31 janeiro 2025

O Anjo Caído (Fallen Angel, 1981)

Telefilmesquecidos #85

Jennifer (Dana Hill), de 12 anos, prestes a fazer 13, ainda sofre com a morte recente do pai, falecido em um desastre alguns meses antes. Ela não aceita o novo relacionamento da mãe, viúva, com um amigo da família.

A mãe, Sherry (Melinda Dillon), zelosa e amorosa, faz de tudo para que a filha se sinta amada e acolhida. Seu emprego de garçonete, no entanto, não deixa muito tempo para que ela acompanhe a filha mais de perto.

Dana Hill e Melinda Dillon

Frank (Ronny Cox), o namorado da mãe, também é carinhoso e atencioso com Jennifer, mas segue sendo rejeitado pela garota, que não quer outro homem ocupando o lugar de seu pai.

Ronny Cox



Sentindo-se infeliz e solitária, ela sai de bicicleta pelas ruas, tentando tirar da cabeça os dramas que vive em casa. Em uma dessas saídas, um homem amistoso a aborda em um fliperama, em meio a outras crianças.

Richard Masur


Depois de certa resistência inicial, ela acaba aceitando a amizade do tal homem, que se chama Howard (Richard Masur), tem trinta e poucos anos, é simpático, compreensivo, divertido e muito amigável.



Aproveitando-se do momento difícil entre Jennifer, sua mãe e seu padrasto, Howard consolida sua amizade com a garota.

Com a aprovação de Sherry e Frank, Jennifer se junta ao time de softball para pré-adolescentes do qual Howard é o treinador. Ele é querido e popular entre as crianças do time.



Dana Hill

Howard segue ganhando a confiança de Jennifer, até que começa a convencê-la a posar para fotos aparentemente inocentes. Mas as tais fotos vão ficando mais e mais reveladoras.




Cada vez mais envolvida por Howard, Jennifer vê nele um amigo real e um porto seguro. Mas Howard é, na verdade, um pedófilo que trabalha com um sujeito chamado Dennis (David Hayward), produtor de revistas e filmes pornôs com crianças. Dennis planeja fazer da menina sua próxima "estrela".

David Hayward


Jennifer passa a conhecer o mundo sórdido de Howard e da pornografia infantil, regado a drogas e a um falso clima de liberdade, proteção e segurança. Mas será que a menina ainda pode ser salva?



Como noticiado pelo jornal O Globo, na sessão de filmes na TV de 1º de maio de 1983, O Anjo Caído "alcançou notável êxito de audiência nos EUA (28.4 pontos) em face da ousadia do tema abordado: o envolvimento criminoso de crianças em filmes pornográficos, que atinge mais de 100 mil meninos e meninas americanos por ano."

O roteiro de O Anjo Caído foi escrito por Lew Hunter, conhecido professor da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) e passou por quatorze reescritas. Jim Green, produtor-executivo, deixou claro que, como "não queria fazer este filme [e] a CBS [nos] pediu para fazê-lo", procurou evitar o sensacionalismo comum em muitos filmes feitos para a televisão.

A revista People, na época, deu uma crítica positiva ao filme: "Embora muito longo e às vezes um tanto quanto artificial, um roteiro sóbrio impede que o telefilme sobre o 'problema mais recente da semana' sucumba ao voyeurismo moralizador". O New York Times elogiou o filme por ser "cuidadoso e sério" ao abordar o assunto, ressaltando que ele "representa uma contribuição substancial ao debate que, sem dúvida, continuará por muito tempo".

Robert Bowden, na coluna On Television, do jornal St. Petersburg Times, de 24 de fevereiro de 1981, escreveu: "O Anjo Caído é um bom filme. Dana Hill prova ser uma das melhores atrizes mirins de Hollywood no papel de Jennifer. E Richard Masur é assustador como o pedófilo. Atuações um pouco mais fracas são apresentadas por Melinda Dillon como a mãe sobrecarregada de Jennifer e Ronny Cox como o namorado preocupado da mãe".

James Isaacs, em seu artigo The theft of innocence [O roubo da inocência] para o jornal The Boston Phoenix, em 3 de março de 1981, provocou: "A questão, no entanto, é se O Anjo Caído explorou o próprio assunto que alegava explorar? Provavelmente. O próprio ato de mostrar uma coisa na televisão ou no cinema glorifica essa coisa, ou pelo menos a amplia. (...) Não duvido das intenções do escritor-produtor Lew Hunter. Ao mesmo tempo, imagino que vários espectadores — nem todos eles pervertidos praticantes — ficaram excitados com várias cenas."

O tema, no entanto, é tratado com seriedade neste telefilme. Dana Hill e Richard Masur, em atuações excepcionais, dão bastante credibilidade a seus papéis, sem cair em estereótipos. Masur disse a um entrevistador, certa vez, que conseguiu seu papel porque "os outros 20 atores que eles procuraram antes de mim não quiseram fazer". Ele também elogiou as habilidades de atuação e a inteligência de Dana Hill.

Infelizmente, a carreira de Dana Hill foi bastante curta. Mais conhecida pela comédia Férias Frustradas II (National Lampoon's European Vacation, 1985), a jovem atriz faleceu aos 32 anos. 

Dana tinha um tipo bastante agressivo de diabetes. À medida que foi crescendo, a doença foi tomando conta de seu organismo e prejudicando sua carreira. Ela chegou a se tornar dubladora e deu voz a inúmeros desenhos animados nos EUA, entre a segunda metade da década de 1980 e a primeira metade da de 1990. Faleceu em 1996, após um forte derrame, em decorrência de complicações da diabetes.

Robert Michael Lewis, que dirigiu O Anjo Caído, contribuiu com sua vasta experiência em televisão para a aceitação do filme. Além de diversos seriados de TV, dirigiu também vários telefilmes, entre eles Mensagem para Minha Filha (Message to My Daughter, 1973), O Olhar Final (Final Eye / Computercide, 1977) e Fuga Impossível (Escape, 1980). 

O Anjo Caído estreou na TV americana em 24 de fevereiro de 1981, na CBS. A estreia no Brasil foi em 1º  de maio de 1983, na Bandeirantes. Será que a Globo – onde a maioria dos telefilmes era exibida em primeira mão no Brasil – ficou receosa de exibir este telefilme por conta do tema sensível? Coincidência ou não, Paixão Doentia (Something About Amelia, 1984) outro telefilme que mexeu com a opinião do público americano e tinha um tema igualmente polêmico foi exibido no Brasil justamente pela Bandeirantes.

Nos EUA, após sua exibição inicial na CBS, O Anjo Caído foi lançado em VHS pela RCA/Columbia Pictures Home Video em 1983. Andou por alguns canais de TV aberta e a cabo até meados da década de 1990, antes de cair no esquecimento. 

21 janeiro 2025

Os Direitos Femininos (The Feminist and the Fuzz, 1971)

Telefilmesquecidos #84

Segundo o policial Jerry Frazer (David Hartman), encontrar um apartamento vago em São Francisco – umas das cidades mais populosas do estado da Califórnia – é tão difícil quanto encontrar um apê para alugar em Nova York. Provavelmente ele está certo, assim como a médica Jane Bowers (Barbara Eden). 

Ao saber de um apartamento recentemente desocupado por um hippie, Jerry aparece, mas encontra a igualmente desesperada Jane Bowers também disposta a alugar o imóvel.



Os dois batem de frente. Resultado: o policial e a médica são obrigados a compartilhar o mesmo apartamento e concordam provisoriamente em se passar por casal para dividir o lugar. Como os dois trabalham em turnos opostos, a convivência seria mínima.



O improvável casal inicia, então, uma guerra dos sexos. Jerry é um homem tradicional e machista que namora Kitty (Farrah Fawcettt), uma coelhinha da Playboy. Jane acredita na liberdade feminina, embora não tenha uma filosofia clara sobre o assunto, e namora Wyatt Foley (Herb Edelman), um sujeito careta tipo “filhinho da mamãe”.

Farrah Fawcettt


Barbara Eden e Herb Edelman

O título original do filme (The Feminist and the Fuzz), em inglês, pode ser traduzido como “A feminista e o policial”. A palavra fuzz é uma gíria antiga para se referir a polícia ou policial.

As coisas se complicam quando aparecem no apartamento a noiva de Jerry (a coelhinha da Playboy), a colega de trabalho de Jane e líder feminista (Jo Anne Worley), uma prostituta aspirante a atriz pornô (Julie Newmar), o pai da médica (Harry Morgan) e o namorado da médica.



Embora o ABC Movie of the Week seja mais lembrado por seus telefilmes de suspense, terror e ficção científica, o programa também apresentou algumas comédias bobinhas, porém divertidas, que caíram no gosto do público. Os Direitos Femininos é um bom exemplo.

Hoje a história parece caricata e tornou-se datada, mas vale lembrar que, na época em que o filme foi produzido (1970), o Women’s Lib (Movimento de Libertação das Mulheres) estava em plena ascensão.

O elenco, hoje pouco lembrado, tem como destaque Barbara Eden, a Jeannie do popularíssimo seriado Jeannie é Um Gênio (I Dream of Jeanie, 1965-1970). Os Direitos Femininos foi a estreia da atriz em telefilmes, logo após o fim da série.



Poucos anos depois de Os Direitos Femininos, David Hartman deixou a carreira de ator e voltou-se para o jornalismo, tornando-se apresentador do programa matutino Good Morning America (um dos mais vistos pelos americanos), da ABC, de 1975 a 1987. 

A namorada de Hartman no filme, vivida por Farrah Fawcett, é um papel pequeno, porém marcante, em que a atriz, ainda desconhecida, aparece antes de explodir em As Panteras (Charlie's Angels, 1976-1981).

Julie Newmar

Julie Newmar — sim, a mesma que dá nome ao filme Para Wong Foo, Obrigada por Tudo, Julie Newmar (To Wong Foo Thanks for Everything, Julie Newmar, 1995) — está impagável como a prostituta que quer entrar para o ramo de filmes adultos.

Dirigido por Jerry Paris, ex-ator que passou para trás das câmeras e dirigiu séries de TV como Happy Days (1974-1984) e os filmes Loucademia de Polícia 2: A Primeira Missão (Police Academy 2: Their First Assignment, 1985) e Loucademia de Polícia 3: De Volta ao Treinamento (Police Academy 3: Back in Training, 1986).


A estreia na TV americana foi em 26 de janeiro de 1971, na ABC, e registrou alto índice de audiência. No Brasil, a primeira exibição foi em 26 de junho de 1974, na TV Tupi. Mais tarde passou para a Globo, onde foi bastante reprisado.