16 abril 2025

Nas Garras do Destino (In the Custody of Strangers, 1982)

 Telefilmesquecidos #92

O adolescente Danny Caldwell (Emilio Estevez), de 16 anos, é preso por bater em um carro da polícia enquanto dirigia bêbado. A mãe, Sandy (Jane Alexander), quer pagar a fiança e trazê-lo para casa. Mas o pai, Frank (Martin Sheen), acredita na disciplina "à moda antiga" e decide que o filho precisa passar uma noite na prisão para aprender a lição. 

A mensagem narrada antes da abertura avisa: "A cada ano, cerca de 479 mil menores são detidos em 8833 prisões para adultos. Os personagens deste filme são fictícios, mas a história é baseada em fatos reais."

Como Danny é menor de idade, fica em uma cela particular. Isso não impede que um coroa, detido na cela ao lado, o assedie e tente beijá-lo à força. Assustado, Danny bate a cabeça do homem nas barras da cela repetidas vezes. Acusado de crime de agressão, não demora muito para que o rapaz seja sugado pelo sistema prisional.



É uma prisão superlotada e movimentada e Danny é frequentemente deixado em isolamento, para sua segurança e a dos outros prisioneiros. Embora o diretor Caruso (Kenneth McMillan) tenha simpatia por Danny e perceba que ele não é realmente um criminoso perigoso, há um limite para o que ele pode fazer pelo rapaz.



Com a acusação de agressão somada à acusação anterior, o juiz decide que uma detenção adicional é necessária. A demora e uma série de atrasos burocráticos agravam a situação. Sentindo-se abandonado, Danny vai se tornando cada vez mais revoltado, enraivecido e desesperado.



Tudo contribui para o aumento das tensões, tanto por parte de Danny quanto de seus pais. O pai, Frank, está desempregado há 9 meses, depois que a fábrica onde trabalhava fechou. A mãe, Sandy, é a única provedora, o que fere a masculinidade de Frank. E ele se recusa a admitir que cometeu um erro ao deixar o filho passar a noite na prisão. Todos estão sob alguma pressão.



Finalmente, a polícia retira as outras acusações e Danny é solto após 40 dias na prisão. Mas ele já não é mais o mesmo. Na nova casa de seus pais, em Ohio, ele vislumbra um resquício de seu antigo eu. Mas fica claro que seu tempo na prisão continuará a assombrá-lo.



Nas Garras do Destino faz um bom trabalho ao mostrar como a cadeia pode, muitas vezes, transformar alguém que cometeu um delito em um criminoso embrutecido. Existem muitos filmes sobre prisões juvenis; mas são raros os que mostram jovens em prisões para adultos.

Apesar de o pai alegar que estava apenas tentando disciplinar seu filho, o filme demonstra que o que ele realmente queria era que a prisão fizesse seu trabalho de pai. Os resultados são desastrosos.


Emilio Estevez e Martin Sheen

O elenco, acima da média, vale-se da semelhança física óbvia de Martin Sheen e Emilio Estevez (pai e filho na vida real). Além disso, os dois estão ótimos e projetam a mesma raiva e ressentimento em relação ao mundo.

Jane Alexander, que na época já acumulava algumas indicações ao Oscar, também se sai muito bem como a mãe de Danny.

Jane Alexander

Com experiência em telefilmes e cinema, o diretor, Robert Greenwald, faz seu bom trabalho como de costume. Entre seus filmes para a TV estão Retrato de Modelo (Katie: Portrait of a Centerfold, 1978) e Cama Ardente (The Burning Bed, 1984). No cinema, é sempre lembrado por Xanadu (1980).

Robert Greenwald

Curiosidade 1: no começo de Nas Garras do Destino há uma cena que se passa em uma loja de discos. Um cliente está comprando justamente o LP com a trilha sonora de Xanadu. O balconista entrega o disco ao cliente e diz: “Espero que você curta!” ("I hope you enjoy that!"). Na dublagem em português ficou "É um bom disco!"



Curiosidade 2: na mesma cena descrita acima, uma moça (figurante) aparece segurando um LP. Trata-se da coletânea Greatest Hits Of The 50s, lançada pela Exact Records em 1980. (No mesmo estilo das coletâneas que a K-Tel lançava nos anos 1970 e começo dos 1980).



Estreou na TV americana em 26 de maio de 1982, na ABC. No Brasil, foi exibido pela primeira vez em 24 de março de 1984, na Bandeirantes, onde foi bastante reprisado. Na década de 1990, migrou para a Manchete.

O guia Vídeo - O Dicionário dos Melhores Filmes (edição 1995, Nova Cultural) elogia: "Filme de TV com força e denúncia, muito bem interpretado por um afiado elenco, com destaque para Sheen e Estevez, seu filho."

Também lançado em VHS no Brasil, em 1988, pela Globo Vídeo.

08 abril 2025

A Ilha da Irmã Teresa (Mysterious Island of Beautiful Women, 1979)

 Telefilmesquecidos #91

Em 1954, um avião com uma freira e um grupo de meninas de uma escola católica, fugindo da Guerra da Indochina, cai em uma ilha do Pacífico Sul. 

Pula para 1979. Gordon Duvall (Peter Lawford), milionário do petróleo, usa seu avião particular para levar seu funcionário Danny (Michael McGreevey) – cego por um ferimento –  a um hospital, onde o sujeito deverá ter sua visão recuperada.



Mas o piloto alcoólatra Stu (Sandy McPeak) se perde da rota após os equipamentos de rádio e navegação do avião serem danificados em uma tempestade. Isso os força a pousar no que acreditam ser uma ilha desconhecida e isolada. 



Além de Gordon, Danny e Stu, estão também Mike (Steven Keats), Wendell (Clint Walker) e J.J. (Guich Koock), guarda-costas do milionário. Mas os seis homens logo descobrem que a ilha é habitada por um grupo de mulheres na faixa dos 25 anos.



As tais mulheres têm vocabulário limitado, mas recitam orações na presença de uma cruz improvisada com uma hélice. Elas têm nomes infantis como Snow (Kathryn Daniels), Chocolate (Jayne Kennedy), Flower (Rosalind Chao), Bambi (Deborah Shelton) e Jo Jo (Susie Coelho) e frequentemente entram em conflito com uma tribo de homens "cortadores de cabeça", de uma ilha vizinha.



A líder da tribo de mulheres, um pouco mais velha, na casa dos 30, é a hostil Lizbeth (Jaime Lyn Bauer). Sobre todas as questões importantes, ela consulta a Irmã Teresa, que nunca é vista, mas é respeitada e temida pelas moças.

Jaime Lyn Bauer


Os homens logo fazem amizade com as nativas. Inclusive um deles, Mike, se envolve romanticamente com uma delas e quer desvendar o mistério da nunca vista Irmã Teresa.



Lizbeth concorda em ajudar os homens se eles ajudarem a tribo de mulheres a lutar contra os canibais "cortadores de cabeça". Mas, na verdade, o que ela pretende é matar os seis homens do avião de Gordon. 



A história, risível, mais parece um episódio de Ilha da Fantasia (Fantasy Island) ou de algum seriado da época. Tudo neste telefilme é previsível, inverossímil e kitsch, o que o torna irresistível.

As atrizes são fraquíssimas, mas o que interessa aqui é o fato de serem jovens e belas mulheres (para justificar o título original do filme). Apesar de viverem isoladas do mundo feito criaturas selvagens, sem nenhum contato com a civilização, elas têm peles perfeitas, dentes branquíssimos, cortes de cabelo condizentes com o período, sobrancelhas e axilas depiladas e são todas esculturais. Estão mais para As Panteras do que para moças selvagens de uma ilha perdida.



Apesar de feitas pelas próprias moças com os limitadíssimos recursos da ilha, as “roupas” (leia-se trajes sumários) são sexy e impecavelmente sob medida, além de condizerem com a moda da época. (Para mim esse é o grande mistério do filme).

Já o elenco masculino é composto por figurinhas fáceis de telefilmes, como Steven Keats, e ex-astros de Hollywood como Peter Lawford e Clint Walker. 

Steven Keats

Clint Walker

Peter Lawford

O diretor, Joseph Pevney – mais lembrado pelos vários episódios de Jornada nas Estrelas (Star Trek, 1966–1969) que dirigiu – começou como ator e tornou-se um grande diretor de sua época. Dirigiu mais de 80 produções entre a década de 1950 e a de 1980, incluindo filmes para o cinema como Ao Compasso da Vida (Meet Danny Wilson, 1952), Frenesi de Paixões (Female on the Beach, 1955), A Flor do Pântano (Tammy and the Bachelor, 1957) e O Homem das Mil Caras (Man of a Thousand Faces, 1957), entre outros, além de filmes para a televisão e inúmeros seriados.


O título original, traduzido ao pé da letra (“A ilha misteriosa das mulheres bonitas”), pode ser terrivelmente cafona e apelativo, mas ainda é melhor que o insosso título em português No entanto, o título alternativo em inglês é Island of Sister Theresa, de onde provavelmente saiu o título em português.

Estreou na TV americana em 1° de dezembro de 1979, na CBS. No Brasil, estreou em 22 de junho de 1981, na Bandeirantes. 

A primeira frase da sinopse da Folha de S. Paulo sobre o filme, quando foi reprisado na TV brasileira, disse tudo: “Aventura feita para a televisão por diretor de nível, mas enfrentando um argumento no mínimo esquisito”. (Folha de S. Paulo, 28 de setembro de 1981).

Nos EUA, foi lançado em VHS, na década de 1980. Em 2022, a Kino Lorber lançou o telefilme em blu-ray.