01 maio 2025

Tormenta (The Victim / Out of Contention, 1972)

Telefilmesquecidos #94

Kate (Elizabeth Montgomery), que vive em São Francisco, telefona para a irmã Susan (Jess Walton), que mora numa casa de campo afastada. Susan, que passa por problemas conjugais, conta à irmã que está deixando o marido e se mudando. Preocupada, Kate resolve dirigir até lá para dar apoio à Susan, apesar de uma tempestade que se aproxima. 

O tempo está pior que o esperado, com direito a tempestade e chuva torrencial. Quando Kate chega ao local, a casa da irmã está (aparentemente) vazia e Susan desapareceu. Sua ausência fica ainda mais intrigante quando Kate encontra o carro da irmã na garagem e suas chaves e carteira em seu quarto.



A Sra. Hawkes (Eileen Heckart), a ríspida governanta, aparece como se nada estivesse errado. Ela não esconde sua hostilidade em relação à Kate.

Com a tempestade cada vez mais forte, Kate vê-se presa na casa, sem conseguir saber onde está a irmã. Àquela altura, Kate já pressente que algo aconteceu à Susan e tenta descobrir o que é.



Ben (George Maharis), o marido de Susan, que supostamente estava em uma viagem de negócios, na verdade perdeu o emprego há um mês e aparece na casa, para surpresa de Kate. Será que ela vai conseguir descobrir que fim levou a irmã?



Tormenta é um telefilme bem simples tanto na configuração da história quanto na execução, o que, neste caso, não é um problema. Embora os elementos que compõem a narrativa sejam hoje bastante batidos, isso não impede que a história envolva o telespectador com uma boa dose de suspense.



O forte do filme é justamente o clima sombrio de tempestade, com direito a muita chuva, raios, trovões e queda de energia elétrica. O final, no entanto, parece apressado e meio confuso, o que pode deixar o telespectador frustrado.

O elenco reduzido se favorece da atuação convincente de Elizabeth Montgomery e sua coadjuvante, a ótima Eileen Heckart. Montgomery, recém-saída do seriado A Feiticeira (Bewitched, 1964-1972), imensamente popular, queria se distanciar da comédia e exercitar suas habilidades de atriz, o que ela provou com sucesso em diversos telefilmes como o elogiado A Lenda de Lizzie Borden (The Legend of Lizzie Borden, 1975).


O diretor Herschel Daugherty, profissional hábil que trabalhou desde os primórdios da TV nos EUA, dirigiu dezenas de séries clássicas como Alfred Hitchcock Apresenta (Alfred Hitchcock Presents, 1955-1962), Jornada nas Estrelas (Star Trek, 1966–1969), O Túnel do Tempo (The Time Tunnel, 1966-1967) e várias outras. Quando dirigiu Tormenta, já era um veterano.  

A estreia na TV americana foi em 14 de novembro de 1972, na ABC. No Brasil, chegou à nossa TV em 4 de dezembro de 1973, na Tupi. Alguns anos depois, foi para a Bandeirantes. Numa dessas reprises, a sinopse do jornal avisava: "Suspense de televisão para os que não exigem demais". (Folha de S. Paulo, 19 de setembro de 1981).

Tormenta, cujo título original em inglês é The Victim, chegou a ser lançado em VHS nos EUA, na década de 1980, com o título alternativo Out of Contention.

Lançado em Blu-ray no mercado norte-americano pela Kino Lorber, em 2021.


24 abril 2025

Morte no Circo (Side Show, 1981)

Telefilmesquecidos #93

O adolescente Nick Pallas (Lance Kerwin) foge de casa e se junta a um circo. Ele quer conquistar seu espaço como marionetista no “sideshow” (título original do filme) da trupe. Demonstrando talento, ele usa seus bonecos para fazer imitações de Jimmy Durante (cantor, comediante e ator norte-americano muito popular nos EUA nas décadas de 1950 e 1960).

A palavra sideshow, em inglês, pode ser traduzida para português como "atração" ou "espetáculo à parte" e também pode se referir a uma atração de circo ou um espetáculo secundário, geralmente exótico.



O ambiente mostra-se um tanto quanto hostil e Nick vai descobrindo, aos poucos, que sua nova vida não é exatamente como ele imaginava. Para piorar, Scholl (Albert Paulsen), o proprietário do circo, é um homem cruel e tirânico que costuma descarregar sua agressividade nos funcionários. 



Quando um menino, que também trabalha no circo, testemunha um assassinato, Nick tropeça nos segredos obscuros dos colegas artistas e luta para se manter fora do caminho do assassino.



Este mais que obscuro telefilme não é, como pode parecer, de terror. Há algum suspense, na reta final, porém a história é mais um drama do que um suspense propriamente.

O universo filme é o dos “freak shows” (algo como um “show de horrores”), nos quais as atrações são pessoas com características físicas incomuns que se apresentam como aberrações. Há a mulher alta, a mulher gorda, a mulher cobra, a mulher tatuada, o engolidor de espadas, o homem sem rosto e um casal de anões.

Conceitualmente, Morte no Circo remete ao clássico Monstros (Freaks, 1932), de Tod Browning. Mas não oferece muitas explicações ao telespectador (o que não é necessariamente ruim). O clima geral é melancólico e sombrio, por vezes bizarro. A impressão é de que algo está para acontecer, mas nunca acontece. Talvez o título apelativo em português crie essa falsa expectativa. Aliás, o título em português do filme Carny (1980) — “O Circo da Morte” — lançado um ano antes e estrelado por Jodie Foster, também não ajuda muito, pois dá a ideia de se tratar de uma história de terror quando na verdade é um drama.


Quem curte terror de verdade nesse ambiente de circo/freak show pode assistir à Pague Para Entrar, Reze Para Sair (The Funhouse, 1981), de Tobe Hooper. Esse universo de freak shows também foi muito bem explorado na série de mistério Carnivale (2003-2005), criada por Daniel Knauf e produzida pela HBO, que infelizmente teve só duas temporadas. Há também Estranhas Mutações (The Mutations, 1974), terror britânico B de Jack Cardiff.

Apesar de irregular, o elenco de Morte no Circo, encabeçado por Lance Kerwin, é interessante. Red Buttons interpreta um apresentador da atração; Connie Stevens, uma trapezista húngara, e Anthony Franciosa, o domador de leões, um dos ex-amantes da trapeziata.



Lance Kerwin, astro-mirim da TV americana no final da década de 1970, costuma ser lembrado pela minissérie A Hora do Vampiro (Salem's Lot, 1979), baseada no livro de Stephen King, e pelo telefilme Quero Salvar uma Vida (The Boy Who Drank Too Much, 1979). Nas décadas seguintes, participou de vários seriados e também de telefilmes como Um Assassino na Família (A Killer in the Family, 1983). Desistiu da carreira de ator em meados da década de 1990, após participar de Epidemia (Outbreak, 1995), de Wolfgang Petersen. Em 2022, no entanto, voltou às telas para participar de The Wind and the Reckoning, de David L. Cunningham. Foi seu último trabalho antes de falecer, em 2023.

Lance Kerwin

Red Buttons, comumente lembrado por A Noite dos Desesperados (They Shoot Horses, Don't They?, 1969) e O Destino do Poseidon (The Poseidon Adventure, 1972) é uma presença marcante (porém subaproveitada) no elenco.

Red Buttons

Connie Stevens era figurinha carimbada nos EUA, desde seus filmes da década de 1950, passando pelas músicas que gravou entre o fim dos anos 1950 e o começo dos 1960, até suas participações em seriados e programas de TV nas décadas seguintes.

Connie Stevens

Anthony Franciosa, outra figurinha fácil na TV e no cinema norte-americanos entre as décadas de 1960 e 1980, também faz uma boa participação, apesar de não muito grande.

Anthony Franciosa

Dirigido pelo ator William Conrad, que durante anos interpretou o detetive Frank Cannon no seriado Cannon (1971-1976). No Brasil, a série foi exibida pelas redes Globo e Record.

William Conrad

Conrad começou a participar de filmes na década de 1940 e seguiu a carreira de ator nas quatro décadas seguintes, durante as quais esteve em inúmeros seriados de TV e telefilmes. Bastante popular na TV norte-americana, Conrad já havia dirigido episódios de seriados clássicos como O Fugitivo (The Fugitive, 1963-1967) e alguns filmes para o cinema, entre o final dos anos 1950 e o fim da década de 1970. 

Morte no Circo, na verdade filmado em 1978, foi seu último trabalho como diretor. Conrad também foi o autor das canções All These Things e Circus Day Parade, apresentadas no filme.



A estreia de Morte no Circo na TV americana foi em 5 de junho de 1981, na NBC. No Brasil, foi exibido pela primeira vez em 1º de maio de 1982, na Globo. Na década de 1990 foi reprisado na Record.

Uma curiosidade que Paulo Perdigão informa em sua coluna Os Filmes da Semana, na edição de 25 de abril de 1982 do jornal O Globo: “Baseando-se em suas próprias lembranças de adolescente (foi apresentador de fantoches num circo, nos anos 1940), o produtor Sid Krofft ofereceu a William Conrad, ator atuando aqui como diretor, material para o telefilme Morte no Circo (Side Show).”

A capa do VHS lançado nos EUA é totalmente enganosa e tenta vender o filme como uma espécie de slasher, o que ele está longe de ser.

Não confundir com a comédia musical Side Show (1931), do diretor Roy Del Ruth.

16 abril 2025

Nas Garras do Destino (In the Custody of Strangers, 1982)

 Telefilmesquecidos #92

O adolescente Danny Caldwell (Emilio Estevez), de 16 anos, é preso por bater em um carro da polícia enquanto dirigia bêbado. A mãe, Sandy (Jane Alexander), quer pagar a fiança e trazê-lo para casa. Mas o pai, Frank (Martin Sheen), acredita na disciplina "à moda antiga" e decide que o filho precisa passar uma noite na prisão para aprender a lição. 

A mensagem narrada antes da abertura avisa: "A cada ano, cerca de 479 mil menores são detidos em 8833 prisões para adultos. Os personagens deste filme são fictícios, mas a história é baseada em fatos reais."

Como Danny é menor de idade, fica em uma cela particular. Isso não impede que um coroa, detido na cela ao lado, o assedie e tente beijá-lo à força. Assustado, Danny bate a cabeça do homem nas barras da cela repetidas vezes. Acusado de crime de agressão, não demora muito para que o rapaz seja sugado pelo sistema prisional.



É uma prisão superlotada e movimentada e Danny é frequentemente deixado em isolamento, para sua segurança e a dos outros prisioneiros. Embora o diretor Caruso (Kenneth McMillan) tenha simpatia por Danny e perceba que ele não é realmente um criminoso perigoso, há um limite para o que ele pode fazer pelo rapaz.



Com a acusação de agressão somada à acusação anterior, o juiz decide que uma detenção adicional é necessária. A demora e uma série de atrasos burocráticos agravam a situação. Sentindo-se abandonado, Danny vai se tornando cada vez mais revoltado, enraivecido e desesperado.



Tudo contribui para o aumento das tensões, tanto por parte de Danny quanto de seus pais. O pai, Frank, está desempregado há 9 meses, depois que a fábrica onde trabalhava fechou. A mãe, Sandy, é a única provedora, o que fere a masculinidade de Frank. E ele se recusa a admitir que cometeu um erro ao deixar o filho passar a noite na prisão. Todos estão sob alguma pressão.



Finalmente, a polícia retira as outras acusações e Danny é solto após 40 dias na prisão. Mas ele já não é mais o mesmo. Na nova casa de seus pais, em Ohio, ele vislumbra um resquício de seu antigo eu. Mas fica claro que seu tempo na prisão continuará a assombrá-lo.



Nas Garras do Destino faz um bom trabalho ao mostrar como a cadeia pode, muitas vezes, transformar alguém que cometeu um delito em um criminoso embrutecido. Existem muitos filmes sobre prisões juvenis; mas são raros os que mostram jovens em prisões para adultos.

Apesar de o pai alegar que estava apenas tentando disciplinar seu filho, o filme demonstra que o que ele realmente queria era que a prisão fizesse seu trabalho de pai. Os resultados são desastrosos.


Emilio Estevez e Martin Sheen

O elenco, acima da média, vale-se da semelhança física óbvia de Martin Sheen e Emilio Estevez (pai e filho na vida real). Além disso, os dois estão ótimos e projetam a mesma raiva e ressentimento em relação ao mundo.

Jane Alexander, que na época já acumulava algumas indicações ao Oscar, também se sai muito bem como a mãe de Danny.

Jane Alexander

Com experiência em telefilmes e cinema, o diretor, Robert Greenwald, faz seu bom trabalho como de costume. Entre seus filmes para a TV estão Retrato de Modelo (Katie: Portrait of a Centerfold, 1978) e Cama Ardente (The Burning Bed, 1984). No cinema, é sempre lembrado por Xanadu (1980).

Robert Greenwald

Curiosidade 1: no começo de Nas Garras do Destino há uma cena que se passa em uma loja de discos. Um cliente está comprando justamente o LP com a trilha sonora de Xanadu. O balconista entrega o disco ao cliente e diz: “Espero que você curta!” ("I hope you enjoy that!"). Na dublagem em português ficou "É um bom disco!"



Curiosidade 2: na mesma cena descrita acima, uma moça (figurante) aparece segurando um LP. Trata-se da coletânea Greatest Hits Of The 50s, lançada pela Exact Records em 1980. (No mesmo estilo das coletâneas que a K-Tel lançava nos anos 1970 e começo dos 1980).



Estreou na TV americana em 26 de maio de 1982, na ABC. No Brasil, foi exibido pela primeira vez em 24 de março de 1984, na Bandeirantes, onde foi bastante reprisado. Na década de 1990, migrou para a Manchete.

O guia Vídeo - O Dicionário dos Melhores Filmes (edição 1995, Nova Cultural) elogia: "Filme de TV com força e denúncia, muito bem interpretado por um afiado elenco, com destaque para Sheen e Estevez, seu filho."

Também lançado em VHS no Brasil, em 1988, pela Globo Vídeo.