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24 maio 2025

Alguém Me Vigia (Someone's Watching Me!, 1978)

Telefilmesquecidos #96

Leigh Michaels (Lauren Hutton) é uma jovem diretora de TV que acaba de se mudar para Los Angeles, para trabalhar em uma emissora. Faz amigos no novo trabalho e conhece Paul Wilker (David Birney), um professor de Filosofia, com quem inicia um romance.

Leigh vai morar em um moderno apartamento de luxo, mas não demora muito para começar a receber telefonemas estranhos, presentes misteriosos e cartas falsas. Acaba deduzindo que alguém em um dos prédios vizinhos está observando cada um de seus movimentos e isso a apavora. Mas quem é essa pessoa e por que Leigh é o alvo? 




A premissa é bem hitchcockiana: uma mulher linda no luxuoso apartamento de um arranha-céu é atraída para um perigoso jogo de gato e rato com o voyeur predador que a espia do prédio em frente.

Ela pede ajuda às autoridades, mas a polícia a informa de que não há nada que possam fazer a menos que o tal stalker, de fato, apareça e a ataque.



É então que Leigh decide resolver o problema por conta própria e pede a ajuda de Sophie (Adrienne Barbeau), sua colega de trabalho, e de seu amigo Paul.



O elenco  é pequeno e funciona bem. Lauren Hutton, mais lembrada aqui no Brasil por filmes como Gigolô Americano (American Gigolo, 1980) e Procura-se Um Rapaz Virgem (Once Bitten, 1985) consegue transmitir as emoções da personagem, começando despreocupada e tornando-se cada vez mais paranoica e assustada. 


Adrienne Barbeau, como coadjuvante, está notável em um papel pouco usual (e até ousado) para um telefilme da década de 1970: uma mulher abertamente lésbica, cuja orientação sexual é naturalizada e nada estereotipada. 

Adrienne Barbeau e Charles Cyphers, presentes em Alguém Me Vigia, também trabalharam em A Bruma Assassina (The Fog, 1980), que John Carpenter lançou após Halloween

O diretor John Carpenter havia sido contratado pela Warner Bros. em 1976 para escrever um roteiro baseado na história real de uma mulher que foi espionada dentro de seu apartamento em Chicago. 



O projeto, originalmente escrito para o cinema, foi readequado para a televisão quando o canal NBC se ofereceu para financiá-lo. O roteiro, intitulado High Rise [arranha-céu], acabou se tornando Alguém Me Vigia, tornando-se a primeira experiência de John Carpenter na televisão.


As filmagens – durante as quais o diretor conheceu sua futura esposa, Adrienne Barbeau – levaram 18 dias (entre março e abril de 1978) e permitiram que Carpenter testasse muitas das técnicas que usaria quando começou a trabalhar em Halloween - A Noite do Terror, duas semanas depois. 

Mais tarde, o diretor disse estar "muito orgulhoso" do filme, embora não fosse uma de suas obras mais conhecidas. A partir de Halloween, Carpenter se consagraria como um dos diretores mais cultuados na década seguinte. (Halloween, no entanto, estreou nos cinemas um mês antes de Alguém Me Vigia estrear na TV americana).

Por mais de duas décadas, Alguém Me Vigia ficou mais conhecido como "o filme perdido de Carpenter", por não estar disponível em VHS em seu país de origem. Ao contrário de muitos países na Europa, onde o filme foi lançado em VHS, nunca houve um lançamento oficial em vídeo nos EUA. Aqui no Brasil, entretanto, foi lançado em VHS pela Warner em 1991. Só em 2007 o filme ganhou um lançamento em DVD e, em 2018, em Blu-ray.

A estreia na TV americana foi em 29 de novembro de 1978, na NBC. No Brasil, estreou na Globo em 22 de julho de 1979. Foi bastante reprisado ao longo da década de 1980.

09 maio 2025

Os Hatfields Contra os McCoys (The Hatfields and the McCoys, 1975)

Telefilmesquecidos #95

Uma disputa entre duas tradicionais famílias norte-americanas tornou-se parte do folclore dos EUA. Após o fim da Guerra Civil Americana, em fins do século 19, duas famílias do interior do país iniciam seu próprio conflito.


O rio Tug demarcava, simbolicamente, os “territórios” das famílias. Do lado da margem onde ficava o estado de Virgínia estavam os Hatfield, liderados pelo patriarca William Anderson Hatfield (Jack Palance), também conhecido como Devil Anse. 


Jack Palance

Steve Forrest

Do outro lado, onde ficava o estado de Kentucky, viviam os McCoy, capitaneados por Randolph McCoy (Steve Forrest), também conhecido como Randall McCoy. 


Cada um dos dois clãs alegava defender seus próprios códigos de honra e justiça. Mas a briga durou tantos anos que, no final das contas, havia se tornado uma espécie de “tradição”, qualquer que fosse a justificativa.


O site Aventuras na História explica a querela em detalhes, mas transcrevo aqui apenas o motivo inicial que fez com que os patriarcas dos clãs transformassem suas terras em campos de batalha:

As origens do famoso conflito datam do fim da Guerra Civil americana. Devil Anse, da família Hatfield, lutou no exército Confederado por dois anos, e mesmo depois da derrota, permaneceu determinado a defender a causa, o que o levou a entrar em uma milícia local também pertencente à Confederação. 

Já o irmão de Randall McCoy, chamado de Asa Harmon McCoy, servia à União, e foi dele o primeiro registro de morte relacionada às duas famílias. Isso porque, embora nunca tenha sido confirmado, havia grande suspeita de que Devil Anse e seus companheiros de milícia o mataram. (Ingredi Brunato)


O recurso utilizado neste modesto telefilme é o relato do repórter T. C. Crawford, que entrevistou Devil Anse, líder dos Hatfields, para um jornal de Nova York, em 1888. Seus relatos, inicialmente serializados no jornal, transformaram-se no livro An American Vendetta: A Story of Barbarism in the United States, publicado em 1889. É ele quem abre o filme com a seguinte narração: “Na divisa entre a Virgínia e o Kentucky, as lendas criaram raízes e se desenvolveram. Esta é a história de uma dessas lendas, baseada em fatos históricos e relatos. A luta sangrenta entre os Hatfields e os McCoys, que viviam em margens opostas do rio. Sou T. C. Crawford, repórter do New York World. Quando a famosa luta transcendeu seus limites, meu editor achou interessante um relato em primeira mão. Assim, fui à região montanhosa em busca das duas famílias e de suas histórias.”




Embora este telefilme seja muito curto para se aprofundar na complexidade de uma história como a das famílias Hatfield e McCoy, o elenco eficiente faz o que pode. Jack Palance (aqui no Brasil mais lembrado pelo programa Acredite Se Quiser), ótimo e sempre inconfundível, e Steve Forrest defendem bem seus protagonistas.




Também merecem menção Robert Carradine (interpretando Bob Hatfield) e Gerrit Graham (interpretando Calvin McCoy), apesar de quase não aparecerem. Carradine era figura fácil em seriados de TV entre as décadas de 1970 e 2000, além de inúmeros filmes para o cinema e a TV como A Vingança dos Nerds (Revenge of the Nerds, 1984) e Eu Vi o que Você Fez e Sei Quem Você é (I Saw What You Did, 1988).

Robert Carradine e Gerrit Graham

Graham, rosto familiar no cinema e na TV dos EUA, principalmente por filmes como O Fantasma do Paraíso (Phantom of the Paradise,1974), Carros Usados (Used Cars, 1980), A Visão do Terror (TerrorVision, 1986), A Reunião dos Alunos Loucos (National Lampoon's Class Reunion, 1982), A Garota dos Meus Sonhos (Soup for One, 1982) e Brinquedo Assassino 2 (Child's Play 2, 1990). 




O diretor Clyde Ware dirigiu poucos filmes, mas tinha um extenso currículo como roteirista de TV. Entre os episódios de vários seriados e filmes que escreveu, Todos Muito Estranhos (All the Kind Strangers, 1974) é um dos meus favoritos.

Apesar da história muito conhecida e do elenco competente, Os Hatfields Contra os McCoys é um telefilme bastante obscuro e há muito tempo esquecido. Até na Internet há poucas informações sobre ele.




A verdade é que, em meio a vinganças, arapucas, tiroteios, disputas judiciais e romances proibidos, a história da briga entre os Hatfields e os McCoys não fica devendo nada a nenhum filme de bangue-bangue. Não por acaso, inspirou várias produções para a TV e o cinema ao longo das décadas. 



O filme Roseanna McCoy (1949), dirigido por Irving Reis e estrelado por Farley Granger e Joan Evans baseava-se no livro homônimo de Alberta Hannum, publicado em 1947. A obra era um relato romantizado e semificcional da rivalidade entre as famílias Hatfield e McCoy.


Em 2012, a minissérie Hatfields & McCoys, estrelada por Kevin Costner e Bill Paxton e dirigida por Kevin Reynolds bateu recordes de audiência nos EUA, no canal a cabo History. (No Brasil, a minissérie estreou no canal pago Space, em 2013. Em 2015, foi exibida em nossa TV aberta, no SBT).

Também em 2012, a Lionsgate Films lançou, diretamente em DVD, o filme Hatfields e McCoys: Sangue Ruim (Hatfields & McCoys: Bad Blood), dirigido por Fred Olen Ray, com Christian Slater, Jeff Fahey e Perry King nos papéis principais.

Em 2013, Michael Mayer dirigiu o piloto para uma nova série Hatfields & McCoys, projeto de John Glenn e da atriz Charlize Theron para a NBC. No entanto, o projeto, que propunha contar a mesma história das duas famílias, mas situada nos dias atuais, foi totalmente descartado.




Os Hatfields Contra os McCoys estreou na TV americana em 15 de janeiro de 1975, na ABC. No Brasil, estreou em 16 de abril de 1977, na Globo.

O jornal O Globo (10 de abril de 1977) deu destaque à estreia do filme na Globo, na coluna Os filmes da semana, de Paulo Perdigão:

Os filmes da semana  Paulo Perdigão (O Globo, 10 de abril de 1977)

Na década de 1980, andou pelas redes Bandeirantes e Manchete, onde foi bastante reprisado. No começo dos anos 1990, foi parar na rede OM, onde continuou sendo reprisado.

Lançado em VHS nos EUA e outros países. No Brasil, saiu em VHS com o título Fronteiras de Sangue, pela Globo Vídeo.