Telefilmesquecidos #60
"Tenho uma leve suspeita de que a reunião para vender a ideia de O Aniquilador foi mais ou menos assim: 'Pense que O Fugitivo encontra Invasores de Corpos e The Stepford Wives, com uma pitadinha de O Exterminador do Futuro!' Sim, aposto que foi mais ou menos assim. Se não, deveria, pois é exatamente isso que O Aniquilador é."
Assim o site Dread Central, em postagem de 11 de janeiro de 2008, descreveu o telefilme O Aniquilador, um dos meus grandes favoritos. E procede. Eu já havia citado o filme no post 6 (bons) telefilmes de suspense lançados em vídeo no Brasil. Agora é a vez de O Aniquilador ganhar uma postagem só dele.
A vida do jornalista Richard Armour (Mark Lindsay Chapman) vira de cabeça para baixo quando sua namorada e colega de trabalho, Angela (Catherine Mary Stewart), ganha passagens para o casal curtir férias a dois no Havaí. Ocupado com compromissos de trabalho, Richard não pode acompanhá-la. Ela leva, então, sua amiga e também colega de trabalho Cindy (Lisa Blount).
Catherine Mary Stewart e Mark Lindsay Chapman |
Lisa Blount |
No entanto, durante o voo, o avião desaparece do radar por mais de uma hora e depois reaparece — mais ou menos como na série Manifest: O Mistério do Voo 828 (Manifest, 2018) — como se nada tivesse acontecido. Por mais estranho que tenha sido o ocorrido, ninguém parece ciente de que houve qualquer tipo de problema.
O negócio é que alguma coisa aconteceu sim. E Robert vai percebendo estranhas mudanças no comportamento da namorada Angela, que passa a agir com frieza e a pensar radicalmente diferente de seu habitual.
Durante um fim de semana numa romântica cabana, Robert descobre, da pior forma, que aquela não era exatamente Angela e sim uma espécie de réplica robótica e diabólica.
É difícil falar deste telefilme sem estragar as surpresas, mas o fato é que Robert se vê obrigado a destruir a tal ciborgue maléfica para salvar a própria vida. A partir daí, passa a fugir para provar sua inocência e tentar descobrir o que aconteceu com os passageiros do voo no qual Angela estava. Para isso, conta com a ajuda de Layla (Susan Blakely), que o socorre durante a fuga.
Mark Lindsay Chapman e Susan Blakely |
No meio do filme, um longo videoclipe com imagens variadas, algumas de flashback, outras intrigantes, ao som de Ashes to Ashes, de David Bowie (que, por algum motivo estranho, não é creditado!). O clipe não acrescenta nada à história, o que leva a crer que tenha sido incluído apenas por ser uma moda em alta na era dos videoclipes, que vivia seu auge.
Embora o filme nos deixe com mais perguntas do que respostas, na reta final temos uma ligeira (e superficial) noção da intenção dos supostos robôs e sua “missão”, graças a um personagem que revela que eles são uma categoria de robôs chamada “dinamitados”.
Geoffrey Lewis |
Cada dinamitado é programado individualmente para a pessoa que está substituindo, mas todos respondem a um superior não especificado. Qualquer que seja a força desconhecida por trás desses robôs com cara de humanos, não saberemos. O longa O Aniquilador era, originalmente, o piloto de uma série da NBC que nunca chegou a ser realizada.
O fato é que, com o piloto pronto nas mãos, o jeito foi lançá-lo como telefilme, por mais que a história deixe várias lacunas não preenchidas. Não se sabe por que o projeto da série foi engavetado. A história é boa e prende a atenção. A produção é caprichada e o elenco é bacana. Fica a pergunta: por que a NBC não quis dar continuidade à história?
O interessante é que este telefilme tem, de fato, momentos assustadores. A maquiagem dos robôs (incluindo os olhos que acendem) é bastante eficaz e convincente. Tanto que levou o prêmio Emmy de melhor maquiagem da temporada 1985/86. Os “efeitos especiais”, por assim dizer, são muito bons – o que não era comum em produções para a TV.
O visual anos 1980 altamente carregado, entretanto, fez com que o filme ficasse rapidamente datado. Mas isso não prejudica em nada a trama: há boas doses de suspense, terror e ação.
O protagonista Mark Lindsay Chapman recebeu esse papel como compensação depois de ser escalado como John Lennon no telefilme biográfico John e Yoko: Uma História de Amor (John and Yoko: A Love Story, 1985), produzido pela NBC. Porém, a semelhança entre seu nome e o do assassino de John Lennon, Mark David Chapman, o impediu de interpretar o papel. A viúva de Lennon, Yoko Ono, que participou da produção e inicialmente havia ficado impressionada com o teste do ator, rejeitou-o logo após descobrir que seu nome completo era Mark Lindsay Chapman. No ano seguinte a NBC, então, deu a ele o papel principal em O Aniquilador.
Mark Lindsay Chapman |
O diretor Michael Chapman (sem relação com o ator Mark Lindsay Chapman, apesar do sobrenome) tinha um histórico de respeito. Começou sua carreira no cinema, como operador de câmera e se destacou em O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972), de Francis Ford Coppola, e Tubarão (Jaws, 1975), de Steven Spielberg. Em seguida, tornou-se diretor de fotografia, função na qual se sobressaiu em dezenas de filmes, como Taxi Driver - Motorista de Táxi (Taxi Driver, 1976), Invasores de Corpos (Invasion of the Body Snatchers, 1978), Touro Indomável (Raging Bull, 1980), Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987), O Fugitivo (The Fugitive, 1993), As Duas Faces de um Crime (Primal Fear, 1996) e vários outros.
Michael Chapman |
Para o cinema, dirigiu A Chance (All the Right Moves, 1983), um dos primeiros filmes de Tom Cruise, e colaborou novamente com Martin Scorsese no curta-metragem/videoclipe da canção Bad, de Michael Jackson, em 1987.
O Aniquilador estreou na TV americana em 7 de abril de 1986, na NBC. Aqui no Brasil, foi exibido pela primeira vez em 15 de setembro de 1990, na Globo (Supercine).
Chamada do filme no Supercine (1990) |
Corujão (2009) |
Reprisado algumas vezes pela emissora, atraiu boa audiência. Aliás, foi na reprise do Festival Primavera, em outubro de 1992, que o gravei. Foi a primeira vez que gravei um filme da TV no videocassete.
Na segunda metade da década de 1990 O Aniquilador foi parar no SBT, no Cinema em Casa. Anos depois voltou para a Globo, no Corujão, já em 2009. A versão exibida na TV brasileira (dublada) tem quase 2 minutos de cortes. Em algumas exibições, a sequência do clipe também foi cortada.
O filme foi lançado em VHS em vários países. Aqui no Brasil, a fita saiu pela CIC Video.
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