19 setembro 2009

O vinil nosso de cada dia


Alguém aí perguntou "que vinil"? Estou falando do disco de vinil mesmo, aquele bolachão preto também conhecido por long-play, ou LP, o bom e velho LP do povo. Ele escapou da morte anunciada e completou 60 anos em novembro de 2008. Ah, por quê decretar o fim do disco de vinil? Ceifaram-lhe a vida antes mesmo de entrar na menopausa. Mas esse tom melodramático adotado por mim não precisa ser levado mais adiante, já que o vinil parece estar ressurgindo das cinzas, talvez um pouco mais timidamente que a Fênix... Mas agora já é fato: o vinil voltou com tudo mesmo. Isto é, aqui no Brasil, pois na Europa ele nunca chegou a sair totalmente do mercado. Mas o número de apreciadores do vinil aumenta a cada dia por aqui, e não apenas entre os mais velhos como também entre os bem jovens. O disco de vinil tornou-se definitivamente algo cult e está em alta como há muito tempo não se via. Eu nunca abandonei meus long-plays e testemunhei o desprezo com que o vinil foi tratado nos últimos dez anos. Eu, ao contrário, nunca me defiz dos meus e nunca parei de comprá-los. Agora, quem diria, a mais nova moda é ouvir LP. Esse mundo dá voltas mesmo... Enquanto isso as vendas de CD continuam em declínio e as lojas desaparecendo.

Já os famosos "bolachões" não desapareceram, como muitos pensam. Só não estão estavam tão à vista como antes. Dado como morto pela indústria, banido das lojas (que pecado!) e há até pouco tempo apenas um traço nos índices de consumo musical, o vinil girou, girou e deu a volta por cima. Agora, prestes a completar 61 anos de vida, ele sobrevive nas prateleiras de colecionadores ao redor do mundo. Salvo da morte principalmente pelas mãos dos DJs, o vinil. Nada mal para um ícone musical de tempos passados que já estava se transformando em peça de museu.

Nascido em novembro de 1948 (seu criador foi Peter Goldmark), o disco de vinil acompanhou praticamente todos os grandes momentos da música pop - o surgimento dos Beatles, o fogo de Jimi Hendrix, a poesia de Bob Dylan, a contracultura, o psicodelismo, o punk rock, a discothèque etc. Mas com a chegada do CD (compact disc) nos anos 80, e sua posterior popularidade, ele foi sendo deixado de lado gradativamente. Para a indústria do disco, era assim que tinha que ser: o CD era mais prático, ocupava menos espaço, tinha uma excelente qualidade de reprodução, possibilitava um armazenamento maior de músicas e - a gota d'água - não arranhava! Num piscar de olhos, o vinil foi sendo empurrado para o canto das lojas e depois erradicado totalmente delas. Grandes cadeias, aqui e lá fora, simplesmente deixaram de comprar discos de vinil. Parecia o fim. Porém nem todas as pessoas se conformaram com essa morte anunciada. E foram os DJs e o público que os segue, os principais responsáveis pela salvação do vinil. (Não esqueçamos também os colecionadores de plantão e amantes do LP, como eu aqui).

Colecionar compact discs? Parece piada quando comparado a colecionar LPs. Lavar o disco, admirar sua capa como se fosse um pôster, evitar riscos, cuidar da vitrola, arrumar a agulha da vitrola, acertar o pitch, trocar de lado... Isso é que é hobby de verdade. Mesmo com todos os benefícios que a era digital proporcionou e da inegável praticidade de manuseio e armazenamento, nem o CD e nem o iPod proporcionam ao ouvinte o gostoso ritual de audição de um LP - costuma ser longo demais para ser escutado de uma só vez e não inclui o intervalo da troca de lados. Mais: a "bolachona" nunca vai oxidar. Quando tratada com carinho, vira um documento para o dono. "O vinil é uma coisa real" - disse o DJ Marky Mark - "Você pega, sente, tem contato direto. É como uma mulher".

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