01 dezembro 2017

3 filmes sobre Aids pouco lembrados


Hoje em dia, filmes que abordam o ainda delicado tema da Aids são muito bem recebidos pelo público e aclamados pela crítica. Philadelphia (1993), de Jonathan Demme, e o recente The Normal Heart (2014), de Ryan Murphy, feito para a TV, são dois exemplos. Por mais que seja um tema menos tabu atualmente, houve uma época (não faz tanto tempo assim) em que a mídia procurava esquivar-se do assunto.


Alguns filmes, no entanto, foram ousados por terem sido os primeiros a abordar a questão diretamente. Até fins da década de 1980, por exemplo, o tema era evitado tanto pelas grandes emissoras de TV quanto pelo cinema. Como hoje é dia 1º de dezembro — Dia Mundial de Combate à Aids — separei três filmes muito bons sobre o assunto. Não são tão conhecidos quanto os dois que citei mais acima, mas são ótimas dicas para quem se interessa em ver o tema abordado com sensibilidade (e sem sensacionalismo) pelo cinema.


Aids: Aconteceu Comigo
(An Early Frost, 1985)
Direção: John Erman
Com: Gena Rowlands, Ben Gazzara, Aidan Quinn, Sylvia Sidney 



Ao descobrir-se portador do vírus HIV, Michael (Aidan Quinn), um jovem advogado, vê-se obrigado a revelar para a família que está infectado, que sua morte precoce é inevitável e, de quebra, que é homossexual. Fragilizado e assustado, Michael precisa de apoio, amor e compreensão de seus pais. Mas a noticia caiu como uma bomba na família e leva a vários conflitos. Extremamente bem produzido, foi o primeiro filme a retratar o tema da Aids. Na época, pouco se sabia sobre a doença e ainda não havia tratamento adequado. Feito para a TV americana, o longa foi ao ar no canal NBC em 11 de novembro de 1985. Gena Rowlands e Ben Gazzara estão impecáveis nos respectivos papéis de mãe e pai de Michael. Aidan Quinn está igualmente ótimo. Mesmo com toda a insegurança e o temor, o telefilme conseguiu passar uma mensagem de coragem em meio às incertezas e ao desconhecimento vigentes na época. A abordagem é bastante tocante, sem cair no dramalhão em momento algum (o que seria de se esperar de um telefilme típico). O título original em inglês, An Early Frost (que pode ser traduzido como "uma geada que vem mais cedo", ou "que chega antes da hora") é de uma das falas do filme, dita pela personagem avó de Michael. Ao olhar o canteiro de rosas no jardim da família, ela ressalta como as flores estão bonitas e espera que uma geada prematura ("early frost") não as mate antes da hora. Ao mesmo tempo, a família tem que lidar com outra geada prematura: a doença de Michael e a revelação de sua homossexualidade. O produtor Perry Lafferty revelou que a NBC deixou de faturar 500 mil dólares com publicidade, pois os anunciantes não queriam seus comerciais exibidos durante os intervalos do filme. Mesmo assim, An Early Frost ganhou quatro prêmios Emmy.


Meu Querido Companheiro
(Longtime Companion, 1990)
Direção: Norman René
Com: Stephen Caffrey, Patrick Cassidy, Brian Cousins, Mary-Louise Parker, Dermot Mulroney



Em 1981, 335 americanos morreram contaminados por uma doença então identificada como uma espécie de câncer que só atingia os homossexuais. O filme mostra os primeiros anos da epidemia da Aids e seu impacto na vida de um grupo de amigos gays e da irmã (heterossexual) de um deles. As primeiras notícias de jornal falando sobre o vírus, no começo da década de 1980, deixam a turma de amigos apreensivos. Não demora muito para que alguns deles apareçam gravemente doentes. As dúvidas, a maneira de encarar o futuro e a importância da solidariedade estão no centro da abordagem. Foi o primeiro filme a tratar do então polêmico tema da Aids e a receber um amplo lançamento nos cinemas dos EUA. O título original, Longtime Companion (algo como "Companheiro de longa data"), refere-se à única expressão que era permitida, à época, para que os jornais se referissem ao parceiro sobrevivente de um casal gay, quando um deles morria por causa do vírus HIV. O crítico de cinema Roger Ebert escreveu: "Meu Querido Companheiro é um filme sobre amizade e lealdade, sobre encontrar coragem para ser útil e humildade para ser ajudado."


A Última Festa
(It's My Party, 1996)
Direção: Randal Kleiser
Com: Eric Roberts, Gregory Harrison, Margaret Cho, Olivia Newton-John



Apesar do clima bem-humorado, a história é de cortar o coração. Nick Stark (Eric Roberts) é um bem-sucedido arquiteto que vive com seu companheiro Brandon (Gregory Harrison) há alguns anos. Diagnosticado com o vírus do HIV, Nick fica inseguro e teme morrer sozinho. Infelizmente, o relacionamento dois dois não resiste ao abalo e Brandon deixa Nick. Algum tempo depois, para piorar, Nick é diagnosticado com leucoencefalopatia multifocal progressiva — doença neurológica rara que causa degeneração mental gradativa em poucos meses. Decide, então, que não quer esperar pela morte dolorosa. Organiza uma festa de dois dias para a família e os amigos íntimos, ao fim da qual vai abreviar sua vida com dignidade, tomando uma dose letal de barbitúricos. O filme mostra a festa de despedida de Nick e seus amigos. Em meio a lembranças divertidas, piadas, episódios tristes e felizes, Brandon, que havia abandonado Nick, aparece, causando tensão e indignação nos amigos. Na verdade, Brandon sente-se culpado por ter deixado Nick no momento em que o companheiro mais precisava. No curto espaço de tempo da festa, todos precisam conformar-se com a decisão de Nick, por mais doloroso que seja. Mesmo recheado de piadas ácidas, o filme tem uma melancolia permanente, por confrontar família e amigos com o “suicídio consentido” de um ente querido por todos. A história foi baseada em fatos reais, sobre a morte do ex-companheiro do diretor Randal Kleiser na vida real, em 1992. Kleiser dirigiu os sucessos de bilheteria Grease - Nos Tempos da Brilhantina (Grease, 1978) e A Lagoa Azul (The Blue Lagoon, 1980).

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