23 agosto 2018

No tempo das festinhas


A descoberta do amor na adolescência, os anseios, conflitos, inseguranças... O relacionamento com os colegas de escola, com a família e com o sexo oposto. Esse é o despretensioso recheio do filme francês La Boum - No Tempo dos Namorados (La Boum, 1980). Pouco lembrado aqui no Brasil hoje, o filme marcou toda uma geração de adolescentes do comecinho da década de 1980. Dirigido por Claude Pinoteau, La Boum tem como protagonista Vic (Sophie Marceau, fazendo sua estreia), de 13 anos. Ela e a amiga Pénélope (Sheila O'Connor) ficam radiantes ao serem convidadas para a festinha que será um "estouro" (daí o título original em francês, que quer dizer "a festa"). 


Poupette (Denise Grey), a bisavó "prafrentex" de Vic, é sua confidente e cúmplice e garante algumas das cenas mais divertidas do filme. Paralelamente à trama dos adolescentes, desenrola-se a dos pais de Vic, que veem seu casamento aparentemente estável ser afetado por uma crise conjugal. Apesar de ser um filme feito para o público adolescente, os personagens são cativantes e naturais. Mesmo os adultos se sentirão fisgados pelos encontros e desencontros de Vic, seus amigos e sua família.




Várias cenas se passam em bailinhos caseiros, onde Vic vivencia, de forma romântica e inocente, suas primeiras experiências amorosas. O filme é realmente mais simpático do que parece à primeira vista. La Boum estreou na França em dezembro de 1980, onde tornou-se grande sucesso de bilheteria, e até hoje é extremamente popular. Talvez por retratar, sem afetações e com singeleza, adolescentes de uma faixa de idade que são, normalmente, mostrados de forma caricata. Aqui eles são, de fato, adolescentes típicos de 13 ou 14 anos, mas representados com leveza e bom humor.



A trilha sonora também ajudou: a música-tema do filme, Reality, cantada pelo inglês Richard Sanderson, fez enorme sucesso na época e rendeu visibilidade ao então iniciante cantor. Vladimir Cosma, compositor e maestro francês de origem romena, havia selecionado Sanderson para cantar o tema do filme. Aqui no Brasil, Reality foi também um dos destaques da trilha sonora da novela Baila Comigo (atualmente sendo exibida pelo canal Viva). A faixa virou hit, ficou em primeiro lugar em 15 países e vendeu oito milhões de cópias na Europa e na Ásia. Além de Reality, Sanderson também gravou Murky Turkey e Go On Forever para a trilha de La Boum



Uma das cenas mais marcantes do filme é aquela em que Vic está no meio da festa onde todos estão dançando uma música agitada. Matthieu (Alexandre Sterling), seu pretendente, se aproxima e coloca um walkman nos ouvidos da jovem, tocando Reality. Como mágica, os dois começam a dançar de rosto colado, como se estivessem sozinhos, bem no meio da meninada. Mais genuinamente romântico, impossível.



La Boum chegou aos cinemas do Brasil com dois anos de atraso, em 1982. Naquele mesmo ano, o filme ganhou uma continuação, também dirigida por Claude Pinoteau e com o mesmo elenco do primeiro. Sophie Marceau alcançou grande popularidade com sua estreia em La Boum, assim como na continuação, La Boum 2 (1982), recebendo um prêmio César de Melhor Atriz Revelação por sua carismática protagonista. Além da carreira no cinema francês, Marceau ficou conhecida internacionalmente pelos papéis em Coração Valente (Braveheart, 1995) e 007 - O Mundo Não é o Bastante (The World Is Not Enough, 1999).

A fita saiu em VHS aqui com bastante atraso, em 1994, pela Paris Filmes, mas passou despercebida. Provavelmente porque, àquela altura, o filme já parecesse ingênuo demais para os adolescentes dos anos 1990. Uma coisa é fato: não importa a geração, certas coisas nunca mudam. Principalmente os sentimentos da adolescência, época em que tudo parece irremediavelmente intenso e, ao mesmo tempo, inofensivamente volátil. Prova disso é que, em 1º de outubro de 2015, ao ser reprisado por um canal de TV na França, La Boum entrou nos trending topics do twitter francês. O romantismo não está tão morto quanto imaginamos, n'est-ce pas?


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