15 novembro 2021

Fuga Impossível (Escape,1980)

Telefilmesquecidos #42

O que você faria se fosse condenado por um crime grave em um país estrangeiro, sem a ajuda de um advogado e sem ter como contestar as acusações contra você? Pior: se fosse preso na mais sórdida e violenta prisão possível? É o que mostra o telefilme Fuga Impossível, baseado na história verídica de Dwight Worker, um americano "boa praça" pego tentando levar cocaína do México para os Estados Unidos, em 1973. 

Dwight, interpretado aqui por Timothy Bottoms, não era propriamente um contrabandista. Era um usuário que pensou, ingenuamente, que conseguiria levar uma boa quantidade da droga para seu país, para consumo próprio. Acabou condenado à prisão “inescapável” de Lecumberri, na Cidade do México. Lá, recebeu tratamento brutal e indigno (coisa não muito difícil de imaginar), e sofreu todo tipo de violência. A única pessoa que escapara de Lecumberri tinha sido Pancho Villa (um dos comandantes mais conhecidos da Revolução Mexicana), em 1912.


Timothy Bottoms como Dwight Worker

Kay Lenz como Barbara Chilcoate

No México, Dwight Worker conhece Barbara Chilcoate (Kay Lenz), por quem se apaixona. Os dois se casam, mesmo estando Dwight preso. Juntos, elaboram um ousado plano de fuga. O casal estava ciente das probabilidades, pois o México tinha “la ley de fuga”, a lei da fuga. Não era ilegal tentar escapar da prisão, desde que o pretenso fugitivo não cometesse violência contra as pessoas e não destruísse nenhuma propriedade do Estado. Mas se fosse pego, o candidato à fuga seria morto sem dó nem piedade. Qualquer um que conseguisse escapar teria apenas uma única chance: ou a liberdade ou a morte. 




No entanto, às vezes a realidade é mais inacreditável do que a ficção. Em 17 de dezembro de 1975, após ter cumprido dois anos de sua sentença de 7 anos, ele conseguiu o inimaginável: escapar da prisão-fortaleza disfarçado de mulher. Tornou-se, a partir de então, o único prisioneiro a escapar de Lecumberri desde Pancho Villa.


Mais tarde, Dwight e a esposa Barbara escreveram um livro, Escape from Lecumberri, publicado em 1977, no qual relatam a insólita experiência. O telefilme é baseado no livro. Dirigido por Robert Michael Lewis, experiente em seriados e filmes para a TV, Fuga Impossível, apesar de ter sido feito para esse veículo — e, por esse motivo, também suavizado para esse grande público — é um bom filme.


Edição mexicana do livro

A temática é semelhante à de O Expresso da Meia-Noite (Midnight Express, 1978), de Alan Parker, também inspirado de eventos reais. Obviamente, por se tratar de um produto para a televisão, Fuga Impossível não apresenta a brutalidade explícita de O Expresso da Meia-Noite, mas os personagens nos levam a torcer pelo sucesso da fuga. Mesmo já sabendo o final, a tensão é crescente e involuntária.

O elenco é muito bom, com Timothy Bottoms (A Última Sessão de Cinema, 1971) e Kay Lenz (A Iniciação de Sarah, 1978) nos papeis principais. Colleen Dewhurst, Antonio Fargas e Vincent Schiavelli, rostos familiares do cinema e da TV americanos, também estão presentes.

Colleen Dewhurst

Antonio Fargas

Vincent Schiavelli

Filmado em 1979, Fuga Impossível estreou na TV americana em 20 de fevereiro de 1980, na CBS. No Brasil, foi exibido pela primeira vez na TV em 4 de julho de 1983, pela então recém-inaugurada Rede Manchete, na sessão Grande Estreia. 


Dwight Worker em 2012

Nas décadas seguintes, Dwight Worker participou de movimentos pelos direitos civis e pelo meio ambiente. Também foi professor da Universidade de Indiana, onde criou o programa de Segurança da Informação para a Kelley School of Business, antes de se aposentar para se dedicar ao trabalho rural, à escrita e a viagens. Em 2012, o programa Férias na Prisão (Banged Up Abroad), do canal National Geographic, exibiu o episódio Black Palace of Horrors, sobre a história de Dwight. O caso foi reconstituído e ganhou uma dramatização, complementada pelos depoimentos do próprio Dwight.


Dwight Worker no programa Férias na Prisão (National Geographic, 2012)

Nenhum comentário:

Postar um comentário