07 setembro 2018

Meu Filho, Meu Mundo (Son-Rise: A Miracle of Love, 1979)


Telefilmesquecidos #7


Raun Kaufman nasce normal e saudável — "como todos os milagres, perfeito!", anuncia o médico, triunfante. Os pais já tinham duas filhas, também saudáveis. Mas começam a perceber, com o passar dos meses, que Raun parece distraído, distante. Muito raramente parece estar ciente do mundo ao seu redor. Descobrem, então, que o filho tem dezenas de sintomas associados ao autismo. E está cada vez mais "sozinho em seu próprio mundo".



Os especialistas mostram-se totalmente pessimistas quanto ao quadro. Os pais, no entanto,  não aceitam o prognóstico precoce e resolvem agir. Decidem, de comum acordo, penetrar no mundo da criança, acreditando que o milagre do amor poderá salvá-la. O filme narra justamente isso: a luta do casal para ajudar Raun e desenvolver suas habilidades cognitivas e afetivas. Por meio de tentativa e erro, desenvolvem um método próprio — um programa de tratamento para o autismo que ficou conhecido como Son-Rise. O nome, em inglês, deve-se às palavras son (filho) e rise (levantar-se, nascer), trocadilho com a palavra sunrise, (nascer do sol).

Os pais de Raun são representados com extrema sensibilidade e credibilidade por James Farentino e Kathryn Harrold. Revezando-se no papel de Raun, os gêmeos Michael e Casey Adams, de 3 anos. Baseado no livro Son-Rise: A Miracle of Love, de Barry Neil Kaufman, pai de Raun, no qual Barry relata toda a trajetória que ele e a esposa percorreram até chegarem à cura do filho, Meu Filho, Meu Mundo era o tipo de telefilme muito em voga na segunda metade da década de 1970. A direção foi de Glenn Jordan. Debby Boone garantiu a canção-tema lacrimejante com Is There Room in Your World for Me?


O filme estreou no canal americano NBC em 14 de maio de 1979 e causou comoção. Foi visto por mais de 300 milhões de telespectadores no mundo todo. Aqui no Brasil, foi exibido pela primeira vez na Globo, em 12 de abril de 1980. O sucesso foi tamanho que a emissora o reprisou duas semanas depois. "Meu Filho Meu Mundo sensibilizou de tal forma o público feminino, quando de sua estreia semana passada, que a TV Globo volta a reprisá-lo, atendendo a grande número de cartas", escreveu Hugo Gomez na seção "Os filmes de hoje" do Jornal do Brasil de 27 de abril de 1980. "Não obstante o enfoque sentimental, inevitável, o filme conta com boas interpretações de Kathryn Harrold e especialmente do garoto Casey Adams, que com sua pouca idade se revela um ator nato."



Por outro lado, o crítico da Folha de S. Paulo da mesma data mostrou-se, digamos, menos entusiasmado: "Telefilme que vai invadindo o vídeo, o que é mais que absurdo: produção do ano passado, nos EUA, chega mais rápido ao público do que os filmes nacionais (há dezenas ainda não lançados desde 1976). Casal tem dois filhos, mas com o nascimento do terceiro, descobre que este sofre de grave doença mental. Terapia resolve tudo."

John J. O'Connor escreveu no New York Times de 14 de maio de 1979: "Meu Filho Meu Mundo é claramente o tipo de produção inspiradora pela qual a televisão se atrai. A história é, de fato, comovente. Mas é preciso cuidado. O autismo é misterioso e doloroso. Ao retratar os médicos como frios e rígidos, em contraste com os Kaufmans, Meu Filho Meu Mundo pode estar criando, de forma cruel, falsas esperanças para outras famílias que lidam com o autismo. O caso de Raun mostrou-se extremamente atípico, fato que não é enfatizado o bastante nesta produção."


A verdade é que a terapia criada pelos pais de Raun Kaufman, leigos, tem obtido grande sucesso até os dias atuais. Hoje Raun é diretor executivo, escritor e professor no Option Institute and the Autism Treatment Center of America e trabalha com pacientes individuais, famílias e grupos, além de ministrar palestras sobre o tratamento do autismo.

Raun Kaufman atualmente


No Brasil, o filme saiu em VHS pela Globo Video.



3 comentários:

  1. Valeu,Daniel. Bela resenha. Parece que revi o filme,apenas por ler seu texto. Um abraço!

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  2. Lembro demais desse filme. E de outros que vieram na esteira do sucesso dele. "E Seu Nome é Jonas" e "O Rapaz da Bolha de Plástico", com John Travolta.

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    1. Isso mesmo, Leonardo! Também fiz um post sobre "E Seu Nome é Jonas", veja: http://porcoselefantesedoninhas.blogspot.com/2016/11/e-seu-nome-e-jonas.html

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