22 janeiro 2017

Livro escolhido pela capa


Ele foi eleito o "Homem Mais Sexy do Mundo" pela revista Cosmopolitan, no começo dos anos 1990. Naquela época, nos EUA, era quase impossível abrir uma revista ou assistir TV sem que se visse alguma coisa sobre Fabio. A cada movimento para a câmera, ele era a personificação do amor idealizado e do romance arrebatador. O chamado padrão de beleza pode ter mudado nas últimas décadas, mas o italiano Fabio Lanzoni ainda é, sem dúvida, o supermodelo masculino original. 

Fabio no começo da carreira de modelo
No exército, antes de se tornar famoso
Filho de Sauro Lanzoni, próspero dono de uma fábrica de correias de transporte, e Flora, ex-Miss Milão, Fabio começou como modelo, ainda franzino, aos 14 anos. "Estava em Milão, na academia, e Oliviero Toscani, um dos maiores fotógrafos da Europa, veio até mim e falou: 'Você deveria ser modelo'. Eu não era da indústria, não tinha ideia de quem ele era. Dei o número de telefone do meu pai. Eles conversaram e fui contratado para uma grande campanha e as coisas decolaram."

Fabio era também campeão local de esqui, mas seu breve reinado esportivo acabou quando ele quebrou a perna, aos 16 anos. Como parte da terapia de recuperação, o jovem modelo começou a levantar peso e descobriu outra vocação: o fisiculturismo. Mas seu corpo ficou tão grande e musculoso que sua carreira de modelo estagnou. As roupas italianas, desenhadas para corpos lânguidos e delgados, já não se adequavam mais à sua compleição musculosa.





Aí começou, de fato, a lendária trajetória de Fabio. Contrariando o desejo do pai — que esperava que o filho tomasse parte nos negócios da família — Fabio seguiu seus próprios planos. Saiu da Itália, ainda no começo dos anos 1980, em busca de uma carreira como modelo nos EUA. Reza a lenda que 15 minutos após entrar na famosa agência da Ford Models, em Nova York, Fabio já estava contratado. Aos 19 anos, começou bem, estampando grandes campanhas para a Gap e a Levis. "Naquele tempo, se você fosse um dos melhores modelos masculinos do mundo, poderia ganhar 120 mil dólares. No meu primeiro trabalho, ganhei 150 mil", contou ele ao jornal britânico The Guardian, em 2015. "Então, eu defini um novo padrão". Ele também afirmou que, provavelmente, foi o primeiro a exibir músculos em fotos.

Sua carreira realmente deslanchou em 1987, quando ele foi escolhido para posar para a capa de um despretensioso romance de banca, Hearts Aflame ("corações em chamas"). As tais chamas se espalharam, de fato. A partir de então, o rosto e o corpo de Fabio, estampando as capas desses livros, fez suas vendas aumentarem 40 por cento. O modelo passou a ganhar três mil dólares por cada 45 minutos de fotos e se tornou o "homem da capa" oficial dos romances americanos. Chegava a posar para até 16 capas por dia.

Os romances de banca, apesar de não serem levados a sérios, movimentam uma indústria séria, que rende bilhões de dólares por ano. As milhares de mulheres que compravam os livros com Fabio — só em 1992, por exemplo, ele apareceu nas capas de 55 milhões desses livros —, compravam porque ele estava na capa, e não por causa dos livros propriamente. Foi então que veio a grande sacada: revelar a esse imenso público feminino consumidor que aquele imponente herói, pintado naquelas capas, era um homem de verdade e não apenas um personagem ficcional. O príncipe encantado das capas dos livros virou um herói de carne e osso. 


Quando seu empresário, Peter Paul, percebeu o quanto sua ideia de marketing faria sucesso, tratou de lançar Fabio como o quentíssimo produto do momento. Em pouco tempo ele se tornou uma celebridade. Teve início o "fenômeno Fabio". Ele ganhou seu próprio perfume ("a fragrância para homens criada para o prazer das mulheres"); seu próprio livro, Pirate (que ele admite não ter escrito, mas apenas concebido a ideia); calendários anuais com suas fotos; uma infinidade de pôsteres; seu próprio CD, Fabio After Dark (uma seleção com suas músicas românticas favoritas, incluindo uma cantada por ele mesmo, When Somebody Loves Somebody) e sua própria fita de vídeo de ginástica, Fabio Fitness, além de outro vídeo — bem embaraçoso, por sinal —, A Time For Romance, com uma série de vinhetas de fantasia estrelando Fabio como um herói em várias formas (viking, pirata, conde italiano) que salva donzelas em perigo. 





Além de uma infinidade de outros produtos, vieram vários comerciais de TV, participações em filmes e programas e até um papel em uma série de ação na TV (a canastríssima Acapulco H.E.A.T.). E, como não podia deixar de ser, todos os fatos possíveis e imagináveis sobre Fabio estavam em sua biografia. De suas cantoras favoritas (Mariah Carey) à sua dieta (sem gordura, sem álcool e sem cigarro, e muita água) e seus carros (Rolls-Royce, Jaguar, Mercedes, Porsche). 



Mesmo com tudo isso, é difícil resistir ao impulso de fazer piada com toda a overdose do fenômeno Fabio. Mas não se pode negar que ele era (e ainda é) adorado por suas fãs. A principal razão, além de seu físico, é a extrema delicadeza e gentileza com que as trata. Quando as encontra, ele é sempre humilde ("Não me acho o homem mais sexy do mundo", costumava dizer), sorridente e espirituoso. Mostra-se muito grato a cada uma delas. Em eventos promocionais, durante lançamentos de seus livros e produtos, Fabio olhava cada mulher nos olhos, escutava o que tinham a dizer, mostrava-se afetuoso e sincero e agradecia a todas pessoalmente por terem ido e esperado nas longas filas.

Até a polêmica escritora americana Camille Paglia, uma das intelectuais mais influentes da atualidade, disse coisas positivas sobre Fabio, quando o modelo estava no auge: "Fabio é um sedutor talentoso, muito atencioso com as mulheres, ao elegante estilo europeu. Ele as adora e preenche os sonhos dessas mulheres, de achar um parceiro com o físico de um homem forte e sexualmente atraente e a alma sensível de um artista ou poeta".



Em 1994, o tablóide americano Weekly World News estampou uma manchete com uma frase de Fabio, alfinetando os homens americanos: "Parem de tratar as mulheres feito escravas!". Entre as declarações, o modelo disparou: "Odeio homens que batem em mulheres. Essa atitude de machão é sinônimo de insegurança, e a última coisa que uma mulher quer é um homem inseguro. Tenho 1,87m de altura, 100kg e sou forte. Mas não preciso sair por aí bancando o troglodita com outros homens. Prefiro ser eu mesmo — um cara tranquilo."

Mas Fabio não foi uma criança fácil. Era constantemente expulso da escola, por não obedecer as regras. Porém nunca usou drogas e é totalmente contra. Já foi convidado, recentemente, para vários programas, entre eles, Dancing with the Stars, The Bachelor e The Apprentice. Recusou todos. "Geralmente, quando as pessoas se colocam nessa posição, é porque estão desesperadas por dinheiro e atenção", afirmou ele. "Por que você tem que fazer algo degradante? Por dinheiro? Não há dinheiro no mundo que me faça tomar parte em algo que eu considere degradante."

Mesmo que surja algum outro "Fabio", ele sempre será único. "Não acho que o número de filmes que um ator faça o torne melhor ou pior", disse Carrie Feron, editora executiva da Avon Books (do grupo editorial HarperCollins), campeã dos romances de banca. "A qualidade do trabalho que ele fez é o que conta. Não existe outro Fabio."


No programa de TV de Joan Rivers, em 1992


O homem que foi o rosto do perfume Mediterraneum, da Versace, não aparece mais em grandes campanhas, mas segue com sua vida simples, sem deslumbramentos. Hoje, aos 58 anos, Fabio permanece solteiro. Quando perguntam o que ele espera de uma parceira, ele responde a mesma coisa desde os anos 1990: "A primeira coisa com que me importo são os olhos de uma mulher. Eles mostram sua alma, como ela pensa... Sou muito pé no chão. Preciso de uma mulher capaz de enxergar meu interior e apreciá-lo”, diz ele. "Que ela seja uma pessoa bonita por dentro e por fora, especialmente por dentro, pois, com o tempo, a beleza exterior desaparece. Então você deve ser mais profundo do que isso". 

Há um ano, realizou um de seus grandes sonhos: tornou-se cidadão americano. Agora ele tem, também, a nacionalidade do país pelo qual se apaixonou e que o acolheu ainda na adolescência.

Em 2016, após tornar-se cidadão americano
Em tempos de autopromoção, exibicionismo e narcisismo exacerbados, Fabio é um dos poucos que não exibe suas formas no Instagram: "Não me importo com isso porque tenho uma vida. Não quero que as pessoas saibam onde estou ou o que estou fazendo. Mas entendo que os modelos estão usando a mídias sociais para fazer negócios."

Nos anos 1990 (à esquerda) e atualmente

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