23 dezembro 2024

Sessão da Tarde Especial - A última semana de 1989

O ano de 1989 foi, para mim, um dos mais inesquecíveis. Talvez por eu estar, na época, com 10 anos – aquela fase gostosa da infância, na qual já estamos "crescidinhos", mas ainda conservamos a inocência. (Pelo menos acho que era assim no meu tempo).

A TV a cabo ainda não havia chegado ao Brasil. Videocassete era artigo de luxo. As pessoas entravam em consórcios (!) para conseguirem comprar um Semp Toshiba 4 cabeças. (“Quem ainda não tem, já sabe o que está perdendo”, dizia a propaganda na TV).

A tela mais acessível na infância daquela época – e também a que mais nos fascinava – era a da televisão. Seja com desenhos animados, programas infantis, novelas, seriados ou filmes, a TV foi a “babá eletrônica” da minha geração.

E a programação de fim de ano das emissoras era ansiosamente aguardada por nós. Refiro-me aos canais Globo e SBT, basicamente, que eram os mais assistidos. 

Imagina a expectativa para assistir Blade Runner - O Caçador de Androides (Blade Runner, 1982) na televisão! "No futuro, a alta tecnologia será capaz de criar robôs idênticos ao homem", anunciava a chamada. O filme, um dos mais consagrados daquela década, foi exibido pela primeira vez na TV brasileira justamente na noite de 25 de dezembro de 1989, na Tela Quente (Especial), da Globo, logo após o capítulo de Tieta  novela que marcou não só aquele ano de 1989 mas também a história da teledramaturgia brasileira


Também na última semana de dezembro de 1989, a Globo exibiu só filmes inéditos na Sessão da Tarde – um dos meus programas favoritos da época, e um dos mais queridos da década de 1980, com público de todas as idades. 

Entre os dias 25 e 29 de dezembro daquela semana, logo após a reprise de Brega & Chique no Vale a Pena Ver de Novo – com direito a bunda de fora do modelo Vinícius Manne na abertura da novela (sim, os tempos eram bem menos caretas) – o grande barato era assistir aos inéditos da Sessão da Tarde e, se possível, gravar os favoritos. 


Ao longo dos anos, já falei da Sessão da Tarde algumas vezes aqui no blog, mas ela sempre acaba voltando à pauta, seja pela nostalgia ou pela memória afetiva.

Vamos aos filmes daquela Sessão da Tarde Especial da última semana de 1989:


O Cristal Encantado (The Dark Crystal, 1982)

Segunda, 25/12/1989

Fantasia dirigida por Jim Henson – responsável por Labirinto  (Labyrinth, 1986), além dos programas Vila Sésamo (Sesame Street), Os Muppets (The Muppets) e outros – e por Frank Oz que atraiu crianças e adultos nos anos 1980.

Como explicou a sinopse publicada na sessão Filmes de Hoje na TV, do jornal O Globo daquele dia, o filme reuniu "as mais modernas conquistas eletrônicas e recursos avançados de criação de bonecos animados e marionetes".

Mil anos atrás, depois que um cristal mágico se partiu, seus mestres UrSkeks se partiram em duas raças: os maléficos Skeksis e os amáveis Místicos. Segundo uma profecia, somente um Gelfling, uma das raças mais gentis de elfos, pode restaurar a luz do Cristal e a paz no planeta.

Bastante elogiado pela crítica norte-americana, foi uma das mais bem-sucedidas produções do gênero em sua época (rendeu 23,5 milhões de dólares só no mercado norte-americano).


Guerreiros de Fogo (Red Sonja, 1985)

Terça, 26/12/1989



A guerreira de cabelos de fogo Red Sonja (Brigitte Nielsen) busca vingar o assassinato de sua família e livrar seu reino do domínio tirânico da curel Rainha Gedren (Sandahl Bergman).

Esta aventura fantástica rodada na Itália pelo produtor Dino De Laurentis foi dirigida por Richard Fleischer, conhecido por seu trabalho em 20.000 Léguas Submarinas (20,000 Leagues Under the Sea, 1954), Viagem Fantástica (Fantastic Voyage, 1966), No Mundo de 2020 (Soylent Green, 1973) e Conan, o Destruidor (Conan the Destroyer, 1984).

Apesar de Arnold Schwarzenegger estar em alta na época, após o sucesso de Conan, o Bárbaro (Conan the Barbarian, 1982) e O Exterminador do Futuro (The Terminator, 1984), aqui ele não é o protagonista.

Como descreveu a sinopse do filme no Jornal do Brasil daquela data, trata-se de "versão para o cinema das aventuras da personagem de quadrinhos Sonja, uma espécie de Conan de saias curtas, também criada pelo escritor Robert E. Howard". A sinopse concluía: "Todo o talento deste filme repousa nos decotes e pernas de fora de Brigitte Nielsen, aquela que trocou Sylvester Stallone pela secretária."


O Regresso do Corcel Negro (The Black Stallion Returns, 1983)

Quarta, 27/12/1989

Aventura que dá seguimento a O Corcel Negro (The Black Stallion, 1979), produzido por Francis Ford Coppola. Esta continuação, também produzida por Coppola, é compreensível mesmo para quem não viu o filme anterior. 

O adolescente Alec Ramsay (Kelly Reno) vai até o Saara atrás dos malfeitores que raptaram seu cavalo, um puro-sangue negro, tornado célebre no primeiro filme (baseado no livro homônimo de Walter Farley, publicado em 1941, que se tornou clássico da literatura infanto-juvenil).

O Regresso do Corcel Negro segue a bem-sucedida linha de “filme para toda a família", recheado de cenas emocionantes, que envolvem pela beleza das imagens, fotografadas por Carlo di Palma, e pela música de Georges Delerue.

Este foi o primeiro e único longa dirigido por Robert Dalva, que no filme anterior havia atuado como montador.


Quando as Metralhadoras Cospem (Bugsy Malone, 1976)

Quinta, 28/12/1989

Divertidíssima sátira aos filmes de gângster interpretada por crianças de 8 a 13 anos, em forma de musical. A ideia deu muito certo e o filme fez sucesso ao misturar gangsterismo clássico e comédia pastelão.

Na nova York dos anos 1920, duas quadrilhas entram em confronto. De um lado, o chefão Fat Sam (John Cassisi). Do outro, o refinado Dandy Dan (Martin Lev). A luta é acirrada pela descoberta de uma nova arma, uma metralhadora cuspidora de creme.

No meio disso, o malandro Bugsy Malone (Scott Baio) tenta ajudar uma aspirante a cantora enquanto lida com os assédios amorosos de outra cantora, Tallulah (Jodie Foster).

Alan Parker, que fazia sua estreia na direção, ganhou inesperada notoriedade com este filme.Dirigiu, depois, vários sucessos como O Expresso da Meia-Noite (Midnight Express, 1978), Fama (Fame, 1980), Pink Floyd - The Wall (1982), Coração Satânico (Angel Heart, 1987), Mississipi em Chamas (Mississippi Burning, 1988) e Evita (1996), entre outros.


Almôndegas (Meatballs, 1979)

Sexta, 29/12/1989

Primeiro filme estrelado por Bill Murray, na época recém-saído do programa humorístico de TV Saturday Night Live. Como descreveu a sinopse do Jornal do Brasil daquela data, a história é bem simples: "Desastrado guia (Murray) de um acampamento de verão se mete em encrencas todo o tempo, mas acaba ajudando um garoto problemático (Makepeace)".

O personagem de Murray é o excêntrico instrutor do Acampamento North Star, que faz seus deveres ao contrário, como explica André Forastieri em matéria da Folha de S. Paulo do dia em que o filme estreou na Sessão da Tarde: "Em vez de ensinar os caretas valores do ‘American way of life’, prega que a vagabundagem e o sexo livre são os únicos nirvanas possíveis nos EUA". Algo totalmente impensável para uma comédia juvenil dos “politicamente corretos” tempos atuais.

O grande – e totalmente inesperado – sucesso do filme gerou uma série de imitações ao longo da década de 1980. Apesar disso, o filme não costuma ser muito lembrado hoje em dia. No dia de exibição na Sessão da Tarde, a sinopse do Jornal do Brasil classificou o longa como “comédia boboca” e concluiu: "A mistura de pieguice e humor negro não é lá muito funcional.”

O diretor, Ivan Reitman, responsável por Os Caça-Fantasmas (Ghostbusters, 1984), Irmãos Gêmeos (Twins, 1988), Um Tira no Jardim de Infância (Kindergarten Cop, 1990) e vários outros, fez uma parceria de sucesso com Bill Murray que se repetiu em outros filmes. 

13 dezembro 2024

A primeira exibição do primeiro "Sexta-feira 13" na TV brasileira

Se o clássico do terror Halloween (1978) levou quase 20 anos para chegar à TV brasileira, seu "irmão mais novo", o não menos clássico Sexta-feira 13 (Friday The 13th, 1980), levou quase dez. Bem menos, é verdade, mas ainda assim a espera foi longa.

Anos atrás – mais especificamente em 2012, quando as pessoas ainda liam blogs – fiz um post sobre o filme Sexta-feira 13. Hoje volto ao tema para lembrar sua primeira exibição na TV brasileira.

"Prepare-se: o perigo espera por você! Sexta-feira 13, finalmente liberado para a TV! O longa-metragem que deu origem à mais famosa série de filmes de terror. Sexta-feira 13, próxima segunda, em Tela Quente”, dizia a chamada da Globo.



Foi na segunda-feira, 12 de junho de 1989, às 21h30. Apesar de ser o Dia dos Namorados, na época a data não tinha o apelo tão forte e insistente que tem hoje. De qualquer forma, o dia previsto para a estreia do filme na Globo havia sido, originalmente, 5 de junho (a segunda anterior), como atestou a sinopse do filme na Folha de S. Paulo de 12 de junho de 1989: 

Também no dia da exibição, o jornal O Globo trouxe uma crítica (“Sangue na telinha”) na seção Hoje na TV, escrita por Eduardo Magalhães, na qual ele menciona:

"Apesar de um subproduto medíocre, pode se considerar como um marco da indústria cinematográfica moderna, pois após esse longa os filmes de horror nunca mais foram os mesmos, ou melhor, deixaram de ser apenas um filme para se tornarem seriados intermináveis, dependendo do retorno financeiro alcançado." – O Globo, 12 de junho de 1989


De fato, para o bem ou para o mal, a franquia Sexta-feira 13 tornou-se parte da cultura de massa da década de 1980. Inicialmente era um “fenômeno” norte-americano, mas rapidamente se alastrou pelo mundo.


Vale lembrar que os filmes da série Sexta-feira 13 eram bastante populares e chamativos nas videolocadoras. Curiosamente, o primeiro filme era o mais difícil de achar. Sim, a fita com o começo da saga não era tão popular nas videolocadoras quanto as continuações. Mais um motivo de grande expectativa para aquela primeira exibição na TV brasileira, em 1989. Muita gente aqui no Brasil, apesar de já ter assistido às partes 2, 3, 4, 5, 6 e 7 (disponíveis em VHS no Brasil até então) nunca tinha visto o primeiro filme.

"Sexta-feira 13 foi o primeiro da safra de 1980 a se multiplicar”, explica Magalhães. “Apesar de execrado pela crítica, o filme rendeu tanto dinheiro que sete continuações foram realizadas em oito anos, além de ser transformado em seriado de televisão."

Como acontecia na década de 1980, os filmes que estreavam em nossa TV, ainda mais no chamado horário nobre, eram sempre muito aguardados e atraíam um grande número de telespectadores. 


Àquela altura, meados de 1989, Sexta-feira 13 já era uma franquia consolidado nos quatro cantos do planeta. Aqui no Brasil não era diferente. No entanto, quando o filme estreou em nossos cinemas – primeiro em São Paulo, em dezembro de 1980, e depois no Rio, em março de 1981 – ninguém poderia imaginar que aquele obscuro filmeco de terror viraria o padrão da década.

A crítica na coluna As Estreias da Semana - Cinema, do jornal O Globo de 1º de março de 1981, dizia: “Na linha do terror que volta em cheio ao cinema americano, Sexta-feira 13 promete arrepios e unhas roídas com uma história sinistra passada em colônia de férias reativada depois de 20 anos e que fora palco de acontecimentos sangrentos.”

É curioso ver como os críticos da época descreviam o filme ("conta a história de uma série de assassinatos que acontecem na Colônia de Férias Lago Cristal") como mais uma fita de terror que logo cairia no esquecimento, apesar de alguns méritos:

"O argumento não parece conter grandes novidades. No entanto, ao que tudo indica, são os efeitos especiais que recheiam o lado terrorífico, assim como a música. Deste modo, embora a história seja convencional, seu tratamento de imagem pode não o ser. Os monstros e faces deformadas ficaram a cargo de um especialista, Tom Savini. A direção é de Sean S. Cunningham e o roteiro de Victor Miller. A fotografia é de Barry Abrahams e a montagem de Bill Freda. (...)" – O Globo, 1º de março de 1981

Sexta-feira 13 foi reprisado na Globo em 13 de janeiro de 1995 – que caiu, adivinha? numa sexta-feira 13 – e novamente ganhou destaque nas colunas de filmes na TV dos jornais daquela data.

Filmes na TV - Jornal O Globo (13 de janeiro de 1995)

Revista Programa, Jornal do Brasil (13 de janeiro de 1995)


Para quem é fã do filme, recomendo o livro Sexta-Feira 13: Arquivos de Crystal Lake, de David Grove (DarkSide, 2015), no qual o autor disseca todos os processos de criação, produção e filmagem do primeiro Sexta-feira 13.

09 dezembro 2024

Romance de Natal (A Christmas Romance, 1994)

Telefilmesquecidos #83

Julia (Olivia Newton-John) é viúva e mãe de duas meninas, Deenie (Chloe Lattanzi) e Emily Rose (Stephanie Sawyer). Ela luta para se manter e sustentar as filhas, mas a situação se complica financeiramente poucos dias antes do Natal.

Para piorar, Brian Harding (Gregory Harrison), vice-presidente de um banco, vai até a casa de Julia para cobrar a hipoteca do imóvel e avisar que a propriedade será tomada pelo banco. Sem condições de pagar, Julia e as filhas perderão a casa.



Brian vai embora após dar o aviso. Mas, em meio a uma tempestade de neve, seu carro cai em uma vala. Ferido, ele não tem como prosseguir a viagem. Julia o socorre e o leva para sua casa, apesar da arrogância de Brian.



Os quatro se veem juntos e presos na casa isolada. Enquanto esperam a tempestade passar, Brian vai conhecendo melhor a família e a rotina de Julia, e começa a mudar de ideia. Um improvável romance surge entre os dois, alimentado pela atmosfera natalina.



Escrito por Darrah Cloud e baseado no livro A Christmas Romance (1991), de Maggie Davis (assinando Maggie Daniels), o telefilme foi rodado em locações em Vancouver, no Canadá.

Filmes natalinos para a TV eram programas garantidos nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Os equivalentes hoje seriam os filmes de Natal que pipocam na Netflix e em outras plataformas, embora não tenham o apelo dos antigos telefilmes e nem os elencos carismáticos.


Chloe Lattanzi

Romance de Natal é estrelado por Olivia Newton-John, protagonista inesquecível de Grease (1978) e Xanadu (1980), que dispensa apresentações. Chloe Lattanzi, filha de Olivia na vida real, faz aqui o papel de sua filha.



O par romântico de Olivia no filme, Gregory Harrison, tem extensa carreira tanto no cinema quanto na TV. Figurinha fácil em telefilmes, estreou em Trilogia do Terror (Trilogy of Terror, 1975) e protagonizou Clube para Mulheres (For Ladies Only, 1981), entre vários outros. Gregory voltou a atuar com Olivia dois anos depois em A Última Festa (It's My Party, 1996).


Embora não seja especialmente marcante, Romance de Natal obteve alta audiência na TV americana, na época de seu lançamento. É um telefilme fofo que cumpre seu papel de contar uma história com espírito natalino. O carisma de Olivia é o ponto forte, assim como a química entre ela e Gregory Harrison.

O diretor Sheldon Larry dirigiu várias séries e filmes para a TV entre as décadas de 1980 e 2000.

A canção The Way of Love, cantada por Olivia na abertura e no encerramento do filme, foi retirada de seu álbum Gaia: One Woman's Journey (1994), lançado naquele ano, alguns meses antes da estreia do telefilme.

A estreia na TV americana foi em 18 de dezembro de 1994, na CBS. Aqui no Brasil, estreou em 25 de dezembro de 1997, na Record.

Chamada de estreia na Record

Ganhou edição em DVD nos EUA, em 2011, pela Echo Bridge Home Entertainment.