Telefilmesquecidos #93
O adolescente Nick Pallas (Lance Kerwin) foge de casa e se junta a um circo. Ele quer conquistar seu espaço como marionetista no “sideshow” (título original do filme) da trupe. Demonstrando talento, ele usa seus bonecos para fazer imitações de Jimmy Durante (cantor, comediante e ator norte-americano muito popular nos EUA nas décadas de 1950 e 1960).
A palavra sideshow, em inglês, pode ser traduzida para português como "atração" ou "espetáculo à parte" e também pode se referir a uma atração de circo ou um espetáculo secundário, geralmente exótico.
O ambiente mostra-se um tanto quanto hostil e Nick vai descobrindo, aos poucos, que sua nova vida não é exatamente como ele imaginava. Para piorar, Scholl (Albert Paulsen), o proprietário do circo, é um homem cruel e tirânico que costuma descarregar sua agressividade nos funcionários.
Quando um menino, que também trabalha no circo, testemunha um assassinato, Nick tropeça nos segredos obscuros dos colegas artistas e luta para se manter fora do caminho do assassino.
Este mais que obscuro telefilme não é, como pode parecer, de terror. Há algum suspense, na reta final, porém a história é mais um drama do que um suspense propriamente.
O universo filme é o dos “freak shows” (algo como um “show de horrores”), nos quais as atrações são pessoas com características físicas incomuns que se apresentam como aberrações. Há a mulher alta, a mulher gorda, a mulher cobra, a mulher tatuada, o engolidor de espadas, o homem sem rosto e um casal de anões.
Conceitualmente, Morte no Circo remete ao clássico Monstros (Freaks, 1932), de Tod Browning. Mas não oferece muitas explicações ao telespectador (o que não é necessariamente ruim). O clima geral é melancólico e sombrio, por vezes bizarro. A impressão é de que algo está para acontecer, mas nunca acontece. Talvez o título apelativo em português crie essa falsa expectativa. Aliás, o título em português do filme Carny (1980) — “O Circo da Morte” — lançado um ano antes e estrelado por Jodie Foster, também não ajuda muito, pois dá a ideia de se tratar de uma história de terror quando na verdade é um drama.
Apesar de irregular, o elenco de Morte no Circo, encabeçado por Lance Kerwin, é interessante. Red Buttons interpreta um apresentador da atração; Connie Stevens, uma trapezista húngara, e Anthony Franciosa, o domador de leões, um dos ex-amantes da trapeziata.
Lance Kerwin, astro-mirim da TV americana no final da década de 1970, costuma ser lembrado pela minissérie A Hora do Vampiro (Salem's Lot, 1979), baseada no livro de Stephen King, e pelo telefilme Quero Salvar uma Vida (The Boy Who Drank Too Much, 1979). Nas décadas seguintes, participou de vários seriados e também de telefilmes como Um Assassino na Família (A Killer in the Family, 1983). Desistiu da carreira de ator em meados da década de 1990, após participar de Epidemia (Outbreak, 1995), de Wolfgang Petersen. Em 2022, no entanto, voltou às telas para participar de The Wind and the Reckoning, de David L. Cunningham. Foi seu último trabalho antes de falecer, em 2023.
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Lance Kerwin |
Red Buttons, comumente lembrado por A Noite dos Desesperados (They Shoot Horses, Don't They?, 1969) e O Destino do Poseidon (The Poseidon Adventure, 1972) é uma presença marcante (porém subaproveitada) no elenco.
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Red Buttons |
Connie Stevens era figurinha carimbada nos EUA, desde seus filmes da década de 1950, passando pelas músicas que gravou entre o fim dos anos 1950 e o começo dos 1960, até suas participações em seriados e programas de TV nas décadas seguintes.
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Connie Stevens |
Anthony Franciosa, outra figurinha fácil na TV e no cinema norte-americanos entre as décadas de 1960 e 1980, também faz uma boa participação, apesar de não muito grande.
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Anthony Franciosa |
Dirigido pelo ator William Conrad, que durante anos interpretou o detetive Frank Cannon no seriado Cannon (1971-1976). No Brasil, a série foi exibida pelas redes Globo e Record.
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William Conrad |
Conrad começou a participar de filmes na década de 1940 e seguiu a carreira de ator nas quatro décadas seguintes, durante as quais esteve em inúmeros seriados de TV e telefilmes. Bastante popular na TV norte-americana, Conrad já havia dirigido episódios de seriados clássicos como O Fugitivo (The Fugitive, 1963-1967) e alguns filmes para o cinema, entre o final dos anos 1950 e o fim da década de 1970.
Morte no Circo, na verdade filmado em 1978, foi seu último trabalho como diretor. Conrad também foi o autor das canções All These Things e Circus Day Parade, apresentadas no filme.
A estreia de Morte no Circo na TV americana foi em 5 de junho de 1981, na NBC. No Brasil, foi exibido pela primeira vez em 1º de maio de 1982, na Globo. Na década de 1990 foi reprisado na Record.
Uma curiosidade que Paulo Perdigão informa em sua coluna Os Filmes da Semana, na edição de 25 de abril de 1982 do jornal O Globo: “Baseando-se em suas próprias lembranças de adolescente (foi apresentador de fantoches num circo, nos anos 1940), o produtor Sid Krofft ofereceu a William Conrad, ator atuando aqui como diretor, material para o telefilme Morte no Circo (Side Show).”
A capa do VHS lançado nos EUA é totalmente enganosa e tenta vender o filme como uma espécie de slasher, o que ele está longe de ser.
Não confundir com a comédia musical Side Show (1931), do diretor Roy Del Ruth.
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