Telefilmesquecidos #43
O bebê de Charles Lindbergh (Cliff De Young) e sua esposa, Anne Morrow Lindbergh (Sian Barbara Allen) desaparece do berço. Um bilhete pedindo um resgate de 50 mil dólares é encontrado no local. Rapidamente, o crime atrai uma multidão de curiosos e o apetite voraz da imprensa. Começa, então, um verdadeiro circo – formado pela imprensa, pelo público e pela polícia – que duraria anos.
O dinheiro do resgate é pago por meio do Dr. Condon (Joseph Cotten), que atuou como intermediário na negociação. "John", um dos supostos sequestradores, pega o dinheiro e some, não sem antes alegar que o bebê estava vivo. No entanto, as instruções dadas a Condon e Lindbergh eram falsas e a criança continuou desaparecida. Dois meses após o sequestro, o corpo do bebê, com o crânio esmagado, é encontrado em decomposição no bosque perto da casa dos Lindbergh.
Joseph Cotten |
Sem pistas, o detetive Jim Finn (Tony Roberts) e o psiquiatra Dr. Schonfeld (Joseph Stern), conseguem rastrear parte do dinheiro do resgate, que leva ao imigrante alemão Bruno Richard Hauptmann (Anthony Hopkins). Quando 14 mil dólares do dinheiro do resgate foram encontrados em sua casa, junto com as tábuas do assoalho que combinavam precisamente com as da escada rudimentar usada no sequestro, Bruno foi preso, julgado e condenado por assassinato, pagando com a própria vida. Mas ficou no ar um incômodo clima de algo não resolvido.
Anthony Hopkins |
Como acontece com quase todas as biografias adaptadas por Hollywood ou mesmo para a TV, é preciso dar certo desconto. O Caso Lindbergh não é um documentário e sim um telefilme, isto é, entretenimento. Por esta razão, algumas coisas foram omitidas ou alteradas na história. É uma espécie de convenção aceita nesse gênero de adaptações biográficas, o que pode incomodar alguns críticos e historiadores.
O filme retrata o casal Lindbergh como extremamente controlado e confiante para uma situação tão delicada e perigosa. Para o público, pode ficar difícil se sensibilizar com tanto autocontrole do casal diante do sequestro de seu único bebê. Talvez isso tenha imprimido certa frieza à narrativa, ao não agarrar o espectador pelo lado emocional logo no início.
Cliff De Young e Sian Barbara Allen |
Deixar em aberto o que aconteceu com o bebê também pode ter sido um descuido do roteiro. Como determinar a culpa ou a inocência de Bruno? Sob a ótica deste telefilme, o telespectador tem certeza de que Bruno é um monstro: frio, insensível, dissimulado e, portanto, culpado.
Esforço de direção de Buzz Kulik, profissional experiente nesse tipo de produção, cujo trabalho na TV — que inclui os ótimos Glória e Derrota (Brian's Song, 1971), Um Hóspede Muito Estranho (Crawlspace, 1972) e Vítima do Medo (Bad Ronald, 1974) — superou suas poucas incursões no cinema.
Cliff De Young |
O elenco não deixa a desejar. A semelhança física com Charles Lindbergh foi um ponto positivo para Cliff De Young, ator versátil de teatro e cinema que ficou muito popular na TV americana, em uma penca de séries e telefilmes. No papel de sua esposa, Sian Barbara Allen, de Um Grito de Terror (Scream, Pretty Peggy, 1973), com seu eterno olhar assustado e indefeso.
Anthony Hopkins |
Anthony Hopkins no papel de Bruno dispensa comentários. Mas vale lembrar que, naquele ponto de sua carreira (meados da década de 1970), ele ainda não havia alcançado o prestígio e o reconhecimento internacional como um dos grandes atores de sua geração. Dividindo-se entre alguns fracassos no cinema e projetos para as tevês britânica e americana que haviam sido bem recebidos, Hopkins emendava um trabalho no outro.
Anthony Hopkins |
O roteirista de O Caso Lindbergh, J.P. Miller, tem um currículo invejável que inclui Juventude Selvagem (The Young Savages, 1961), Vício Maldito (Days of Wine and Roses, 1961) e a elogiada minissérie O Assassinato de Sharon Tate (Helter Skelter, 1976). Mas isso não pesou na implacável crítica de Paul Mavis, do site DVD Talk (26 de janeiro de 2014): "O Caso Lindbergh tem pouco a dizer, e o diz mal, com algumas atuações centrais equivocadas, direção frouxa e um roteiro superficial e aleatório (...)”
Revistas de TV do Washington Post e The Record (22-28 de fevereiro de 1976) |
Estreou na TV americana em 26 de fevereiro de 1976, pela NBC. No Brasil, a primeira exibição foi na Globo, em 3 de dezembro de 1976. Na época, não era comum um telefilme ser exibido aqui no Brasil no mesmo ano em que tinha sido exibido nos EUA. Ainda mais com 2 horas e 28 minutos de duração. Mas como foi uma superprodução para a TV (o que também era inédito em se tratando de um telefilme), a aquisição pela Globo foi rápida.
Detalhe do guia da TV do jornal Washington Post (1976) |
Paulo Perdigão, em sua coluna de filmes da TV, do jornal O Globo de 28 de novembro de 1976, se referiu ao filme como “um semi documentário de impecável rigor descritivo e tensão dramática crescente”. E destacou: "O Caso Lindbergh, especial de TV com três horas de duração, é o maior atrativo da programação (...)". E confirma sua opinião positiva em outro trecho:
Reconstituição minuciosa e fiel do célebre rapto do filho de Charles Lindbergh (1902-1974), numa superprodução feita para a TV (...). Dividida em duas partes — "O crime" e "O julgamento" — a narrativa obedece a um estilo de reportagem dramatizada e beneficia-se do apuro de produção pouco comum em telefilmes (o orçamento chegou a um milhão e meio de dólares.
A coluna Filmes de hoje na TV, da Folha de S. Paulo de 3 de dezembro de 1976, também deu destaque:
Estreia hoje O Caso Lindbergh, um dos filmes mais caros já feitos diretamente para a TV, mas com elenco essencialmente cinematográfico, o que demonstra que o vídeo não vive sem os mitos da tela que foram cultivados durante décadas nas misteriosas salas escuras.
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