Telefilmesquecidos #45
Computadores que comandam tudo, pessoas que fazem videochamadas em todos os lugares, textos digitados por comando de voz, carros elétricos que circulam pelas ruas. Qualquer semelhança com o mundo atual é mera coincidência, já que estamos falando do mundo futurista no qual este telefilme se passa. E o futuro, nesse caso, é o ano de 1996.
Michael Stringer (Joseph Cortese) é o último detetive particular que resta na Terra. Sua profissão já está extinta, pois no avançadíssimo e totalmente informatizado mundo de 1996 não existem mais bandidos nem detetives. O crime é coisa do passado e os computadores resolvem todos os problemas. Mas Stringer gosta de coisas antigas, detesta novas tecnologias e dirige um carro ainda movido a gasolina.
Para surpresa de Michael, um dia Lisa (Susan George), filha de um rico industrial, o contrata para encontrar seu pai. Na verdade, Emery Korter (Liam Sullivan), o pai de Lisa, aparece correndo no início do filme, tentando escapar não se sabe de quem, quando é eletrocutado por uma espécie de cerca eletrônica. O corpo foi achado na praia de Eden Isle. Lisa, no entanto, acredita que o pai ainda está vivo, já que o corpo apresentado como sendo o dele aparentava ter 20 anos a menos.
Emery Korter havia idealizado e construído sua própria comunidade futurista, uma espécie de condomínio segregado do resto do mundo. Batizada de Eden Isle (Ilha do Éden), a tal cidade é um ousado e excêntrico projeto, no qual tudo é belo e funciona perfeitamente. Os moradores — as "pessoas mais perfeitas" (artistas, engenheiros, cientistas) — são escolhidas por meio de rigorosos testes de seleção, para que vivam no complexo mais avançado do mundo em matéria de tecnologia e bem-estar.
Lisa quer que Michael investigue Eden Isle, pois ela desconfia que a resposta para suas dúvidas está lá. Disfarçados de candidatos a moradores do complexo, Michael e Lisa se infiltram no lugar para tentar descobrir o que poderia ter acontecido ao pai da moça. E acabam descobrindo um esquema de clonagem executado pelo vilão George Dettler (Donald Pleasance), um cientista que dirige o lugar.
Donald Pleasance |
O elenco não é marcante, mas também não é ruim. O casal principal está bem canastrão, mas não destoa do clima geral. A presença de Donald Pleasance sempre salva. De fato, ele estava em tudo quanto é filme dos anos 1970. Dos mais conhecidos aos mais obscuros.
Dirigido por Robert Michael Lewis, que tem um longo currículo na TV e também dirigiu episódios de séries e telefilmes variados como Mensagem para Minha Filha (Message to My Daughter, 1973), Fuga Impossível (Escape, 1980), O Anjo Caído (Fallen Angel, 1981) e Os Sedutores (Ladykillers, 1988) entre muitos outros .
Liam Sullivan |
O Olhar Final foi o piloto para uma série de TV que nunca se concretizou. O telefilme foi rodado em 1977, com o título Final Eye, mas só foi ao ar nos EUA em 1982, rebatizado de Computercide. A mudança do nome talvez tenha sido uma tentativa de “modernizar” o filme e levar o telespectador a crer que se tratava de um filme sobre computadores. Mas a história acaba sendo sobre clones.
Parece ter havido nos anos 1970 um interesse por clones, tendência que desapareceu por um tempo e só retornou com força na década de 1990, com o surgimento da ovelha Dolly, primeiro mamífero a ser clonado com sucesso. Talvez o “futurismo” dos anos 1970 tenha sido premonitório: O Olhar Final se passa em 1996, ano em que nasceu a ovelha Dolly (apresentada ao mundo em 1997).
Houve mais filmes sobre clones na década de 1970 que na de 1980, por exemplo. Podemos citar Esposas em Conflito (The Stepford Wives, 1975) e Romance ou Pesadelo (The Clonus Horror, 1979), além de O Caso Clifford (The Cloning of Clifford Swimmer, 1974), telefilme exibido na série de mistério e suspense The Wide World of Mystery (1973-1976), da ABC.
Mesmo em seu estilo evidente de produção barata, é divertido observar como o telefilme faz projeções sobre várias mudanças na sociedade e na tecnologia. O visual é extremamente datado e tem a cara dos seriados de meados da década de 1970. Mas isso não prejudica em nada. Pelo contrário: é curioso olhar para trás e ver como as pessoas acreditavam que seria o futuro. (Nesse caso, uma visão dos anos 1970 de como seria o futuro).
Tirando esse aspecto, O Olhar Final realmente é arrastado e fica no meio do caminho: não chega a ser um suspense, mas também não é propriamente uma aventura de ficção científica e, em alguns momentos, tenta ser cômico. Talvez por isso não tenha virado série, tornando-se, em vez disso, um telefilme extremamente obscuro. O fato de ter sido renomeado de Computercide só aumenta a confusão.
Mas a salada não para por aí. Ao ser exibido pela primeira vez no Brasil, em 29 de julho de 1980, pela Bandeirantes, o nome em português foi O Olhar Final. Na verdade, o termo do título original em inglês ("eye") deriva de "private eye", expressão que quer dizer detetive particular. Como observou F. M. na coluna de filmes da TV, da Folha de S. Paulo: “O tradutor brasileiro não entendeu a sutileza do título original ("o último private-eye", isto é, o derradeiro detetive) e arranjou o "Olhar Final". (Folha de S. Paulo, 30 de março de 1982)
O curioso é que o filme foi ao ar no Brasil pela primeira vez antes de estrear nos EUA, seu país de origem. Mais uma mostra de que realmente o projeto estava no fundo da gaveta e já não tinha relevância para a rede NBC, que o levou ao ar pela primeira vez em 1º de agosto de 1982. Na Austrália a primeira exibição foi em 2 de outubro de 1981. Esse tipo de coisa não era muito comum, uma produção televisiva americana estrear primeiro em outros países e só depois nos EUA.
Foi bastante reprisado pela Bandeirantes entre 1980 e 1982, mas já cheirava a velharia. O mesmo F. M. que assinou a sinopse do filme na Folha foi categórico e chamou O Olhar Final de “uma tolice sem tamanho".
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