"Por causa do gênero que escrevo, serei logo esquecida", costumava dizer Agatha Christie (1890-1976). Um exagero provocado pelo excesso de humildade dessa mulher extraordinária, que teve uma história de vida repleta de fatos interessantes e nunca se deixou deslumbrar pelo sucesso de sua obra. Em 85 anos de vida, Agatha escreveu 87 livros e 17 peças de teatro, com tradução para mais de 100 idiomas. Sem falar nos romances publicados sob o pseudônimo de Mary Westmacott.
Mas sua biografia é riquíssima e minha idéia não é condensá-la aqui, tarefa que seria impossível dada a riqueza de acontecimentos pitorescos e curiosos na vida da autora. Aos admiradores da "Rainha do Crime", sugiro Agatha Christie Autobiografia (Ed. Nova Fronteira, 1979). Aliás, no Brasil, a Nova Fronteira garimpou o filão e manteve os livros de Agatha sempre nas listas dos mais vendidos durante os anos 70. Na verdade, Agatha nunca sai de moda e sua legião de fãs se renova a cada década.
A bola da vez é a editora L&PM, que lançou este mês, na coleção L&PM Pocket, mais um clássico de Agatha: Noite sem Fim (Endless Night). Na época da publicação original, em outubro de 1967, Agatha admitiu em entrevista à revista The Times que Noite sem Fim “é muito diferente de tudo o que fiz até hoje – mais sério, realmente uma tragédia. (...) Em geral, levo três ou quatro meses para fazer um livro, mas escrevi Noite sem Fim em seis semanas. Se conseguimos escrever rapidamente, o resultado é mais espontâneo. (...)"
Quando escreveu o livro, a autora estava com 75 anos e surpreendeu a crítica ao dar voz a Michael Rogers, um rapaz de classe operária. Ele se casa com uma rica herdeira norte-americana e vai morar com ela no Campo do Cigano, um lugar que parecia perfeito para começar uma vida a dois. Mas como nos romances de Agatha Christie nada é o que parece ser, o Campo do Cigano guarda grandes mistérios. O jovem casal é alertado por uma cigana sobre os “perigos” de viverem naquele local “amaldiçoado”. Mesmo assim, eles permanecem ali. É quando um acidente fatal acontece e uma trama monstruosa começa a se desenrolar.
Isso é suficiente para aguçar a curiosidade dos interessados em Agatha, já que não quero estragar as surpresas dessa leitura tão envolvente. Li esse livro há muitos anos, quando era adolescente, e achei um dos mais marcantes da autora. Porque mesmo sendo fã dela - convenhamos - muitos de seus livros se parecem na estrutura da história, apesar das soluções dos crimes serem sempre surpreendentes. Mas Noite sem Fim, com uma aura extremamente soturna, foge um pouco do estilo característico das histórias de detetive de Agatha.
Hywel Bennett e Hayley Mills em Noite sem Fim |
Em 1971 o livro ganhou uma versão para o cinema, do diretor Sidney Gilliat. O filme, apesar de bom, está muito aquém do livro. Se compararmos a outras adaptações de histórias de Agatha para o cinema, como Assassinato no Expresso do Oriente (1974) ou Morte no Nilo (1978), Noite sem Fim é um filme modesto. Nem obteve tanta visibilidade, talvez devido ao seu elenco nem tão conhecido assim (Hywel Bennett no papel de Michael; Hayley Mills como sua esposa e a sueca Britt Ekland vivendo Greta). O nome mais famoso é o de George Sanders e, ironicamente, esse foi seu penúltimo filme. O ator cometeu suicídio 5 meses antes do lançamento.
George Sanders |
A vasta série de títulos de Agatha Christie pode ser facilmente encontrada em livrarias e sebos pelo Brasil, em edições e editoras diversas. Mas a nova coleção em versão pocket, da L&PM, pode ser conferida aqui. A editora tem feito um belo trabalho de divulgação e resgate da obra dessa que é, sem dúvida, a maior escritora policial de todos os tempos.
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