
A curiosidade foi o ingrediente fundamental para lançá-lo no mundo jornalístico?
Eu tinha a paciência de estar com outras pessoas por muito tempo. Eu não estava sempre correndo para terminar algo, estava interessado em tomar tempo para entender as pessoas muito bem. Jornalistas estão sempre correndo e são impacientes com os outros. Jornalismo é motivado pelo furo. Acho isso ridículo. Para mim, o mais importante não é ser rápido, é ser correto, ser acurado. E também ser profundo e tentar entender bem o assunto sobre o qual você está escrevendo. Quando me formei, fui para Nova York e consegui o emprego no jornal como servente. No tempo livre, eu escrevia coisas e algumas entravam no jornal. Mais tarde, quando fui promovido a repórter, continuei. Andava por Nova York em busca dessas histórias que não eram grandes histórias, não estavam na primeira página, estavam lá no meio. Eram histórias de pessoas ordinárias que me contavam o que pensavam das coisas. Aos poucos, os artigos ficaram maiores, os desafios também e depois viraram livros, mas eram histórias sobre pessoas ordinárias. Sou um contador de histórias, e isso não é jornalismo nem literatura.
Seria este o futuro do jornalismo impresso, contar histórias que não estão nas primeiras páginas dos jornais e deixar para a internet as notícias?
Acho que essas são as histórias mais importantes de serem contadas porque as notícias da primeira página estão na internet e na televisão. Os jornais estão 24 horas atrasados. Sempre. O jornalismo não deveria estar interessado no furo. O jornalismo deveria se interessar pela literatura da realidade. Acho que esse é o futuro do jornalismo, porque acidentes de aviões, alguém baleado ou a morte de uma pessoa importante vão estar na internet, tevê ou rádio 10 minutos depois de acontecer. As pessoas não precisam ler jornais para saber das notícias. É um erro chamar jornais de newspapers, as notícias já estão velhas quando chegam aos jornais. O que é realmente interessante é a personalidade das pessoas que não parecem significativas, mas que refletem as notícias. Por exemplo, essa crise financeira. Há muitas histórias sobre como as pessoas estão sobrevivendo e os jornais deveriam escrever sobre elas. Na guerra do Afeganistão nada foi escrito sobre como as pessoas comuns vivem o talibã. O talibã controla as montanhas, invade o Paquistão, ok, mas ninguém escreve sobre como é ser um talibã. Tenho certeza de que é possível encontrar uma família talibã e escrever sobre como eles vêem o mundo. O problema é que os governos têm a postura de saber quem é o aliado, quem é o inimigo e não falar com o inimigo.