25 novembro 2024

Projeto de Amor (Not My Kid, 1985)

Telefilmesquecidos #81

O casal Frank (George Segal) e Helen (Stockard Channing) tem duas filhas, Susan (Viveka Davis), de 15 anos, e Kelly (Christa Denton), de 12. Uma típica família americana de classe média, sem grandes problemas. Até que Susan sofre um acidente de carro e seus pais descobrem, estarrecidos, que ela é viciada em álcool e drogas.

Mas os pais — chocados com o fato de sua inocente garotinha ter "perdido o controle" por causa de bebida e drogas — estão em negação e tentam minimizar o problema. Susan jura que aquela foi a primeira e única vez em que usou drogas e que aquilo não voltará a acontecer. Mal sabem eles que Susan já perdeu o controle emocional faz tempo.



Frank e Helen acabam descobrindo que Susan está indo mal na escola. Para piorar, encontram, no quarto da jovem, uma caixa escondida onde ela guardava drogas. Agindo de modo autodestrutivo, Susan espanca a irmã mais nova, foge de casa e acaba em um estado de estupor.



O casal, enfim, decide internar Susan em um centro de reabilitação administrado pelo Doutor Royce (Andrew Robinson), onde será supervisionada por jovens ex-drogados.

A chamada “guerra contra as drogas” nos EUA estava no auge em meados da década de 1980. Projeto de Amor foi um dos telefilmes que ajudou a alimentar o pânico então crescente.



Baseado no livro Not My Kid [Meu filho não], de Beth Polson (que também atuou como produtora executiva do filme) e Miller Newton, publicado em 1984. O roteiro para a TV, de Christopher Knopf, não poupa clichês.

O nome do livro é o título original do telefilme, que na TV brasileira ganhou o piegas título Projeto de Amor.

O elenco é irregular. George Segal, muito experiente no cinema e na TV, tenta dar peso dramático ao papel mal desenvolvido do patriarca. Stockard Channing é sempre ótima, mesmo em um papel estereotipado como o da mãe que insiste em negar o problema da filha. De qualquer forma, não tem como vê-la sem se lembrar de seu papel mais marcante no cinema, a Rizzo de Grease - Nos Tempos da Brilhantina (Grease, 1978). E Viveka Davis, no papel da adolescente drogada, está abaixo da média.

George Segal

Stockard Channing

Viveka Davis

O diretor Michael Tuchner, que havia dirigido alguns filmes para o cinema na década de 1970, como O Medo é a Chave (Fear Is the Key, 1972), migrou para os telefilmes e seriados de TV a partir da década de 1980.

Projeto de Amor estreou na TV americana em 15 de janeiro de 1985, na CBS. A estreia na TV brasileira foi em 6 de outubro de 1990, na Globo.



Vale lembrar que telefilmes sobre jovens drogados pipocaram aos montes na mesma época de Projeto de Amor. Naquele mesmo (1985), em outubro, O Poder do Amor (Toughlove, 1985) estreou na ABC. Em 1990, chegou à TV brasileira pelo SBT. Ainda em 1990, Coragem (Courage, 1986), que havia estreado na TV americana em setembro de 1986, também chegou ao SBT. Dois anos depois, a emissora reprisou Coragem com o título alterado para Amor e Coragem


Telefilmes anteriores como Drama de Uma Adolescente (Sarah T. - Portrait of a Teenage Alcoholic, 1975) e Quero Salvar uma Vida (The Boy Who Drank Too Much, 1979), por exemplo, já haviam abordado o problema das drogas e do alcoolismo entre adolescentes. Isso sem falar em programas como o ABC Afterschool Specials, cujo episódio Stoned [chapado], que foi ao ar em novembro de 1980, mostrava um adolescente nerd e acanhado que experimenta maconha e vira "outra pessoa".

Na década de 1980, Angel Dusted (1981) e Cocaine: One Man’s Seduction (1983) já haviam tratado de problemas da classe média como o vício em drogas, bem como Nas Garras do Vício (Under the influence, 1986), só para citar alguns. Desperate Lives (1982), feito para o cinema, também lidava com a questão de drogas entre jovens norte-americanos de classe média. 

Aparentemente, todo telefilme sobre jovens drogados ganhava um título com a palavra “amor” na televisão brasileira. Tanto Amor e Coragem quanto O Poder do Amor foram lançados em VHS no Brasil, porém sem “amor” nos títulos: Amor e Coragem virou apenas Coragem, enquanto O Poder do Amor ganhou o título Overdose.

Para não fugir à regra, Projeto de Amor também foi lançado em VHS no Brasil, mas com outro título, infinitamente melhor que o da TV: Drogas Nunca Mais.

19 novembro 2024

O Amuleto Egípcio (The Cat Creature, 1973)

Telefilmesquecidos #80

Frank Lucas (Kent Smith), avaliador imobiliário, vai até a casa de um cliente falecido para completar um inventário de uma coleção de artefatos antigos. No porão, descobre um sarcófago com uma múmia usando um amuleto de ouro maciço. A peça tem a figura de uma cabeça de gato com olhos de esmeralda. Mas Frank é brutalmente atacado e morto por uma criatura felina.

Um ladrão pé-de-chinelo aparece depois, rouba o amuleto e tenta penhorá-lo numa loja de artigos esotéricos. A dona da loja, Hester Black (Gale Sondergaard) o expulsa.



Stuart Whitman

Enquanto isso, o tenente Marco (Stuart Whitman) investiga o assassinato do avaliador imobiliário com a consultoria especializada de Roger Edmonds (David Hedison), professor de arqueologia. Tudo parece ligado ao amuleto de ouro roubado da propriedade, o que desencadeia uma série de mortes.


Gale Sondergaard

Meredith Baxter

Quando a balconista da loja esotérica se mata em circunstâncias suspeitas, Hester Black contrata uma outra jovem, Rena (Meredith Baxter), que vai colaborar com as investigações policiais.

O elenco competentíssimo é abrilhantado por Gale Sondergaard, atriz de sucesso da Hollywood dos anos 1940 que interrompeu sua carreira quando o marido — o diretor Herbert Biberman — foi perseguido pelo macarthismo, no início da década de 1950. Com o marido acusado de comunista e integrando a primeira lista negra de Hollywood, a carreira de Gale ficou estagnada e ela passou a atuar no teatro. No final da década de 1960 e início da de 1970, fez algumas participações em séries de TV. O Amuleto Egípcio foi um dos primeiros filmes que ela fez desde o período em que se afastara do cinema, em 1949. 


David Hedison

O Amuleto Egípcio também é uma homenagem a Val Lewton, um dos mais influentes produtores de filmes de terror da era clássica de Hollywood, e a seus filmes de terror de baixo orçamento da década de 1940. Daquela época, o elenco também conta com participações de Kent Smith, que estrelou o clássico Sangue de Pantera (Cat People, 1942) e sua sequência A Maldição do Sangue da Pantera (The Curse of the Cat People, 1944), John Abbott e John Carradine.

A jovem Meredith Baxter, então estreando em telefilmes e recém-saída de Ben, o Rato Assassino (Ben, 1972), também está ótima em seu papel. Baxter tornou-se, nas décadas de 1980 e 1990, uma das atrizes mais frequentes em seriados de TV e telefilmes como O Segredo de Kate (Kate’s Secret, 1986).



John Abbott

A ideia principal do produtor Douglas S. Cramer era fazer um thriller retrô com tema ocultista, na mesma linha dos "filmes B" da década de 1940.

Para o roteiro, contratou Robert Bloch, o mesmo de Psicose (Psycho, 1960). Para a direção, Curtis Harrington, especialista em terror psicológico e suspense, como atestam seus filmes Obsessão Sinistra (What's the Matter with Helen?, 1971), Fábula Macabra (Whoever Slew Auntie Roo?, 1972), Raça Maldita (The Killing Kind, 1973) e Ruby, A Amante Diabólica (Ruby, 1977), além de telefilmes como Abelhas Assassinas (Killer Bees, 1974) e Cão do Diabo (Devil Dog: The Hound of Hell, 1978) e de seriados clássicos nas décadas de 1970 e 1980. 



Os planos do diretor Curtis Harrington de transformar a personagem Hester Black em lésbica foram rejeitados pelo departamento de padrões e práticas da rede ABC, que estipulava que não poderia haver referências à homossexualidade no filme. Irritado, Harrington retaliou incluindo uma personagem prostituta anã ao filme.

O Amuleto Egípcio estreou na TV americana em 11 de dezembro de 1973, na ABC, e foi elogiado pela crítica. A estreia na TV brasileira foi em 11 de janeiro de 1975, na Globo.


Na década de 1980, o filme passou para a Bandeirantes, onde foi bastante reprisado.

11 novembro 2024

A Última Criança (The Last Child, 1971)

 Telefilmesquecidos #79

“Em algum momento em um futuro não muito distante”. Este é o aviso que abre o telefilme e parece nos preparar para algo possivelmente assustador. 

O jovem casal Allen (Michael Cole) e Karen (Janet Margolin), cujo primeiro filho morreu apenas 15 dias após o nascimento, está esperando um novo filho. O problema é que eles precisam fugir das autoridades quando ela se recusa a submeter-se a um aborto obrigatório por lei.

Janet Margolin e Michael Cole


O que acontece é o seguinte: o “futuro não muito distante” ao qual o filme se refere é o ano de 1994. E nesse futuro é ilegal ter mais de um bebê, devido à superpopulação. 

A crise populacional resultou em leis extremamente radicais. Além de nenhum casal poder ter mais de um filho, ninguém com mais de 65 anos pode receber qualquer tratamento médico, exceto o mais superficial.


Por isso o casal desafia a lei e tenta ter um segundo bebê. Barstow (Edward Asner), o agente de controle populacional, vai persegui-los implacavelmente.

Edward Asner

Nessa corrida pela vida do filho prestes a nascer, Allen e Karen planejam escapar para o Canadá, mas encontram a fronteira fechada. É quando recebem ajuda inesperada de Quincy George (Van Heflin), senador aposentado dos EUA que se opôs às Leis de Controle Populacional. Ele dá abrigo ao casal, mesmo correndo grande risco, e usa sua influência política para tentar bloquear a perseguição de Barstow. 


O elenco é bom, com destaque para o vilão interpretado por Ed Asner. Mais conhecido do público norte-americano pelo seriado Mary Tyler Moore (1970-1977), o ator participou de inúmeros filmes para o cinema e para a TV, como Antro de Milionários (Haunts of the Very Rich, 1972) e Um Grito de Morte (Death Scream, 1975), além de diversos seriados. Asner também fez a voz do personagem principal da animação Up - Altas Aventuras (Up, 2009).


Van Heflin

Último filme de Van Heflin, um dos atores mais versáteis da Era de Ouro de Hollywood e ganhador do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 1942 por Estrada Proibida (Johnny Eager, 1941). Também ficou muito conhecido por Os Brutos Também Amam (Shane, 1953) e muitos outros sucessos.

John Llewellyn Moxey, um dos mais prolíficos diretores de filmes para a TV, faz jus ao profissionalismo atribuído a ele.

Peter S. Fischer, que mais tarde tornou-se um escritor e produtor de TV de sucesso, fez sua estreia como roteirista de televisão em A Última Criança.

Michael McKenna, em seu livro The ABC Movie of the Week: Big Movies for the Small Screen (2013), explica que "A Última Criança foi um subproduto de um ponto de vista cultural e acadêmico crescente, argumentando que o planeta e seus habitantes enfrentariam a extinção inevitável se os controles populacionais globais não fossem decretados. O trabalho mais conhecido, se não infame, foi o best-seller de Paul Erlich, The Population Bomb (1968). Houve também uma série de programas de TV e filmes para o cinema apresentando o tema da superpopulação, incluindo um episódio muito semelhante do programa Stage 67 (1966), da ABC, e longas-metragens como No Mundo de 2020 (Soylent Green, 1973) e Fuga no Século 23 (Logan's Run, 1976)."

Embora o futuro superpovoado de A Última Criança não tenha se concretizado, o filme pinta um quadro sombrio de um mundo onde as mulheres não têm controle sobre seus corpos e o controle do governo é quase absoluto, além de limitar os cuidados com os idosos.

Estreou na TV americana em 5 de outubro de 1971, na ABC. Aqui no Brasil, a estreia na TV foi em 7 de junho de 1973, na Globo.

Não confundir com A Última Criança (Last Child), filme coreano de 2017 sem qualquer relação com o telefilme.