09 maio 2025

Os Hatfields Contra os McCoys (The Hatfields and the McCoys, 1975)

Telefilmesquecidos #95

Uma disputa entre duas tradicionais famílias norte-americanas tornou-se parte do folclore dos EUA. Após o fim da Guerra Civil Americana, em fins do século 19, duas famílias do interior do país iniciam seu próprio conflito.


O rio Tug demarcava, simbolicamente, os “territórios” das famílias. Do lado da margem onde ficava o estado de Virgínia estavam os Hatfield, liderados pelo patriarca William Anderson Hatfield (Jack Palance), também conhecido como Devil Anse. 


Jack Palance

Steve Forrest

Do outro lado, onde ficava o estado de Kentucky, viviam os McCoy, capitaneados por Randolph McCoy (Steve Forrest), também conhecido como Randall McCoy. 


Cada um dos dois clãs alegava defender seus próprios códigos de honra e justiça. Mas a briga durou tantos anos que, no final das contas, havia se tornado uma espécie de “tradição”, qualquer que fosse a justificativa.


O site Aventuras na História explica a querela em detalhes, mas transcrevo aqui apenas o motivo inicial que fez com que os patriarcas dos clãs transformassem suas terras em campos de batalha:

As origens do famoso conflito datam do fim da Guerra Civil americana. Devil Anse, da família Hatfield, lutou no exército Confederado por dois anos, e mesmo depois da derrota, permaneceu determinado a defender a causa, o que o levou a entrar em uma milícia local também pertencente à Confederação. 

Já o irmão de Randall McCoy, chamado de Asa Harmon McCoy, servia à União, e foi dele o primeiro registro de morte relacionada às duas famílias. Isso porque, embora nunca tenha sido confirmado, havia grande suspeita de que Devil Anse e seus companheiros de milícia o mataram. (Ingredi Brunato)


O recurso utilizado neste modesto telefilme é o relato do repórter T. C. Crawford, que entrevistou Devil Anse, líder dos Hatfields, para um jornal de Nova York, em 1888. Seus relatos, inicialmente serializados no jornal, transformaram-se no livro An American Vendetta: A Story of Barbarism in the United States, publicado em 1889. É ele quem abre o filme com a seguinte narração: “Na divisa entre a Virgínia e o Kentucky, as lendas criaram raízes e se desenvolveram. Esta é a história de uma dessas lendas, baseada em fatos históricos e relatos. A luta sangrenta entre os Hatfields e os McCoys, que viviam em margens opostas do rio. Sou T. C. Crawford, repórter do New York World. Quando a famosa luta transcendeu seus limites, meu editor achou interessante um relato em primeira mão. Assim, fui à região montanhosa em busca das duas famílias e de suas histórias.”




Embora este telefilme seja muito curto para se aprofundar na complexidade de uma história como a das famílias Hatfield e McCoy, o elenco eficiente faz o que pode. Jack Palance (aqui no Brasil mais lembrado pelo programa Acredite Se Quiser), ótimo e sempre inconfundível, e Steve Forrest defendem bem seus protagonistas.




Também merecem menção Robert Carradine (interpretando Bob Hatfield) e Gerrit Graham (interpretando Calvin McCoy), apesar de quase não aparecerem. Carradine era figura fácil em seriados de TV entre as décadas de 1970 e 2000, além de inúmeros filmes para o cinema e a TV como A Vingança dos Nerds (Revenge of the Nerds, 1984) e Eu Vi o que Você Fez e Sei Quem Você é (I Saw What You Did, 1988).

Robert Carradine e Gerrit Graham

Graham, rosto familiar no cinema e na TV dos EUA, principalmente por filmes como O Fantasma do Paraíso (Phantom of the Paradise,1974), Carros Usados (Used Cars, 1980), A Visão do Terror (TerrorVision, 1986), A Reunião dos Alunos Loucos (National Lampoon's Class Reunion, 1982), A Garota dos Meus Sonhos (Soup for One, 1982) e Brinquedo Assassino 2 (Child's Play 2, 1990). 




O diretor Clyde Ware dirigiu poucos filmes, mas tinha um extenso currículo como roteirista de TV. Entre os episódios de vários seriados e filmes que escreveu, Todos Muito Estranhos (All the Kind Strangers, 1974) é um dos meus favoritos.

Apesar da história muito conhecida e do elenco competente, Os Hatfields Contra os McCoys é um telefilme bastante obscuro e há muito tempo esquecido. Até na Internet há poucas informações sobre ele.




A verdade é que, em meio a vinganças, arapucas, tiroteios, disputas judiciais e romances proibidos, a história da briga entre os Hatfields e os McCoys não fica devendo nada a nenhum filme de bangue-bangue. Não por acaso, inspirou várias produções para a TV e o cinema ao longo das décadas. 



O filme Roseanna McCoy (1949), dirigido por Irving Reis e estrelado por Farley Granger e Joan Evans baseava-se no livro homônimo de Alberta Hannum, publicado em 1947. A obra era um relato romantizado e semificcional da rivalidade entre as famílias Hatfield e McCoy.


Em 2012, a minissérie Hatfields & McCoys, estrelada por Kevin Costner e Bill Paxton e dirigida por Kevin Reynolds bateu recordes de audiência nos EUA, no canal a cabo History. (No Brasil, a minissérie estreou no canal pago Space, em 2013. Em 2015, foi exibida em nossa TV aberta, no SBT).

Também em 2012, a Lionsgate Films lançou, diretamente em DVD, o filme Hatfields e McCoys: Sangue Ruim (Hatfields & McCoys: Bad Blood), dirigido por Fred Olen Ray, com Christian Slater, Jeff Fahey e Perry King nos papéis principais.

Em 2013, Michael Mayer dirigiu o piloto para uma nova série Hatfields & McCoys, projeto de John Glenn e da atriz Charlize Theron para a NBC. No entanto, o projeto, que propunha contar a mesma história das duas famílias, mas situada nos dias atuais, foi totalmente descartado.




Os Hatfields Contra os McCoys estreou na TV americana em 15 de janeiro de 1975, na ABC. No Brasil, estreou em 16 de abril de 1977, na Globo.

O jornal O Globo (10 de abril de 1977) deu destaque à estreia do filme na Globo, na coluna Os filmes da semana, de Paulo Perdigão:

Os filmes da semana  Paulo Perdigão (O Globo, 10 de abril de 1977)

Na década de 1980, andou pelas redes Bandeirantes e Manchete, onde foi bastante reprisado. No começo dos anos 1990, foi parar na rede OM, onde continuou sendo reprisado.

Lançado em VHS nos EUA e outros países. No Brasil, saiu em VHS com o título Fronteiras de Sangue, pela Globo Vídeo.

01 maio 2025

Tormenta (The Victim / Out of Contention, 1972)

Telefilmesquecidos #94

Kate (Elizabeth Montgomery), que vive em São Francisco, telefona para a irmã Susan (Jess Walton), que mora numa casa de campo afastada. Susan, que passa por problemas conjugais, conta à irmã que está deixando o marido e se mudando. Preocupada, Kate resolve dirigir até lá para dar apoio à Susan, apesar de uma tempestade que se aproxima. 

O tempo está pior que o esperado, com direito a tempestade e chuva torrencial. Quando Kate chega ao local, a casa da irmã está (aparentemente) vazia e Susan desapareceu. Sua ausência fica ainda mais intrigante quando Kate encontra o carro da irmã na garagem e suas chaves e carteira em seu quarto.



A Sra. Hawkes (Eileen Heckart), a ríspida governanta, aparece como se nada estivesse errado. Ela não esconde sua hostilidade em relação à Kate.

Com a tempestade cada vez mais forte, Kate vê-se presa na casa, sem conseguir saber onde está a irmã. Àquela altura, Kate já pressente que algo aconteceu à Susan e tenta descobrir o que é.



Ben (George Maharis), o marido de Susan, que supostamente estava em uma viagem de negócios, na verdade perdeu o emprego há um mês e aparece na casa, para surpresa de Kate. Será que ela vai conseguir descobrir que fim levou a irmã?



Tormenta é um telefilme bem simples tanto na configuração da história quanto na execução, o que, neste caso, não é um problema. Embora os elementos que compõem a narrativa sejam hoje bastante batidos, isso não impede que a história envolva o telespectador com uma boa dose de suspense.



O forte do filme é justamente o clima sombrio de tempestade, com direito a muita chuva, raios, trovões e queda de energia elétrica. O final, no entanto, parece apressado e meio confuso, o que pode deixar o telespectador frustrado.

O elenco reduzido se favorece da atuação convincente de Elizabeth Montgomery e sua coadjuvante, a ótima Eileen Heckart. Montgomery, recém-saída do seriado A Feiticeira (Bewitched, 1964-1972), imensamente popular, queria se distanciar da comédia e exercitar suas habilidades de atriz, o que ela provou com sucesso em diversos telefilmes como o elogiado A Lenda de Lizzie Borden (The Legend of Lizzie Borden, 1975).


O diretor Herschel Daugherty, profissional hábil que trabalhou desde os primórdios da TV nos EUA, dirigiu dezenas de séries clássicas como Alfred Hitchcock Apresenta (Alfred Hitchcock Presents, 1955-1962), Jornada nas Estrelas (Star Trek, 1966–1969), O Túnel do Tempo (The Time Tunnel, 1966-1967) e várias outras. Quando dirigiu Tormenta, já era um veterano.  

A estreia na TV americana foi em 14 de novembro de 1972, na ABC. No Brasil, chegou à nossa TV em 4 de dezembro de 1973, na Tupi. Alguns anos depois, foi para a Bandeirantes. Numa dessas reprises, a sinopse do jornal avisava: "Suspense de televisão para os que não exigem demais". (Folha de S. Paulo, 19 de setembro de 1981).

Tormenta, cujo título original em inglês é The Victim, chegou a ser lançado em VHS nos EUA, na década de 1980, com o título alternativo Out of Contention.

Lançado em Blu-ray no mercado norte-americano pela Kino Lorber, em 2021.