Telefilmesquecidos #26
Baseado na história verídica de Francine Hughes — acusada de assassinar o marido em 9 de março de 1977, em Dansville, Michigan — este corajoso e elogiado telefilme apresenta um olhar sombrio e ousado sobre a violência doméstica e suas consequências.
Acompanhamos a narrativa de Francine, que começa em sua adolescência e detalha seu namoro e subsequente casamento com Mickey Hughes, passando pela deterioração de seu relacionamento, os anos de abusos, violência e espancamento impostos pelo marido, até o assassinato e o julgamento que se seguiu.
Farrah Fawcett como Francine |
O caso criou um precedente legal de como outros casos de violência doméstica deveriam ser tratados no futuro. Marcou também o começo de uma lenta e gradual mudança de pensamento e atitude em relação à negligência da sociedade e da justiça no que dizia respeito à violência doméstica sofrida pelas mulheres.
O filme baseou-se no livro homônimo de não-ficção, The Burning Bed, de Faith McNulty, lançado em 1980, sobre Francine Hughes, a dona de casa maltratada e constantemente espancada, que um dia não aguentou mais e pôs fogo na cama em que o marido dormia. A adaptação para a TV foi escrita por Rose Leiman Goldemberg. A trama segue o julgamento de Francine pelo assassinato de Mickey, ato que cometeu depois de treze anos de violência doméstica constante.
A protagonista aqui é Farrah Fawcett, e ela carrega o filme inteiro nos ombros, durante toda a jornada de sofrimento e abuso sofrida pela personagem. Mesmo se tratando de um filme feito para a TV, a abordagem adotada é admiravelmente realista e o desempenho de Farrah muito autêntico. É possível perceber o amor intenso que ela tem pelos filhos e até pelo marido abusivo, mas também a dor profunda e a necessidade desesperada de escapar daquele tipo de vida.
Conforme o filme avança, a atuação de Farrah também deixa claro que as experiências vividas pela personagem a modificaram em muitos níveis, o que não é tarefa fácil para uma atriz. Em nenhum momento ela cai no dramalhão ou nas interpretações exageradas ou estereotipadas.
O resto do elenco também é forte, com destaque para Paul LeMat no papel do marido abusivo, Grace Zabriskie (a mãe de Laura Palmer em Twin Peaks) como sua mãe, e Richard Masur como o promotor do caso. Mas quem comanda o show é mesmo Farrah.
Grace Zabriskie |
Por mais que filmes para televisão sejam comumente considerados "peças menores" de cinema, Cama Ardente é um exemplo de que essa suposição é um tanto quanto rançosa. O crítico de televisão Matt Zoller Seitz, em seu livro TV (The Book), de 2016, co-escrito com Alan Sepinwall, nomeou Cama Ardente como o 7º maior filme de TV americano de todos os tempos: "Foi um marco em termos de conteúdo, retratando a violência doméstica como um horror inegável e uma violação dos direitos humanos". Seitz também elogiou o desempenho de Fawcett como "um dos melhores da história dos filmes de TV".
Farrah foi indicada ao Emmy e ao Globo de Ouro de Melhor Atriz. Paul Le Mat levou o Golden Globe de Melhor Ator Coadjuvante e o filme recebeu várias indicações ao Emmy e a diversos outros prêmios.
A verdadeira Francine Hughes refez sua vida e se casou com Robert Wilson em 1980, tornando-se Francine Hughes Wilson. O segundo marido faleceu em 2015. Francine morreu em 2017, aos 59 anos, no Alabama.
Dirigido por Robert Greenwald (o mesmo de Xanadu), Cama Ardente estreou na TV americana em 8 de outubro de 1984, pela NBC. Alcançou a 4ª maior audiência em telefilmes nos EUA até então, com 36,2 pontos. No Brasil, foi ao ar pela primeira vez em 7 de outubro de 1988, no SBT. Como era tradição na emissora de Silvio Santos, o locutor carregou no sensacionalismo do anúncio: "O SBT tem o orgulho de apresentar um filme importante e polêmico, feito para a nossa época. Cama Ardente, com Farrah Fawcett, no papel mais importante de sua carreira".
Lançado em VHS no Brasil pela California Home Video.
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