07 janeiro 2023

Mais 5 filmes que demoraram a dar as caras na nossa TV

Continuando a lista da postagem anterior (esse assunto renderia muitas delas), selecionei mais cinco filmes que demoraram a estrear na tevê brasileira. Novamente, vários deles eram reservados para as programações de fim de ano das emissoras. No entanto, alguns desses clássicos perdiam um pouco do encanto na TV, como observou Paulo Fortes, em sua coluna Os Filmes da TV, no Jornal do Brasil de 12 de setembro de 1985:

"Bons filmes de cinema não são, necessariamente, bons filmes quando passados na televisão. Principalmente quando foram feitos para explorar ao máximo as características dos telões das salas de projeção (com o uso de grandes planos gerais, poucos closes etc...). Eles perdem muito da sua força, quando transportados para as parcas polegadas da telinha de TV. Um dos gêneros mais prejudicados por este fato é o dos filmes de catástrofe, de monstros gigantes, que seguram aviões na mão e derrubam edifícios com uma cabeçada. Talvez por isso, muita gente tenha se decepcionado com o King Kong que passou na TV, segunda-feira passada: o supergorila parecia um macaco comum, e as pessoas se assemelhavam a formiguinhas."

Apesar disso, a expectativa dos telespectadores não era abalada. Os tão aguardados sucessos do cinema, ao serem exibidos pela primeira vez na nossa tevê, levantavam – e muito –  a audiência dos canais. No caso, os cinco filmes desta lista estrearam na tevê brasileira pela Rede Globo. O que mais demorou foi Branca de Neve e os Sete Anões (1937), que levou inacreditáveis 73 anos para chegar à nossa TV!



1) Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs)

Lançamento: 21 de dezembro de 1937

Estreia na tevê brasileira: 25 de dezembro de 2010 (Globo)

Um dos filmes mais importantes na história da animação, foi o primeiro longa-metragem animado da história e o primeiro a ser feito totalmente em cores no mundo. Foi também o primeiro longa a ter um álbum de trilha sonora lançado. O clássico encantou e continua encantando gerações pelo mundo todo.

Foi relançado nos cinemas mais sete vezes (em 1952, 1958, 1967, 1975, 1983, 1987 e 1993). Em 1994, saiu em VHS pela primeira vez, como parte da Walt Disney Masterpiece Collection. 

Em 2001, saiu a versão em DVD. E em 2010 chegou, finalmente, à tevê brasileira, depois de 73 anos! Como informa o site da Rede Globo com a programação daquele dia: "Todo o universo de Branca de Neve e Os Sete Anões está na Sessão de Sábado do dia 25 de dezembro, a partir das 14h40, logo após o Estrelas, na Rede Globo, com o filme homônimo da Disney, lançado em 1937."




2) Lassie - A Força do Coração (Lassie Come Home

Lançamento: dezembro de 1943

Estreia na tevê brasileira: 27 de maio de 1974 (Globo)

Também exibido na Sessão da Tarde, TV Globo, no dia 30 de dezembro de 1985

Quem não conhece o collie mais famoso do mundo? Lassie, na verdade, era macho e seu nome verdadeiro era Pal. O cão, que pertencia ao instrutor Rudd Weatherrwax, foi o primeiro a interpretar o papel da heroína Lassie.

O filme, que estreou em 1943, foi dirigido por Fred M. Wilcox a partir de um roteiro de Hugo Butler, baseado no romance A Volta de Lassie  (Lassie Come-Home), de Eric Knight, publicado em 1940. Foi o primeiro de uma série de sete filmes da MGM estrelados por "Lassie".

O longa, uma história tocante sobre o vínculo profundo entre o menino Joe e sua cachorra Lassie, contou com Roddy McDowall, ainda pré-adolescente, e Elizabeth Taylor, ainda criança, em seu segundo papel no cinema.

Foram 31 anos até o filme chegar à tevê brasileira. E foi na Sessão da Tarde, da Globo, em 27 de maio de 1974. Na época, a Sessão da Tarde – que havia estreado em março daquele ano na programação da emissora – tinha apenas dois meses.

A Coragem de Lassie (Courage of Lassie, 1946), continuação do filme, também foi exibido na Sessão da Tarde quatro dias após o primeiro filme, e também era inédito na tevê brasileira.





3) Janela Indiscreta (Rear Window)

Lançamento: 5 de agosto de 1954

Estreia na tevê brasileira: 15 de agosto de 1988 (Globo)

Considerado por muitos cinéfilos, críticos e estudiosos um dos melhores do mestre Hitchcock e um dos maiores filmes já feitos. Recebeu quatro indicações ao Oscar. Esse clássico de Hitchcock (e da história do cinema) levou 34 anos para chegar à nossa tevê. A Globo o exibiu pela primeira vez na Tela Quente, logo após o capítulo de Vale Tudo daquela noite. (Certamente o mordomo Eugênio não perdeu essa estreia).

Hoje parece até brincadeira, mas houve um tempo em que a Tela Quente apresentava filmes tão grandiosos quanto Janela Indiscreta. Infelizmente esse tempo já vai (muito) longe.

Rogério Durst, na matéria “Obra-prima do grande voyeur'', para a coluna Televisão, do Jornal do Brasil, 15 de agosto de 1988, disse: "Rear Window é cinema puro. Aí está o único problema da apresentação de hoje. Concebido como enorme janela, o filme perde muito na pequena escotilha televisiva. A começar pela entrada em cena de Grace Kelly, que Hitchcock fotografa sempre de forma melíflua. Os maiores, mais belos e louros segundos do cinema americano não cabem numa fresta de umas poucas polegadas."



Jornal do Brasil, 15 de agosto de 1988


4) O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby)

Lançamento: 12 de junho de 1968

Estreia na tevê brasileira: 12 de setembro de 1985 (Globo)

Escrito e dirigido por Roman Polanski, baseado no romance homônimo de Ira Levin, de 1967. É considerado um dos maiores filmes de terror de todos os tempos, foi aclamado mundialmente. Indicado a muitos prêmios, incluindo várias indicações ao Globo de Ouro e duas ao Oscar, levou o de Melhor Atriz Coadjuvante (Ruth Gordon) e o Globo de Ouro na mesma categoria.

No dia em que o longa estreou na Globo, 17 anos depois de seu lançamento nos cinemas, Paulo Fortes, na coluna Os Filmes da TV (Jornal do Brasil, 12 de setembro de 1985), explicou: “Nos filmes onde o terror e o suspense estão mais dentro das pessoas, em seus rostos, nos ambientes fechados onde vivem, o impacto e a tensão pouco sofrem com a transposição para a telinha. Isto é uma das explicações do porquê, nos anos 50 e 60, quando o cinema foi seriamente abalado pela TV, tantos foram os filmes de terror psicológico. É o caso de O Bebê de Rosemary (TV Globo, 21h20), primeiro filme americano de Roman Polanski, feito em 1968. Usando sabiamente seu estilo, desenvolvido nos primeiros filmes que fez, ainda na Europa, Polanski dosa humor e suspense, sonho e realidade, tecendo um fino fio de tensão que enreda o espectador sem descanso até o fim da fita.”





5) O Destino do Poseidon (The Poseidon Adventure)

10 anos depois do lançamento

Lançamento: 13 de dezembro de 1972

Estreia na tevê brasileira: 1º de janeiro de 1982 (Globo)

O longa originou a onda de filmes-catástrofe que aflorou na década de 1970 e viveu seu auge naquela época. Um dos mais populares e famosos exemplares desse gênero que invadiu Hollywood, capitaneado pelo produtor Irwin Allen (o mesmo de Inferno na Torre e tantos outros). 

Quando o filme estreou na rede de televisão ABC, em 27 de outubro de 1974, sua audiência foi de 62%, tornando-se o sexto filme com maior audiência a ir ao ar naquele canal. Aqui no Brasil, entretanto, o público teve que esperar dez anos para ver O Destino do Poseidon na TV.

“Prenúncio de uma guerra de audiência entre as duas maiores emissoras ou simplesmente um presente de Natal, de consumo efêmero, o fato é que a programação de fim de ano melhorou sensivelmente”, como publicou a coluna A Próxima Semana, do Jornal do Brasil de 27 de dezembro de 1981. “Na sexta, o encerramento se dá com (...) um dos mais excitantes espetáculos-catástrofe do cinema, O Destino do Poseidon, com bons efeitos especiais e uma Shelley Winters rotunda, mas sempre boa atriz.”

Fernando Morgado, na coluna Filmes na TV (Folha de S. Paulo, 1º de janeiro de 1982) também elogiou a escolha: “Um movimentado começo de ano no cinema da televisão, com uma gorda programação de 14 filmes, três deles inéditos. O melhor dos passatempos, apesar das catástrofes, é O Destino do Poseidon (Globo, 21h10).”