24 dezembro 2023

Noite de Natal (Silent Night, Lonely Night, 1969)

Telefilmesquecidos #67

Durante o feriado de Natal, de passagem por uma cidadezinha universitária da Nova Inglaterra, John (Lloyd Bridges) e Katherine (Shirley Jones) se conhecem e desenvolvem um breve e marcante romance. Ele está lá para visitar a esposa, doente mental internada na cidade, e ela está lá visitando o filho, estudante, após descobrir a infidelidade do marido.

A solidão e o desespero logo une os dois completos desconhecidos, de início muito cerimoniosos, mas que aos poucos, apesar do curto espaço de tempo, compartilham os próprios dramas pessoais e se envolvem romanticamente.

Telefilme baseado na peça do dramaturgo Robert Anderson, que estreou na Broadway, no final de 1959. A peça, estrelada por Henry Fonda e Barbara Bel Geddes, teve 124 apresentações. Nesta adaptação para a TV, produzida pela Universal Television, Lloyd Bridges e Shirley Jones desempenham muito bem os papéis principais, apesar do ritmo lento mais característico do teatro.



Jeff Bridges, novinho e ainda desconhecido, faz uma ponta em uma cena de flashback, representando a versão jovem do personagem de Lloyd Bridges (seu pai na vida real). Os coadjuvantes incluem a ótima Cloris Leachman, além de Lynn Carlin e Carrie Snodgress.

Dirigido por Daniel Petrie, que tem no extenso currículo filmes como O Sol Tornará a Brilhar (A Raisin in the Sun, 1961), O Ídolo Caído (The Idol, 1966), Verão de Ilusões (Lifeguard, 1976), Ressurreição (Resurrection, 1980), Cocoon 2 - O Regresso (Cocoon: The Return, 1988) e O Rochedo de Gibraltar (Rocket Gibraltar, 1988).

Petrie começou a trabalhar como diretor de TV na década de 1950. Ganhou notoriedade ao dirigir O Sol Tornará a Brilhar para o cinema, em 1961. Também dirigiu episódios de séries de TV e vários telefilmes como Um Assassino na Cidade (Mousey, 1974), Sybil (Sybil, 1976) e Esculpindo Minha Vida (The Dollmaker, 1984).



Trata-se de um tipo de adaptação que não teria espaço hoje na TV, pelo clima intimista e excessivamente lento para os dias atuais. Mas não deixa de ser interessante e sensível, pois conservou na TV uma parte da melancolia e da elegância que a peça original tinha (e que não é muito comum em telefilmes). 


Estreou na TV americana em 16 de dezembro de 1969, na NBC. A estreia no Brasil foi em 24 de dezembro de 1975, na Bandeirantes.

Foi reprisado algumas vezes, mas, há tempos, permanece completamente esquecido. Mas foi lançado em VHS nos EUA, no final dos anos 1980.


05 dezembro 2023

Assassinato no Voo 502 (Murder on Flight 502, 1975)

 Telefilmesquecidos #66

Um voo comercial sai de Nova York com destino à Europa. Mas um bilhete ameaçador é encontrado na sala de espera do aeroporto. Deixado por um louco anônimo, o bilhete avisa que haverá assassinatos naquele voo, o 502.

Seria apenas uma farsa? Ao que tudo indica, não. O piloto e o departamento de segurança do aeroporto precisam descobrir quem é a figura ameaçadora. Pistas falsas e o final surpreendente estão garantidos.

Para encher o tempo e despistar os telespectadores, os diferentes dramas dos personagens vão sendo expostos ao longo do filme. Quase todos podem ser a pessoa por trás da ameaça.



O elenco recheado de estrelas da época é bom: Ralph Bellamy como um médico que se torna alvo porque não conseguiu salvar um paciente; Polly Bergen como uma autora de livros policiais saboreando a proximidade de um homicídio real; Danny Bonaduce como um garoto espertinho propenso a pregar peças; Sonny Bono como um cantor e compositor ansioso por um retorno depois de anos fora dos holofotes; Lorenzo Lamas como um criminoso internacional com medo de pagar por seus crimes passados; Farrah Fawcett-Majors, com seu indefectível cabelão, como aeromoça; Brooke Adams como a outra aeromoça, Robert Stack como o tipo de piloto que ele próprio iria satirizar alguns anos depois em Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu! (Airplane!, 1980); e assim por diante.



Inspirado pelo sucesso e popularidade do filme Aeroporto (Airport, 1970) e suas várias sequências e imitações ao longo daquela década. Visto hoje, o filme oferece um espetáculo kitsch de atores famosos e semifamosos reunidos numa trama que pode ser considerada ingênua e até banal. No entanto, não dá pra negar: o filme é um deleite para os apreciadores de telefilmes com fórmulas bem típicas da década de 1970.



Produzido pela mais prolífica dupla dinâmica de produtores da TV americana daquela década – Leonard Goldberg e Aaron Spelling – Assassinato no Voo 502 foi concebido como um drama de suspense. Mas… foi considerado uma caricatura de si mesmo, com vários de seus momentos dramáticos sendo satirizados alguns anos depois no impagável Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu! (Airplane!, 1980).

Aliás, essa premissa padrão de pegar o assassino alimentou inúmeros episódios de seriados de TV de Spelling, alternando vários melodramas (hoje risíveis) enquanto os espectadores tentam adivinhar a identidade do vilão.



Além de ter produzido séries icônicas como As Panteras (Charlie’s Angels), Starsky & Hutch, A Ilha da Fantasia (Fantasy Island), Casal 20 (Hart to Hart), Barrados no Baile (Beverly Hills, 90210) e várias outras, Aaron Spelling também produziu dúzias de telefilmes. A maioria permanece hoje relegada à obscuridade, após as várias reprises nas décadas de 1970, 1980 e 1990.

Farrah Fawcett estava em um momento decisivo em sua carreira. Já havia ficado conhecida pelo famoso pôster com o maiô vermelho e o penteado característico, mas ainda não havia sido escalada para seu papel de destaque em As Panteras (Charlie's Angels), o que aconteceu pouco depois deste telefilme.

Aliás, além de Farrah, mais três dos atores desta produção da dupla Spelling-Goldberg também apareceram na primeira temporada de As Panteras no ano seguinte: Fernando Lamas, Hugh O'Brian e Theodore Bikel.

Colegas de elenco no filme, Walter Pidgeon e Bob Harks haviam participado, três anos antes, de outro “filme de avião”. E apesar de não ter relação alguma com Assassinato no Voo 502, o outro filme ganhou aqui o título Vôo 502 em Perigo (Skyjacked, 1972), lançado nos cinemas.

O diretor, George McCowan, dirigiu vários episódios de séries policiais nas décadas de 1970 e 1980, além de telefilmes e alguns filmes para o cinema, entre eles, o infame A Invasão das Rãs (Frogs, 1972).

Kevin Thomas, do jornal Los Angeles Times (21 de novembro de 1975), chamou o filme de “filho mal gerado de Aeroporto, que nunca chega a decolar, ofuscado por diálogos banais e caracterizações clichês.”

Os críticos atacaram os “efeitos especiais”, os cenários e a desqualificação do filme e seu baixo orçamento. Mesmo assim, o filme contrariou as críticas negativas ao ser colocado no Top 10 dos programas mais assistidos na semana de 21 de novembro de 1975.

Estreou na TV americana em 21 de novembro de 1975, na ABC. Aqui no Brasil, chegou em 13 de outubro de 1976, sendo exibido pela primeira vez na Bandeirantes.

Na seção de filmes na TV, o Caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo de 13 de outubro de 1976, destacou: "A estreia do telefilme Assassinato no Voo 502, no horário das 21 horas, deverá monopolizar a atenção dos espectadores habituados ao suspense de TV.”

Ao longo dos anos 1980, foi bastante reprisado e passou por vários canais até ir parar na Globo, já no comecinho da década de 1990, até desaparecer de vez.

17 novembro 2023

O Sistema (The Glass House, 1972)

 Telefilmesquecidos #65

O professor universitário Jonathon Paige (Alan Alda) mata acidentalmente um homem durante uma discussão e acaba condenado por homicídio culposo. Ele e o jovem traficante de maconha Allan Campbell (Kristoffer Tabori) entram na prisão no mesmo dia em que o veterano idealista Brian Courtland (Clu Gulager) inicia seu novo cargo como guarda penitenciário. 

Os três personagens atuam como catalisadores dos acontecimentos que se seguem dentro do presídio. Os dois novos presos logo descobrem que a prisão é administrada por gangues prisionais, enquanto o novo guarda constata a corrupção dos guardas e do diretor.


Alan Alda

Kristoffer Tabori

Paige fica encarregado de trabalhar na farmácia. Hugo Slocum (Vic Morrow), o preso durão que ninguém ousa enfrentar, pressiona Paige a vender drogas para sua gangue. Paige se recusa a colaborar e ganha o respeito de Lennox (Billy Dee Williams), um prisioneiro negro e politizado que planeja reformar o sistema na marra.

Clu Gulager


Vic Morrow)

À medida que a história se desenvolve, fica claro que a prisão — assim como o mundo lá fora — funciona segundo um "sistema". Há acomodação, honestidade, cinismo, violência, cumplicidade, proteção, perseguição e todos os fatores que compõem a sociedade.

Para um telefilme de questão social do início dos anos 1970, O Sistema tem uma reputação impressionante: baseia-se em argumento coescrito pelo romancista Truman Capote, com roteiro de Tracy Keenan Wynn que combina habilmente várias personalidades fortes.

Billy Dee Williams


O Sistema também pertence ao seleto grupo dos telefilmes que foram “promovidos” às telas do cinema. Foi exibido nos cinemas brasileiros em 1974.

O filme se vale das ótimas atuações e da atmosfera. Aliás, o fato de ter sido filmado em uma prisão de verdade, com prisioneiros entre os figurantes, conferiu ainda mais realismo.  

O elenco está excelente. Alan Alda e seu personagem inicialmente indecifrável, perdido nos próprios pensamentos; Vic Morrow vivendo um assassino brutal e arrogante; Kristoffer Tabori como o rapaz ingênuo e despreparado para a vida na prisão; Billy Dee Williams em papel complexo, parte pacifista, parte revolucionário; e Clu Gulager, interpretando o novo guarda que parece ter alguma moral e que pode ou não se manifestar contra a corrupção no sistema prisional.



Dirigido de forma contida por Tom Gries, O Sistema se distancia muito da fórmula típica dos filmes feitos para a TV da época. Gries ficou conhecido por trabalhos como ...E o Bravo Ficou Só (Will Penny, 1967), A Mulher que Desejei (Fools, 1970) e O Assassinato de Sharon Tate (Helter Skelter, 1976). Também dirigiu inúmeros seriados desde os primórdios da TV, na década de 1950, até os anos 1970. Ratos do Deserto (The Rat Patrol, 1966-68) foi um deles.

Gries ganhou o Primetime Emmy Award de Melhor Direção de Série, Filme ou Especial Dramático em 1972 por este telefilme. O Sistema também ganhou o Golden Shell no Festival Internacional de Cinema de San Sebastián de 1972 e foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme para Televisão.

As questões com as quais o filme lida podem parecer clichês hoje, por causa dos inúmeros outros filmes e séries de prisão que surgiram desde então. Mas O Sistema tem o mérito de ser o pioneiro. E mesmo se tratando de um telefilme, a versão sem cortes de O Sistema traz o começo de uma cena de estupro coletivo.

A estreia na TV americana foi em 4 de fevereiro de 1972, na CBS. Na TV brasileira, foi exibido pela primeira vez em 4 de junho de 1980, na Bandeirantes. (Mas já havia sido exibido em nossos cinemas em 1974).

Jairo Ferreira, na coluna Filmes na TV, destacou: "O Sistema (canal 13) domina o horário das 21 horas, penetrando no sombrio universo dos presidiários." (Folha de S. Paulo, 4 de junho de 1980). A sinopse elogiava: "Excelente drama sobre a vida nos presídios, visto como ‘casa de vidro’ no filme, segundo o título original."

Numa das ocasiões em que foi reprisado, a sinopse do jornal explicava: "Pela violência da exposição, algumas cenas foram sujeitas a cortes de censura." (O Globo, 17 de abril de 1982).

Quando O Sistema foi para a Globo, exibido no Domingo maior, em 1987

Hugo Gomes, por sua vez, disse na coluna Os Filmes de Hoje (Jornal do Brasil, 17 de abril de 1982): "The Glass House revela as mazelas de uma grande penitenciária e sua contundência agride ainda mais por ser um quadro comum às prisões de todo o mundo." 

Na década de 1980, foi lançado em VHS em vários países, inclusive aqui no Brasil. Também na mesma década, O Sistema foi bastante reprisado, passando depois para a Globo. Faz tempo que sumiu da TV e permanece pouco lembrado hoje em dia. Mas continua absurdamente atual.

VHS brasileiro

VHS americano

Nos EUA, foi lançado em DVD em 2000 e em Blu-ray em 2018.