10 julho 2011

Isso aqui ô ô... é um pouquinho de Brasil iá iá...

Regina Duarte viveu a sofrida Raquel
"E o mistério chegou ao fim. Todo mundo já sabe quem matou Odete Roitman", disse William Bonner, então apresentador do Fantástico, no programa de 8 de janeiro de 1989. Um domingo que deixou saudades nos milhões de brasileiros que acompanharam os sete meses de emoção, romances, brigas pelo poder, disputas entre o bem e o mal e humor de Vale Tudo.

Como noveleiro assumido, confesso que nunca vi uma reprise causar tanto burburinho e atrair tamanha atenção (tanto da mídia quanto do público). Vale Tudo, que chega ao fim esta semana no canal a cabo Viva, ressurgiu com força total na vida de muitos brasileiros. Quando o Viva deu início à reprise, em outubro de 2010, vibrei - afinal, quando a novela foi exibida pela primeira vez, em 1988, eu tinha apenas 10 anos e acompanhei tudinho - mas não achei que essa reprise mais de vinte anos depois fosse cair na boca do povo. Por se tratar de um canal pago, julguei que só uma pequena parcela da população fosse acompanhar a novela de novo. Que nada. Esqueci que o número de assinantes de canais a cabo é cada vez maior e que mesmo para os que não assinam, é possível assistir no YouTube, na íntegra, capítulo por capítulo.

Beatriz Segall (Odete) e Glória Pires (Fátima)
Infelizmente não se consegue mais hoje nas novelas a comoção de antigamente. Vale Tudo é o melhor exemplo. Mesmo já tendo sido reprisada pela Globo em 1992, Vale Tudo permanece uma das novelas mais queridas e apreciadas pelo público, que nunca se cansou de clamar por sua volta. Mesmo já sabendo quem matou Odete Roitman, uma quantidade enorme de brasileiros acompanhou a reprise da novela com o entusiasmo da primeira vez. "Foi a melhor novela que a Globo já fez", declarou Beatriz Segall, a eterna Odete. Aliás, poucas vezes depois de Vale Tudo uma novela conseguiu prender o público com uma intensidade como aquela. E a nova geração que não assistiu à exibição em 1988 teve a chance de se deliciar com a trama de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Aliás, dizem que desde o término da novela Gilberto e Aguinaldo não se dão muito bem. Maria Gladys, que viveu a despachada diarista Lucimar, disse ao jornal Extra de hoje (10/07): "Encontrei Gilberto na rua e agradeci pela personagem. Sabe o que ele me disse? ‘Agradeça ao Aguinaldo, é ele quem escreve os papéis de pobre’". Se a rixa existe mesmo, não importa. O que vale é que a novela, além de ter feito o país parar no final dos anos 80, inovou ao abordar uma série de questões até então tabus na teledramaturgia, como a impunidade à corrupção no Brasil.

A trama fez uma forte crítica social com a pergunta "Vale a pena ser honesto no Brasil de hoje?", algo direto demais para os padrões da época (não podemos esquecer que o Brasil tinha se livrado da ditadura apenas três anos antes). Eram tantos personagens marcantes e bem construídos, tudo era muito bem amarrado, não havia buracos nem encheção de lingüiça. Sem falar nas várias cenas antológicas, como os barracos homéricos da alcoólatra Heleninha (Renata Sorrah), as tramóias de Maria de Fátima (Glória Pires) e as tiradas ácidas e impiedosas da vilã Odete.

"O caldo nobre da galinha azul"
Odete Roitman foi assassinada na véspera do Natal de 1988, mais precisamente no capítulo 193. Nem preciso dizer que não teve festa enquanto o capítulo não terminasse. O comentário da ceia natalina daquele ano foi, claro, a morte de Odete. Não havia um brasileiro sequer que não quisesse saber quem havia abatido a megera a tiros. Cada um tinha um palpite diferente. A Maggi, uma das maiores fabricantes de caldo de galinha da época (quem não se lembra do jingle "Caldo Maggi, o caldo nobre da galinha azul"?) tratou de promover um concurso para saber quem havia matado Odete Roitman. O mistério foi alvo de incontáveis apostas, rifas e sorteios. E eu, apesar de criança na época, também queria ficar rico, assim como vários personagens de Vale Tudo, ora! Participei do concurso, mas infelizmente não venci, para minha grande frustração. Eu nutria a esperança, confesso, de que Odete pudesse me render o prêmio de cinco milhões de cruzados. Era só mandar uma carta para a Maggi dizendo quem tinha matado Odete Roitman e responder à pergunta 'qual o caldo nobre da galinha azul?'. Moleza! Mas quem ganhou foi uma menina (também de Minas), não lembro a cidade agora. E era só um pouco mais velha do que eu! Odete ficou me devendo essa...


3 comentários:

  1. amigo, lindo! cheio de paixão... foi a primeira novela das 8 que vi.. inesquecivel ate pra mim, critica ferrenha das novelas globais...
    amo-lo! beijos cheios de saudades...
    Paula Jones

    ResponderExcluir
  2. Lembro um pouco da reprise quando era criança. Comecei a ler hj Mildred Pierce que inspirou um pouco a trama...

    ResponderExcluir