10 fevereiro 2012

Aquela do tapa-olho


Se hoje o SBT revive as reprises das reprises das novelas mexicanas — em especial as protagonizadas por Thalia — no começo dos anos 1990, antes de Thalia se tornar a diva das telenovelas mexicanas, Silvio Santos presenteava o público com outras novelas daquele país. A parceria sempre foi com a Televisa, uma das maiores redes de TV no México. Logo no início do SBT, a emissora decidiu investir pesado na compra de produções mexicanas. Em 1982 estreava Os Ricos Também Choram. Em 1984, foi a vez da febre Chispita tomar conta do Brasil. Depois vieram inúmeras outras como Rosa Selvagem, Simplesmente Maria, Topázio, A Fera, Carrossel, Eu Não Acredito Nos Homens, Quinze Anos etc. Nem todas de grande sucesso, mas boa parte delas garantiu ótimos índices de audiência para o canal de Silvio Santos.

Com histórias bem leves e de forte apelo emocional, essas novelas — totalmente diferente das nossas — atraíram um enorme público brasileiro. O fato de serem diferentes das produzidas em nosso país não as torna piores. É claro, se compararmos com as do Brasil, as mexicanas são menos complexas, mais modestas e as histórias bem mais simples e ingênuas. Muitas vezes são engraçadas aos nossos olhos, exageradas, histriônicas e muito semelhantes entre si. O que para nós parece kitsch, para eles é absolutamente normal. Faz parte da cultura do México e é assim que as novelas fazem sucesso com o público de lá. São dois produtos diferentes, por isso acho mais justo dizer que são diferentes das nossas, em vez de 'ruins'. Afinal, nem todas as novelas brasileiras são obras-primas. 

Mas eu quero falar mesmo é de Ambição, na minha humilde opinião, uma das melhores novelas que já assisti. As pessoas têm medo ou vergonha de admitir que já viram e gostaram de alguma novela mexicana, ou de várias. Eu não tenho o menor problema com isso. Na minha pré-adolescência acompanhei Ambição, exibida pelo SBT entre dezembro de 1991 e março de 1992. Era uma trama sensacional de suspense, cheia de reviravoltas, mistérios e assassinatos. Originalmente intitulada Cuna de Lobos e transmitida pela Televisa no México, entre 1986 e 1987, a novela hoje é considerada um clássico. Seu final (mais especificamente a última cena) é um dos mais surpreendentes da história das novelas mexicanas.


María Rubio (esq.), Alejandro Camacho e Rebeca Jones
Não vou descrever o enredo aqui porque o texto ficaria longo demais, mas posso dizer que foi a primeira (e única) novela que assisti cuja protagonista era uma vilã psicopata nos moldes de uma serial killer. Perto dela as maldades de Odete Roitman parecem brincadeira de criança. María Rubio viveu a pérfida Catalina Creel (aqui no Brasil o nome foi adaptado para 'Catarina'), que usava um tapa-olho e não hesitava em cometer os crimes mais hediondos para garantir que a herança de seu falecido marido — assassinado por ela — ficasse apenas para Alexandre (Alejandro Camacho), seu filho favorito, e nada para o enteado José Carlos (Gonzalo Vega). A parte engraçada é que Catarina sempre usava o tapa-olho combinando com o tecido do vestido.

O "tapa-olho fashion week" de Catarina Creel
O mais aflitivo é que desde o começo o telespectador sabe que Catarina é a assassina fria e calculista, mas ninguém na novela sabe. Acompanhamos seus crimes e planos diabólicos e, por incrível que pareça, torcemos genuinamente para que a mocinha sofredora, a pobre Leonora (Diana Bracho), escape da teia de maldades e assassinatos de Catarina. O público sofria junto com Leonora, era de cortar o coração. Quem quiser saber sobre o enredo detalhadamente, basta olhar na Wikipedia. Segundo o blog Televisa Brasil, um remake de Cuna de Lobos está sendo avaliado.

Em sentido horário: Alejandro Camacho,  Gonzalo Vega e Diana Bracho
Escrita por Carlos Olmos (1947-2003), Ambição era tão popular no México que na noite do último capítulo as ruas da Cidade do México, sempre cheias por engarrafamentos homéricos, ficaram desertas. Ninguém saiu de casa, todos estavam grudados na televisão. Outra curiosidade: a novela ainda contou em seu elenco com Carmen Montejo, considerada a primeira atriz do México. Tanto que na abertura original seu nome aparece assim: "Con la primera actriz Carmen Montejo".


Jacqueline Laurence em Aquele Beijo
Apesar de inúmeras brincadeiras e paródias, Ambição é um marco da teledramaturgia mexicana, assim como a vilã Catarina Creel. E pelo visto ela fez escola, pois Miguel Falabella prestou uma singela homenagem em sua atual novela Aquele Beijo. Mirta, a personagem de Jacqueline Laurence, também usa um tapa-olho combinando com a cor da roupa. "Acho que Miguel se inspirou nela", contou Jacqueline ao jornal Extra em 01/11/2011. "E tenho amigas que quando me viram disseram: 'Igual aquela mulher da novela mexicana!'. Muita gente fala que não assiste, mas no fundo, todo mundo vê", diverte-se.

10 comentários:

  1. Maravilha, Dani! Eu lembro que a minha primeira foi Rosa Selvagem, lembro até hoje dos diálogos ingênuos, tudo muito politicamente correto, formal, e muito, muito exagero na maquiagem!
    E também me lembro como se fosse hoje do final de Ambição, só não vou repetir a frase bombástica para não estragar a surpresa, afinal é possível comprar estas novelas na Argentina, e em belas edições, sabia?
    Só não sei se tem Ambição, mas é bem possível.

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  2. Já vi imagens de uma edição em DVD (e VHS) da "Ambição", mas não faço idéia de como comprar. Adoraria rever essa novela!

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  3. E eu que tinha achado o tapa-olho combinadinho da Mirta tão original! Bom, não vou dizer que gosto de novela mexicana, mas as da Thalia fazem parte da minha infância e ainda hoje me pego procurando pelas aberturas no YouTube só pra ouvir de novo: "Ma-ri-mar, au!" HAHAHAHA

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  4. Olá daniel, adorei sua visão sobre cuna de Lobos, novela cujaestou vendo pelaprimeira vez através da internet, a única coisa que gostaria de esclarecer é que toda novela mexicana tem pelo menos uma "Primera Actriz" assim como "Primer Actor", que são aqueles atores clássicos, que tem muita história e respeito no mundo das novelas por sua grande tragetória artistica, parabéns pelo post.

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  5. Olá daniel, adorei sua visão sobre cuna de Lobos, novela cujaestou vendo pelaprimeira vez através da internet, a única coisa que gostaria de esclarecer é que toda novela mexicana tem pelo menos uma "Primera Actriz" assim como "Primer Actor", que são aqueles atores clássicos, que tem muita história e respeito no mundo das novelas por sua grande tragetória artistica, parabéns pelo post.

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  6. Legal, Luis! Valeu pela informação curiosa. ;-)

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  7. Olá Daniel. Voce tem o filme Uma vida Roubada no qual a escritora e novelista Ivani Ribeiro se inspirou para escrever a novela Mulheres de Areia.

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  8. Oi Eduardo, tudo bem? Sim, eu tenho o filme "Uma Vida Roubada", com a Bette Davis (de quem sou fã). Você também curte filmes antigos?

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  9. Eu morria de medo até das propagandas de Ambição.
    Uma que eu lembro a abertura era Topázio.. haha

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    1. Eu também. Essa novela é fantástica. Nunca mais senti "medo" de outra vilã de telenovela. Há algo de intensamente sombrio e ainda sim sutil na Catalina. As nossas vilãs são estereotipadas e acabam virando "ídolos pops". Nunca criamos nada perto da sobriedade aterrorizante de Catalina!

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