O crítico John Weber, do site Bad Movie Night, fez uma observação bastante pertinente: "Como Sigmund Freud disse, às vezes um charuto é apenas um charuto. Da mesma forma, às vezes um filme ruim é apenas um filme ruim, sem o devido valor kitsch capaz de torná-lo interessante em novos e diferentes níveis”.
Em 2014 fiz um post chamado Obscuridades do tempo das locadoras, falando sobre três filmes pouco conhecidos que ocupavam as prateleiras das videolocadoras e que hoje são totalmente esquecidos. Apesar disso, mereciam uma olhada, na minha opinião. Em 2015 fiz o post Quatro filmes para morrer antes de ver, sobre filmes realmente ruins que habitavam as videolocadoras. Agora resolvi fazer uma mistura dos dois posts, sobre filmes obscuros e ruins das locadoras.
Lembro-me bem de como foi frustrante assistir a esses filmes, pois eles são realmente fracos. De qualquer forma, como gosto de obscuridades, acabo sempre voltando ao tema. Nem todas essas esquisitices, entretanto, são dignas de figurarem na galeria dos “filmes ruins que são bons”. É o caso desses aqui, que — para mim — são ruins de verdade:
Alguém Atrás da Porta
(Quelqu'un derrière la porte / Someone Behind the Door, 1971)
Direção: Nicolas Gessner
Com: Charles Bronson, Anthony Perkins, Jill Ireland
Um neurocirurgião (Anthony Perkins) quer matar a esposa infiel (Jill Ireland) e seu amante (Henri Garcin). Com uma sorte impressionante, encontra um homem que, além de psicótico, está sofrendo de amnésia (Charles Bronson). O médico leva o tal homem para casa e começa a manipulá-lo, na tentativa de persuadi-lo a cometer o assassinato. Mas o estranho mostra-se vulnerável, confuso e emocionalmente fraco. Embora seja uma produção francesa, o trio de protagonistas é americano. Era para ser um thriller psicológico, mas o filme, de tão monótono, é altamente sonífero. Feito muito antes de Bronson se tornar popular por seus papéis de durão-vingador-que-sai-atirando-para-todos-os-lados, o filme é uma rara oportunidade de ver o ator tentando se virar com uma atuação mais “séria”. Mas seu personagem nem mesmo tem nome. Anthony Perkins, por sua vez, vive um personagem que lembra muito outros já representados por ele em filmes como Psicose (Psycho, 1960) e O Escândalo (Le Scandale / The Champagne Murders, 1967). Jill Ireland, na época esposa de Charles Bronson na vida real, faz o papel da esposa de Perkins. A impressão que se tem é que o filme não vai acabar nunca.
Entrando à Força
(Forced Entry / The Last Victim, 1975)
Direção: Jim Sotos
Com: Tanya Roberts, Ron Max, Nancy Allen
Um mecânico esquisitão (Ron Max) com traumas de infância mal resolvidos tem também problemas com mulheres. Ao que tudo indica, ele não consegue se relacionar de forma emocional ou sexual com elas. Passa, então, a atacá-las violentamente para estuprá-las e depois as mata. Prostitutas, moças que pedem carona em beira de estrada, donas de casa... Todas podem se tornar vítimas. O foco do filme, no entanto, é mais na perversão sexual do maníaco que nas cenas sangrentas. Quando a personagem de Tanya Roberts se torna uma das clientes do mecânico maníaco, ele passa a vigiá-la e a faz refém em sua casa, aproveitando um momento em que a moça estava sozinha. O filme, narrado pelo personagem do estuprador, é bastante arrastado. A edição desleixada também não ajuda. Estreia (pobre) de Tanya Roberts no cinema. Alguns anos depois ela se tornaria uma das Panteras do seriado Charlie's Angels. Nancy Allen, na época ainda desconhecida, faz uma ponta como uma das vítimas. O filme, na verdade, é um remake “amenizado” de um outro, pornográfico, lançado no ano anterior, com o mesmo título (Forced Entry). Mas são dois filmes diferentes.
O Intruso
(Savage Intruder / Hollywood Horror House, 1970)
Direção: Donald Wolfe
Com: Miriam Hopkins, David Garfield, Gale Sondergaard
Miriam Hopkins vive uma ex-estrela do cinema. Em sua mansão decadente, em Hollywood, ela não passa de uma lenda do passado. Uma velha excêntrica, alcoólatra, solitária e carente. Um jovem andarilho que mata velhas senhoras da região aparece na mansão da velha e passa a trabalhar como seu enfermeiro e acompanhante particular. O rapaz passa a exercer uma ascendência sobre a secretária da velha e a empregada da mansão. A premissa leva a crer que uma trama interessante de mistério vai se desenvolver. Mas o filme, extremamente cansativo e arrastado, perde o rumo e vira uma mistura de Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950) com O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?, 1962), mas em tom de pastiche. Mal executado, o longa é de matar de tédio. Viagens psicodélicas, delírios repetitivos e clichês do gênero são recorrentes na narrativa, bem ao estilo dos filmes do final da década de 1960. Último filme de Miriam Hopkins, coitada. Exibido na TV com o nome O Intruso Selvagem.
Caçada Sangrenta
(Blood Song, 1982)
Direção: Alan J. Levi
Com: Donna Wilkes, Frankie Avalon, Antoinette Bower
Em 1955, um garotinho testemunha o pai matar a mãe e seu amante e suicidar-se em seguida. Em 1982, já adulto, o sujeito (vivido por Frankie Avalon) foge do manicômio onde vivia internado, rouba uma van e começa uma matança. Munido de sua flauta (presente de seu pai, na infância) ele sempre toca a mesma canção. Paralelamente, uma adolescente deficiente (Donna Wilkes) tem pesadelos premonitórios e recorrentes com o psicopata fugitivo. Ela acaba testemunhando um dos assassinatos do louco, que passa a persegui-la. Para piorar, a garota, no passado, havia recebido uma transfusão de sangue do psicopata. A história até parece interessante no começo, mas o filme demora muito a engrenar. E quando começa a andar, já estamos enjoados. Frankie Avalon teve dois hits em primeiro lugar das paradas no final dos anos 1950 (Venus e Why) e vendeu milhões de discos ao longo da década de 1960. Na mesma época, também estrelou uma série de filmes juvenis de praia, ao lado de Annette Funicello. Após uma sumida, reapareceu em uma participação em Grease (1978), em grande estilo. Quando fez Caçada Sangrenta, estava meio em baixa de novo. Exibido na TV com o nome Canção Mortal.
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