07 julho 2016

Páginas amareladas de um Brasil distante


Na década de 1940, a editora Saraiva desenvolveu um projeto para popularizar a leitura no Brasil. Nascia, assim, a Coleção Saraiva, "publicação mensal que constitui uma homenagem à memoria de Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva", fundador da firma, como era explicado nos próprios livros.




Com modesta divulgação na época, a iniciativa mostrou-se frutífera e atravessou as décadas de 1950 e 1960, com grande sucesso e representação para a cultura do país. Como já acontecia com a Editora Clube do Livro, a proposta da Saraiva era lançar livros de escritores brasileiros e estrangeiros, com recursos gráficos de qualidade e preços acessíveis. Brochura, papel imprensa e distribuição em larga escala: com essa fórmula, autores importantes e bem conhecidos como Alexandre Dumas, Voltaire, Dostoivéski e José de Alencar misturavam-se a nomes mais novos como Maria José Dupré, Orígenes Lessa, Lucia Miguel Pereira e Alberto Leal. 



Uma vez por mês, a partir de julho de 1948, era comercializado um livro pelo então moderno sistema de assinaturas. O primeiro foi O Rei Cavaleiro, do historiador e ensaísta Pedro Calmon, sobre a vida de D. Pedro I. A coleção chegou a mais de 230 títulos diferentes, com capas de forte apelo popular, coloridas, criadas em sua maioria pelo ítalo-brasileiro Nico Rosso, ilustrador e desenhista de histórias em quadrinhos. Inicialmente ele dividia a tarefa com outros profissionais, mas a partir de 1949 tornou-se o capista exclusivo da coleção, que duraria até 1972.

Nico Rosso


Charles Dickens, Machado de Assis, Máximo Gorki, Raul Pompéia, Malba Tahan, Oscar Wilde, Robert L. Stevenson, José de Alencar, Assis Brasil, Honoré de Balzac... São centenas de autores, dos mais diversos, pelos quais se tem uma ideia da qualidade das obras que eram publicadas. 

Os exemplares tinham tiragens de até 50 mil livros — número altíssimo para a época — e leitores de várias classes sociais. Vale lembrar que as livrarias daquele tempo nem de longe assemelhavam às megastores de hoje e tampouco contavam com a infinidade de títulos nacionais e estrangeiros disponíveis atualmente. O público leitor também era menor, razão pela qual a Coleção Saraiva teve um papel importante na popularização desse hábito no Brasil. Além de destacar autores clássicos, os nacionais ganharam visibilidade.



Títulos hoje muito conhecidos como Éramos Seis (Maria José Dupré) e O Feijão e o Sonho (Orígenes Lessa) ficaram conhecidos graças à popularidade da coleção. Outros perderam-se no tempo, mas constituem um retrato precioso do período, como Confidências de Dona Marcolina (Galeão Coutinho), Em Surdina (Lucia Miguel Pereira), Sedução da Europa (Cassiano Nunes), O Banco de Três Lugares (Maria de Lourdes Teixeira), A Ladeira da Memória (José Geraldo Vieira) e muitos outros, hoje praticamente esquecidos ou fora de catálogo. Acho particularmente fascinante mergulhar nesse universo de obras que perderam-se no tempo. Fica a dica para os ratos de sebo, neste mês em que a Coleção Saraiva completaria 68 anos.




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