dezembro de 1975 (Folha de S. Paulo) |
Praticamente não há informações em português sobre Meu Doce Charlie, o que é uma pena. Um telefilme tão representativo e aclamado pela crítica (coisa rara) poderia ter sido mais reprisado na TV brasileira.
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