26 dezembro 2018

Um Hóspede Muito Estranho (Crawlspace, 1972)


Telefilmesquecidos #11

Pelo título em português, bem poderia se tratar de uma comédia daquelas bem previsíveis. Mas de engraçado este filme não tem nada. É, na verdade, uma história melancólica, soturna e até incomum para um telefilme. 


O casal de meia-idade Alice (Teresa Wright) e Albert Graves (Arthur Kennedy) se muda para uma pequena cidade do interior, em busca de descanso e de uma vida pacata. Albert está se recuperando de um ataque cardíaco. Como o casal não teve filhos, dedicam-se inteiramente um ao outro. 

Quando o sistema de aquecimento central da cozinha dá defeito, a empresa de reparos envia Richard (Tom Happer) para consertá-lo. Problema resolvido, o casal convida o jovem para jantar. Alguns dias depois, o forno volta a dar defeito. Um outro homem da empresa de consertos aparece e explica que Richard desapareceu.




O casal começa a ouvir barulhos estranhos sob o chão da cozinha. Os sons misteriosos são provenientes do vão condutor no porão da casa (em inglês, crawlspace). Albert e Alice constatam que Richard está morando naquele espaço (daí o título original, crawlspace, onde só é possível rastejar). Estranhamente, eles deixam o rapaz continuar a viver sob suas tábuas. Mais: resolvem "adotá-lo" informalmente, apesar de Richard recusar-se a dormir em outro lugar que não seja o vão condutor no porão.



De certa forma, Richard, mesmo com seu jeito de animal acuado, preenche o dia a dia do velho casal, quase como se fosse a criança que eles nunca tiveram. É possível entender por que o casal quis Richard em suas vidas, já que ele se torna o único assunto de suas conversas. O estranho rapaz começa a consertar pequenas coisas pela casa e se torna necessário. Mas isso não altera seu jeito introspectivo e impenetrável.

A história é mais triste do que propriamente assustadora. Há uma constante tensão que pesa sobre a natureza evasiva de Richard e a bucólica vida do casal. Albert e Alice nunca conseguiram ter um filho. Ao mesmo tempo, um homem que nunca conseguiu encontrar seu lugar no mundo está ali, ao redor deles. E mesmo nos breves momentos de felicidade que os três encontram juntos, há sempre o medo de que tudo possa desmoronar a qualquer momento. 




O filme mescla momentos de desolação e uma atmosfera perturbadora, de ameaça iminente, quase palpável. Mas nunca sabemos, ao certo, qual é o perigo e como ou quando ele poderá se concretizar. Richard carrega, sob sua aparência de inocência quase animalesca, um desconcertante clima de pesadelo enigmático.

Dirigido por John Newland e baseado no romance homônimo de Herbert Lieberman, Crawlspace estreou na TV americana pela CBS, em 11 de fevereiro de 1972. No Brasil, foi exibido pela primeira vez no Canal 13 (atual Bandeirantes), em 16 de janeiro de 1976. Ao longo da década de 1980, foi reprisado no Corujão, da Globo.



Tanto o então novato Tom Happer quanto os veteranos Arthur Kennedy e Teresa Wright estão ótimos em seus contidos papéis. Arthur, que já havia sido indicado cinco vezes ao Oscar, recebeu o prêmio Tony na Broadway, em 1949, por sua atuação em A Morte do Caixeiro Viajante, entre outras premiações. Teresa, também indicada várias vezes, ganhou o Oscar de Atriz Coadjuvante em 1942 por Rosa de Esperança (Mrs. Miniver).

2 comentários:

  1. Acabei de ver o filme no YouTube.
    Realmente intrigante e muito triste.

    ResponderExcluir
  2. Assisti a esse filme com aquele sabor dos telefilmes estranhos e com certa profundidade das produções dos anos 70! Vale a pena assistí-lo!

    ResponderExcluir